Conto VI - Ida ao Abismo

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Adolf Hoffmann era um experiente e conceituado médico psiquiatrico na cidade de Cochem, Alemanha. Adolf era casado com Mayla Hoffmann e juntos deram a vida ao jovem Joseph.

Joseph nunca foi um adolescente normal. Desde muito novo apresentava sinais de compulsão e comportamento agressivo, bipolaridade, ansiedade, era isolado do mundo e vivia em seu própio mundo de jogos eletronicos. Seus pais sempre o tratou com os melhores médicos da região, Adolf tambem buscava usar seu conhecimento para auxiliar no que podia, mas as coisas começaram a ficar séria quando Joseph começou a se mutilar, e alegar estar vendo "ele" todos os dias quando tentava sair pela porta principal de sua casa.

As coisas estavam sérias, e seus pais decidiram leva-lo ao hospital psiquiatrico mais próximo, cujo Adolf atuava. A família em comunhão com a equipe médica optaram por interna-lo durante uma quinzena para melhor avaliação comportamental e psíquica, e claro, Adolf estaria a par de tudo. Mas engano de quem acreditou que seria o melhor para Joseph...

Todos os dias a noite, após a medicação, Adolf ia visita-lo e Joseph sempre dizia: "Ele ainda está aqui". Seu pai pediu-lhe para que tentasse dizer o que era "ele", mas tal pergunta mexia ainda mais com Joseph, que sempre se contorcia de desespero, se batia, se mordia... Adolf tentava segura-lo e tambem acabava sendo agredido. 

E assim se passaram dez dias de estudos sobre Joseph (que neste ponto apenas sabia dizer "ele ainda está aqui"), remédios pareciam não fazer efeito, terapias de todos os tipos foram testadas. Adolf sendo muito influente ligou para os melhores médicos do país... mas nada adiantou, a angústia só aumentava na família. 

Até que no 11º dia as 22h , ao sair do quarto Joseph gritou:

- Não saia!

Adolf parou a mão na maçaneta da porta e não girou... Aquilo supreendeu o pai, que estava ouvindo duas palavras diferentes de seu filho além de "Ele ainda está aqui". Com os olhos arregalados virou-se e questionou:

- Por que filho?

- Ele está do lado de fora. - Disse o filho, lentamente abraçando os joelhos.

- Ele quem? - Indagou o pai abrindo a maçaneta e puxando lentamente a porta para dentro.

Joseph não disse nada. Adolf abriu lentamente e quando pos o pé direto para fora do quarto... Tudo se apagou! Não havia um ponto de luz, um flash... nehuma cor, apenas escuridão total. O pai deu meia volta e fechou a porta e as luzes se acenderam. Olhou para seu filho ali parado em estado de choque, franziu o cenho, olhou bem para a maçaneta e abriu a porta novamente. As luzes se apagaram. Fechou novamente e disse: 

- Okay, o que está acontecendo aqui? Quem está aí? Se for algum tipo de brincadeira não há a menor graça! - Disse o pai em alto e bom tom.

Um vaso ao lado de Joseph caiu, quebrando-se e fazendo muito barulho.

Irritado Adolf abriu a porta repentinamente e saiu do quarto! Joseph gritou.

Estava frio, escuro e Adolf não via um palmo a sua frente... Colocou a mão direita na parede e foi se orientando pelo caminho já conhecido. Lembrou-se que tinha um isqueiro no bolso e tentou acender, mas sentiu um leve sopro gélido apagar a chama. Tentou por diversas vezes e culpou de estar sem gás para acender. Continuou a caminhada a cegas pelo imenso corredor, apenas tateando a parede e com passos firmes, volta e meia passava mão por uma porta de madeira, volta e meia ouvia gritos e gemidos de dor. Aquilo lhe causava calafrios. Chegou ao fim! esbarrou com o nariz em uma parede que em sua memória não estava ali, parou por um momento e tateou ao redor de si para se reorientar, notou que estava fazendo uma curva para a esquerda, e com passos cautelosos pode perceber que havia uma escada abaixo. "Deve haver algum interruptor por aqui" - pensou. Tateou a parede de cima à baixo mas nada havia. Teve a sensação de ter tocado algo frio. 

