01_ Paquita do diabo.

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 Mandy Castiglioni

05:59

Finalmente o Inferno acaba.

Eu odeio acordar cedo, na verdade, eu odeio existir, mas hoje é o meu grande dia.

Finalmente não vou precisar me preucupar em ver aquela paquita do diabo todas as manhãs quando acordo.

Rapidamente levantei da cama para sair do meu quarto, mas fui impedida quando minha pressão deu uma caída, me fazendo cair na cama de novo.

- Oh merda! -  Me levantei de novo e saí do meu quanto, indo direto para a cozinha tomar um café rápido para sair de casa.

- Acordou cedo hein. - A voz do meu pai ecoou pelos ouvidos me causando um aperto no peito só de me lembrar que vou embora daqui e vou deixá-lo, ainda mais deixar ele aqui com aquela loira de Chernobyl da minha madrasta.

Meu pai sempre foi meu tudo. Mesmo trabalhando horas e horas na empresa dele, sempre arrumava um tempo do seu dia para passar comigo, desde dos meus 3 anos sempre fomos eu e ele.

- Bom dia pai. - O abracei depositando um beijo na sua bochecha. - O senhor não acordou cedo demais? O senhor só vai às 8 trabalhar.

- Hoje vai ser diferente filha. - Falou. -  Não é todo dia que uma filha saí da casa do pai para seguir a vida. - Seu tom parecia emocionado.

Eu sei que ele não estava preparado para isso. Confesso que também não estava, me despedir das pessoas que amo não era algo que eu tinha costume, até porque todas se foram sem dizer adeus.

- Eu sei que despedidas não é nosso forte, mas deixe-me te acompanhar até sua nova casa, quero ter certeza que você chegará segura. - Ele me olhou com carinho com um sorriso muito simpático no rosto.  

Sorri para o mesmo assentindo.

- Amor, você acordou cedo e... Bom dia querida. - A voz de esquilo com derrame da minha madrasta apareceu na cozinha me fazendo revirar os olhos no momento que ela me chamou de querida.

Por eu ser muito nova na época, não sei dizer se meu pai sofreu pela partida da minha "mãe", mas lembro perfeitamente quando ele me apresentou Candelaria há alguns anos atrás, na hora que ele me apresentou ela, meu santo não bateu.

Eu evitava ao máximo ficar perto dela, mas ela insistia em se aproximar. Ou ela é chata demais ou eu que sou imatura demais. Eu confio na primeira opção.

- Pra você é só dia mesmo, vou te esperar no carro pai.

- Filha. - Meu pai chamou minha atenção mas ele sabia que não tinha jeito, eu não gosto dela e ponto final.

- Não se precupa amoreco, eu já me acostumei. Adeus florzinha, se cuida. - Ela gritou fazendo meu sangue ferver. Ela amava me provocar mas hoje não vou retrucar, é um ótimo dia e eu não devo me estressar.

[...]

- Ôh caralho, tem como andar mais rápido? Até o Bolsonaro de quatro anda mais rápido. - Gritei pela janela tentando apressar um cara que parecia uma lesma com câimbra atravessando a rua.

- Mandy, calma, já estamos chegando. - Respondeu meu pai tranquilamente com suas duas mãos no volante.

[...]

- Acho que já posso dizer adeus. - Disse meu pai emocionado.

- Pai, não é um adeus, eu ainda vou te ver várias vezes, com pouca frequência, mas ainda vamos nos ver. - Tentei tranquilizá-lo com um abraço. - Dormiu bem? - Ele afirmou com a cabeça.

Como ele é um "pouco" protetor, ele decidiu dormir aqui para ver se eu ficaria bem.

- Estou tão orgulhoso de você Mandy. - Ele limpou suas lágrimas e sorriu. - Agora chegou minha hora, até filha.

Antes de sair, ele me deu um abraço inesperado por minha parte, mesmo assim retribuir. - Não esqueça aquilo que conversamos sobre sua facul...

- Outra hora conversamos sobre isso pai, eu prometo. - O interrompi antes de terminar a frase.

Ele se despediu e saiu do meu apartamento.

Comecei observar cada canto da minha nova casa com mais atenção. Do lado esquerdo, havia a sala com um sofá grande com mais duas poltronas ao lado, um armário com uma tv, um pouco mais para a esquerda, tinha uma janela imensa que ocupava quase uma parede inteira.

Do lado direito, tinha a cozinha. Ela era aberta, a única coisa que divia ela do restante da casa era um balcão de mármore preto. Logo no meio, tinha um corredor, que levava para o banheiro, um quarto de hóspedes e meu quarto.

O banheiro era algo simples, todo trabalhado no preto e branco. O quarto de hóspedes havia somente uma cama e um armário.

Meu quarto era a parte mais incrível da casa, junto com a cozinha é claro. Tinha uma cama gigante de casal só para mim, um armário com um grande espelho na frente dele, que ficavam na frente da minha cama.

Não pensei duas vezes antes de me jogar na cama e começar a rir igual uma doida.

- Isso é o verdadeiro paraíso! - Falei para mim mesma.

Olhei para meu celular e vi que já eram 12:56.

Tô com fome.

Fui até a cozinha procurar algo para comer, Vou fazer miojo. - Pensei.

Não tem.

- Nada de estresse Mandy, nada de estresse. - Sorri indo  pagar minhas chaves e minha carteira para ir no mercado.

[...]

Chokito.

É uma tradição minha. Toda vez que eu vou no mercado, eu tenho que comprar esse chocolate. O meu favorito para ser específica.

Peguei um cestinho ali perto e dentro dele coloquei meu miojo, duas latinhas de refrigerante, um pacote de salgadinhos e 5 chokitos.

- O tempo passa e os gostos não mudam dragãozinho. - Essa voz... Esse apelido que somente uma pessoa me chamava assim ecoou pelos meus ouvidos sentido como se tivessem atirado em meu peito.

Assim que me virei, meu coração começou bater mais rápido que o normal, minhas mãos ficaram frias e meu corpo não estava reagindo ao ver aquela pessoa. Essa pessoa que sumiu da minha vida sem dar explicações, sem me dar um adeus.

Eu não conseguia me mexer.

Não é possível ser ele. Eu esperei durante 9 anos para ele e seu irmão voltarem para mim mas isso nunca aconteceu.

Isso é um sonho ou pesadelo?

Meu melhor amigo está de volta?

- Mandy sou eu, Luke, seu melhor amigo!

Continua...

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