Life

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Essa história tá chegando ao fim, foi planejada pra ser curta, porque quando comecei a escrever não estava muito bem, tava com a cabeça meio fora do lugar, exatamente como estou agora.

Espero que gostem do capítulo.




  Abby havia chegado ao hospital no último minuto, encontrando Cordelia a um passo de dar a luz, se tivesse chegado um pouco depois, teria apenas assinado o parto, sem de fato ter feito algo. A médica se posicionou e olhou para a pequena cabeça que surgia, depois voltou a olhar pra cima,  para Misty que segurava a mão de Cordelia e parecia mais aflita que a própria mulher em trabalho de parto.

  "Estou vendo a cabeça." disse e observou os rostos das mulheres se acenderem em esperança. "Cordelia, comece a empurrar."

  Cordelia sentia tudo à flor da pele, a dor era insuportável e cada instante a fazia questionar se aguentaria até o final. Sem anestesia, visto que tudo havia sido preparado e respeitado como em seu plano de parto escrevera, a bruxa sentiu tudo naturalmente, quando começou a empurrar e conforme o bebê saía, a dor aumentava, sendo mais doloroso a passagem dos ombros da criança, até o ponto em que pôde-se ouvir naquela sala de parto sua pele rasgar-se em uma pequena ruptura, assim Grace havia nascido e encontrava-se finalmente do lado de fora, não mais habitava uma casa flutuante onde podia fazer acrobacias. 

  Também a pedido de Cordelia, a filha fora colocada em cima de seu peito ainda com o cordão umbilical as ligando. E com suas mãozinhas minúsculas, Grace amaciava o rosto de Cordelia. 

  "Ela está amassando pãozinho no seu rosto." Misty comentou emocionada, bem ao lado delas tentando não chorar. Estava cansada demais para chorar, chutava que passava do meio-dia e apesar de não ter sido seu corpo a passar por intermináveis horas de trabalho de parto, esteve todo o tempo ao lado de Cordelia. Estava exausta, não tanto quanto Delia, mas estava.

  Abby viu-se obrigada a interromper o momento em família, devia cortar o cordão umbilical e preparar Cordelia para expelir a placenta. 
Quando tudo havia, de fato terminado, observou sua paciente cair em um sono profundo. Sentia orgulho por ambas. Grace nascera bem, com 3,5kg e 42 cm, apenas não chorou pois seu tempo de aprender a respirar sozinha fora devidamente respeitado.

  Algumas horas mais tarde, Cordelia pôde amamentar a filha pela primeira vez e lamentava não ter sido logo após o nascimento.

  "Esta tudo bem, amor. Sei que queria amamentar logo que ela nascesse, mas você acabou caindo no sono." Misty brincava com a mãozinha da bebê, que dividia sua distração entre isto e o seio que sugava da outra mãe. Grace tinha os olhos castanhos mais lindos e espertos que já vira, eram como os de Cordelia. "O hospital tem reservas de leite materno, ela foi alimentada quando sentiu fome, como está sendo agora."

  "Não exatamente como agora." Cordelia dificilmente deixaria isso passar. Apesar de seu plano de parto, nem tudo saiu como esperado e não ter amamentado logo foi a pequena e primeira frustração materna com que teve de lidar.

  "Amor, de agora em diante, sempre que ela sentir fome, é você que vai amamentar. Está tudo bem." soltou a mãozinha da filha, alisando o rosto da namorada. "saiu quase tudo como você queria."

  A anestesia que Cordelia havia rejeitado e depois quis de última hora, fazia parte do "quase" pois não lhe deram. Sim, ao que parece, errou em suas contas a respeito de frustração materna, a primeira havia sido esta.

  "Amor, você se importa se não tivermos mais filhos?" Cordelia lançou a pergunta, pegando Misty completamente desprevenida. Em seguida, voltou a sorrir para a bebê que sugava em seu seio esquerdo.

  "Por que está me perguntando isso, Delia?!" A bruxa do pântano parecia um pouco magoada e assombrada. Seu medo real girava em torno da possibilidade do parto ter sido somente traumatizante para a namorada.

  "Não é nada, só não sei se aguentaria passar por tudo de novo." confessou em voz baixa, olhando para a bebê que agora dormia em seus braços. Cordelia acreditava que a menina pudesse entender o que dizia, caso estivesse desperta e por isso não queria acordá-la. "Não me entenda mal, eu amo nossa filha e estou feliz por tê-la, só não sei se quero outra gestação." continuou no mesmo tom.

  "Está tudo bem, Grace aconteceu por acaso, não estava nos planos, não pra agora…" Misty coçou a cabeça, pensando bem em suas próximas palavras. Não queria ser mal interpretada. "Nós a amamos e vamos cuidar bem dela pelo resto de nossas vidas, é o que devemos fazer. E se você não quiser mais filhos, tem todo o direito."

  "Eu ainda não sei, talvez futuramente." sorriu, buscando o olhar profundo da namorada. "Acho que deveríamos ir com calma e aceitar o que o tempo nos reserva. Cuidar do nosso amor e de Grace, antes de pensarmos em mais filhos" 

  "Tudo bem, amor. Entendo como se sente." Misty entendera onde Cordelia queria chegar; mal haviam se envolvido e um bebê surgiu entre elas. Era claro que Grace fora motivo de muita alegria, porém, apesar disso, seu relacionamento ganhara a identidade de casamento, antes de ser.

  Misty beijou a testinha da filha adormecida e a colocou no bercinho ao lado da cama de Cordelia, que precisava de mais um tempo de descanso. A sós.
Rumando pelos corredores do hospital, sentindo-se meio perdida, a loira ajustou melhor o xale entorno de si com o frio súbito que sentira ao passar por um dos quartos, que tinha a porta aberta. 

  Curiosa, esticou o pescoço para olhar dentro; uma mulher de cabelos escuros chorava profundamente, com os fios presos em um coque mal feito, vestindo o avental cirúrgico azul. Abraçava as pernas como um consolo e as lágrimas iam se derramando em torrente. Misty entrou no quarto e pôde constatar o motivo das lágrimas da mulher, motivo que até então se mantivera oculto pois de onde estava não podia ver, a razão do frio sentido pela bruxa; ao lado da mulher, um pequeno berço hospitalar onde jazia um bebê imóvel e de pele roxeada, enrolado numa manta branca, somente o rostinho descoberto.

  Misty tocou no bebê e sentiu imediatamente um choque, era como se tocasse algo oco, tamanha ausência de vida dentro da pequena criatura imóvel e fria.

  "O que está fazendo?!" a mulher perguntou, zangada e tentando engolir as lágrimas. Sem sucesso. "Deixe-o aí, ele está morto desde que saiu de mim!" 

  A bruxa ignorou a ordem da mãe desesperada e pegou o bebê no colo, acolhendo-o materna, junto ao peito amparando a pequena cabeça. Já havia trazido à vida a mais morta das criaturas e até mesmo um garoto zumbi composto de pedaços diferentes de outros rapazes, feito a si mesma renascer das cinzas, então o que a impediria de soprar vida ao bebê em seus braços? Ela fechou os olhos,  concentrando-se e ignorando os pedidos da mãe para que devolvesse o bebê ao berço, permaneceu abraçada ao pequeno por alguns segundos, até começar a sentir o cheiro de vitalidade e o choro ser ouvido. Entregou a criança nos braços da mãe, que se manteve confusa e estática por um bom tempo, parecendo não acreditar que seu filho respirava. E tendo finalmente aceitado como realidade, ao levantar o rosto para um agradecimento, não mais encontrara a loira estranha por ali.

Magic babyOnde histórias criam vida. Descubra agora