Desceu as escadas que faziam um formato de caracol, pode sentir o gelado corrimão na mão esquerda. Quando repentinamente outra mão se pôs em cima a dele. Retirou sua mão com força e susto. 

- Quem está ai? - Disse com firmeza, mas precavido. E ouviu apenas o silêncio.

Acelerou os passos e a escadria acabou. Ali era possivel notar algum tipo de saguão mas não se comparava ao hospital que estava. Adolf começava a perceber que estava em outro lugar quando as luzes se acenderam: Viu um saaguão semelhante aos antigos hospitais, sujo, móveis quebrados, um lugar abandonado. No balcão uma figura feminina, loira e de cabelos longos estava de costas. Questionou:

- Boa noite! Aonde estou?

Lentamente,  a mulher do balcão virou seu pescoço, apenas o pescoço... barulhos de ossos e nervos quebrando zuniram o ouvido de Adolf. Quando ele olhou diretamente para o rosto dela, viu apenas veias negras e saltadas, olhos pretos, sangrando e um sorriso maléfico, com muitos dentes ponteagudos. Adolf deu um salto para trás, caiu sentado e tampou e limpou os olhos para ter certza do que vira. Quando tirou as mão ela não estava mais naquele balcão. Se levantou para correr dalí, mas quando deu o primeiro passo para a direita em direçao à porta que parecia ser a entrada, ela apareceu em sua frente:

- Seja bem vindo, querido -  Disse a mulher com a mesma voz de sua esposa Mayla.

Adolf a empurrou e continou correndo até seu alvo. Abriu a grande porta dulpa e o que viu o deixou ainda mais confuso: Era a mesma cidade que morava, mas estava tomada por eucaliptos gigantes, uma noite que parecia ser eterna e não dava para ver muita coisa. O frio estava machucando seus ossos. Correu sem saber para onde ir. Durante o trajeto ouvia gritos, vozes, ouvia seu filho chorando. Por varias vezes pensou estar sonhando, ou então estava criando isso em sua mente. Mas algo o trouxe para si, e pode sentir que era realidade: Olhou para seu antibraço e estava sangrando, havia se cortado com a "moça da recepção".

- CUIDADO ELE ESTÁ DO SEU LADO! - Era a voz de Joseph.

Adolf olhou para a direita, e quando se voltou a esquerda... Ele estava ali! braços longos, três dedos, tinha a altura de um homem adulto, estava levemente encurvado para frente. Em seu rosto não havia olhos, apenas dois buracos no lugar das narinas, e uma boca costurada. Seu corpo era semelhante a de um animal selvagem de caça. A criatura fez um barulho que jamais ouvira: Uma espécie de grito sufocado e travado. Adolf tentou correr mas cabaleou e caiu.

A criatura veio por cima dele e colocou dois dedos em seus olhos, e outro em sua boca. Adolf ficou paralizado, não sentia dor... apenas agonia. Se contorcia, se batia no chão como se estivesse com um ataque convulsivo. A agonia dentro de seu peito parecia só aumentar. A criatura aumentava de tamanho a cada segundo, ela estava sugando sua alma, estava matando Adolf. O cheiro de morte tomava conta do ambiente. A criatura largou o que agora era apenas um corpo, branco, gelado, duro e sem vida.

A policia encontrou o corpo de Adolf abandonado, no mesmo estado a alguns metros do hospital em que seu filho estava internado. Nunca se soube o motivo da morte. Ao interrogarem Joseph ele dizia:

- Meu pai conheceu o Vale do Abismo.

Nunca deram valor as palavras de Joseph Hoffmann, e caso foi arquivado.






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