Capítulo 16 - Gonçalves Company

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Lauren

Como se não bastasse investigar um Serial Killer, havia três dias trabalhando incansavelmente no Caso Gonçalves com Keana, a novata. A garota era aplicada, concentrada e extremamente profissional, o que me deixava levemente incomodada, admito que estava acostumada aos agentes arrastando uma asinha para mim. Keana, por sua vez, era simpática e nossa convivência fluía bem, mas não passava do trabalho.

Estávamos desde cedo debruçadas sobre as evidências. Ela havia rastreado todos os caminhos financeiros do suspeito, mas ainda faltava uma via, um elo perdido que não conectava as evidências. Precisaríamos de um trabalho de campo.

— Keana, vamos ter que dar uma olhadinha nas acomodações do Sr. Gonçalves. Já tenho a autorização judicial em mãos, estou pronta quando você estiver.

Prontamente ela se levantou da cadeira, ajeitando sua arma no coldre axilar. Não pude evitar de sorrir, nunca vi alguém tão proativo, na verdade, eu era exatamente assim nos meus primeiros anos como agente. Ela me sorriu de volta, mas logo liderou a frente em retirada. Chequei seus lindos cabelos, descendo o olhar até sua comissão traseira, era nitidamente uma mulher que cuidava de seu corpo.

Fora de minha sala, recobrei meu profissionalismo e pedi para que ela aguardasse enquanto eu chamava Lucas. Ele estava sentado em sua mesa, debruçado sobre os documentos da última vítima do Serial Killer.

— Ei, levanta, vamos passear — Disse animadamente.

Desde da minha transa fenomenal com Camila eu estava extremamente contente. Infelizmente, não a via há alguns dias, já que voltou para sua casa, devidamente recuperada. Mas quase todos os dias trocávamos mensagens, sempre envolvendo uma conotação sexual escondida pelas entrelinhas, e devo admitir, estava animando minha semana.

Arremessei uma bolinha de papel no meu amigo e ele nem se moveu, continuou a encarar os arquivos em suas mãos.

— Algo novo? — Me aproximei, ficando a suas costas.

— Não — Ele respondeu sem levantar a cabeça para me olhar, parecia um tanto aéreo.

Arrastei a cadeira que estava em frente à sua mesa para me sentar ao seu lado. Ele ainda observava a foto da garota morta.

— Tudo bem aí? — Repousei minha mão em sua perna, lhe chamando atenção.

Ele suspendeu seus olhos, fixando-os aos meus. Seus olhos castanhos sempre tão claros agora estavam, escuros, melancólicos.

— Ela é tão jovem, Laur. 16 anos! Olhe para essas fotos, que tipo de monstro faria isso? — Ele apontava para as fotos da garota sadicamente posicionada em frente a academia em que foi encontrada.

Fitei a fotografia brevemente e desviei meu olhar. Não suportava mais ver tantas garotas banalizadas assim, assassinadas a sangue frio e expostas para que todos aplaudissem esse trabalho doentio.

— Eu não sei o que dizer, Lucas. Ou melhor, eu não sei o que fazer! — Abaixei minha voz para que nenhum dos agentes ouvissem meu desabafo — Não temos uma digital, um fio de cabelo, gotas de sangue, não sabemos nem se é homem ou mulher, não temos nada!

Me levantei, tomando os documentos de sua mão para guarda-los na pasta amarela com certa brutalidade. Ele percebeu minha mudança de humor, se pôs de pé e me segurou pelos ombros, ainda mantendo seus olhos fixos aos meus.

— Não por muito tempo, vamos resolver isso. Como sempre, certo?

Apenas afirmei, agora mais calma. Lhe entreguei a pasta com os arquivos devidamente guardados. Ele colocou dentro da gaveta de sua escrivaninha, capturou seu distintivo e verificou a pistola no coldre em sua cintura, já direcionando seus passos para saída onde estava Keana.

Colecionando CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora