Bruno...
- Olha, se você veio aqui para brigar ou gritar me acusando de tentar sequestrar sua filha, eu estou muito cansada para...
- Não~ fiz sinal com as mãos de forma frenética~ Eu vim me desculpar pela minha grosseria, você só estava sendo uma boa pessoa amamentando minha filha. Também acabei descontando minha dor em alguém que já estava mais ferida quê eu.~ só quando terminei minha fala me lembrei do pedido da moça da recepção. Não tocar em assuntos dolorosos. Eu queria me dar um beliscão~
- Vejo que toda à ala hospitalar já deve saber da minha falta de sorte. Olha, eu agradeço suas palavras mas se fez isso movido por dó, eu serei obrigada à recusá-las. Eu não suporto os olhares pesarosos sobre meu rosto...
- Não. Eu já iria vir aqui antes de me contarem, quer dizer, antes de eu saber... Ai meu Deus, não era para te contar que me contaram.~ eu disse em um pequeno surto de nervosismo que ocasionalmente, retirou um sorriso daquele rosto que parecia algo celestial de tão perfeito. Acabei rindo de sua reação me vendo nervoso~
- Que tal nós começarmos novamente?~ ela propôs~
- Eu aceito.
- Então, chegue mais perto da cama para eu te comprimentar.
- Você deixa estranhos entrarem no seu quarto?~ eu disse risonho~
- Na verdade, não, mas teve uma vez que eu precisei abrir uma exceção para um cara que entrou no meu quarto sem ser convidado.~ ela disse rindo~
- Talvez ele estivesse perdido, em todos os sentidos da palavra.~ eu disse~ Enfim. Quem começa?
- Que tal, você?~ ela gesticulou com a mão direita~
- Bom, eu não sei por onde começar~ eu disse sincero esfregando minhas mãos uma na outra~ Você quer saber do quê exatamente? Meu nome, sobrenome, emprego?
- Quero saber tudo o que você estiver disposto à me contar.~ ela foi sincera~
- Até às cicatrizes?~ eu disse suspirando~
- Bom. Cicatrizes são partes de quem somos, do quê fizemos, do quê tentamos, se não tivéssemos elas, não teríamos história.
- Uau. Você é psicóloga?~ eu perguntei e ela negou com a cabeça~
- Sou fisioterapeuta. Se eu fosse psicóloga, você já teria um horário agendado desde aquele episódio no quarto.~ ela disse sorrindo~ Sem ofensas, claro.
- Tudo bem, não me ofendeu.
- Por quê não tenta uma sessão?~ ela sugeriu~
- Eu acho que não.~ eu disse relutante~
- Você tem medo do quê, exatamente? De você, de compartilhar seus sentimentos com uma "estranha"?~ ela disse fazendo aspas com os dedos~
- Acho que eu tenho medo do quê a minha mente é capaz de criar. De descobrir que estou enlouquecendo dentro da minha própria mente.~ eu fui sincero~
- Ter medo é bom...~ ela fez uma pausa, esperando eu dizer meu nome~
- Bruno.~ eu disse à olhando~
- Como eu ia dizendo: Ter medo é bom, Bruno. Faz a gente sair da caverna, nos torna humanos. O medo é tão natural ao ser humano, quanto o amor. Às pessoas deveriam parar de achar que o medo às tornam inferiores ou mais fracas. O medo é produto da coragem, ninguém teria medo se não tentasse e não se machucasse.
- Tem certeza que você não é psicóloga mesmo?~ eu inquiri ela~
- Na verdade, eu sou sim. Planejamos esse momento para você vir na terapia. Brincadeira~ ela disse rindo~
- Como pode alguém tão machucada, tentar remendar outra pessoa machucada?~ eu perguntei mais para mim mesmo do quê para ela~
- Nós só conseguimos nos curar quando consertamos o outro, Bruno. Nunca consegui ser indiferente à dor alheia. E talvez, isso me mantenha viva e consciente. Se eu fosse indiferente, certamente, nunca conseguiria seguir em frente.
- Você parece saber de todas às minhas fragilidades, isso é, estranho.
- É que me fofocaram sobre sua vida.~ ela gargalhou e eu fiquei sério~ É brincadeira.
- Enfim, moça que parece psicóloga, como se chama?
- Me chamo Bárbara, prazer em te conhecer.~ ela disse esticando sua mão direita~
- Bruno, o prazer é meu.~ assim que nossas mãos se encontraram senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo. De alguma forma, eu sabia que aquele encontro não era acaso. Eu senti aquela sensação quando encostei na mão dela, a mesma sensação de quando beijei Laura no parque do Ibirapuera pela primeira vez. Aquela mulher, ela tinha algo familiar comigo, além das perdas que eram similares. Eu sentia no meu íntimo que aquele encontro não seria o único, nem o último~
VOCÊ ESTÁ LENDO
Redenção- Bruno Rezende
Romance"Ás vezes o mais difícil não é esquecer mas, em vez disso, aprender a recomeçar. Às vezes não há palavras nem citações inteligentes para resumir o que houve durante o dia. Às vezes você faz tudo certo, tudo exatamente certo e ainda sente que falhou...