02_ Gótica?

95 11 15
                                    

Mandy Castiglioni

Raiva? Sinto.

Tristeza? Sinto.

Felicidade por encontrar meu melhor amigo depois de anos? Também sinto.

Me sentia incapaz de me mover, meu corpo só reagiu ao sentir seu abraço apertado que não sentia há nove anos.

- Eu senti tanto a sua falta dragãozinho. - Sussurrou em meu ouvido, aquecendo meu coração.

- Também senti seu idiota. - Respondi o apertando com toda força que eu tinha e com minhas lágrimas molhando minhas bochechas.

Caindo na minha realidade, limpei minhas lágrimas e o empurrei para longe. Nesse momento, a raiva falou mais alto dentro de mim, uma parte sentia aquele sentimento de abandono.

- Onde você estava? Por que não ligou? Por que vocês foram embora sem dar um único adeus? - Com essas perguntas, senti meu corpo queimar por completo. Seu olhar estava confuso e cheio de tristeza ao mesmo tempo.

As pessoas passavam por nós com o olhar de Que merda tá acontecendo? Mas eu estava mais preucupada com as explicações dele do que os olhares julgadores dos desconhecidos do mercado.

- Eu posso explicar tudo o que quiser, mas primeiro você tem que se acalmar Man...

- Eu estou com fome, é óbvio que eu não estou calma! - Ele deu um sorriso divertido com minha afirmação, enquanto pegava a cesta que eu deixei cair no chão.

[...]

- Aquele prédio da frente. - Apontou com a mão direta que estava a sacola com um pacote de miojo, meu chocolate e meus refrigerantes enquanto caminhávamos.

Ele não queria deixar eu levar minhas besteiras porque fazia ma...

Espera...

- Não acredito! Eu moro no prédio da frente!

- Eu sei, quando saí de manhã, encontrei seu pai aqui de frente, conheci de longe e fui cumprimentar, ele me falou que você veio morar aqui e não pensei duas vezes antes de correr pro seu apartamento, falei com o porteiro e o mesmo falou que a gótica tinha ido no mercado.

- Gótica? Que abusado! - Exclamei idignada.

Ele riu se divertindo da minha irritação. - Tenho que concordar com ele, você não aparenta usar mais aquele vestidinho azul que se furou no meio da aula, deixando sua calcinha da moranguinho de fora.

- Eu vou te matar aqui no meio da rua se você me lembrar daquele dia mais uma vez. - Falei furiosa entre os dentes e ele deu risada.

Caminhamos em silêncio enquanto entrávamos no hall de entrada do prédio que era muito bonito, todo trabalhado no branco, com detalhes em madeira e plantas.

- Pode perguntar agora. - Disse assim que entramos no elevador.

- Perguntar o que? - Fiz a Kátia quando ele falou isso.

- Eu nunca esqueci seus costumes Mandy, quando começa olhar para os lados e balançar o pé, é porque você quer perguntar algo. - Droga! Ele me conhece tão bem!

- Eu tenho miralhes de perguntas Luke, quer fazer uma roleta para saber qual responder primeiro? - Brinquei fazendo o mesmo soltar um risada fraca.

- Vou te responder todas, assim que eu preparar o almoço para a gente. - Sorriu gentilmente.

[...]

- Sua janela fica de frente para meu quarto, você terá o privilégio de ver eu dormindo. - Gritei para ele me escutar lá da cozinha.

- Vai ser a visão mais linda da minha vida. - Gritou. - Uma miniatura de dragão, de boca aberta babando no travesseiro!

Andei pisando fundo até a cozinha para encará-lo.

- Eu não sou baixa, você que cresceu demais. - Argumentei. Ele se aproximou e eu percebi que estava na altura do seu peitoral, ao ver essa situação ele apenas riu.

Sentei do outro lado do balcão observando ele cozinhar.

Ele tinha mudado. Quando eramos crianças, ele era baixinho magrinho e com cabelo de tigela. Já eu, era alta e magra do nariz empinado o que me fazia passar por algumas situações entre outras pirralhas. " Você é muito alta" " Você parece um poste ambulante" no final todas terminavam com olho roxo e eu com uma advertência ou uma suspensão.

Luke está alto e cheio de massa nos braços, seu cabelo havia escurecido para um tom castanho escuro bem cortado, seus olhos claros ficaram bem mais visíveis e sua boca sempre foi avermelhada igual um morango.

Eu, continuo magra porém mais encorpada, meu cabelo que ia até a cintura, agora está na altura do meu peito, deixei de usar vestidos e calças coloridas, meu armário está cheio de regatas e camisas de cores sólidas escuras, calças e jaquetas pretas.

Acho que entendo o termo do porteiro mas ainda acho um abusado.

Fiquei apenas apreciando ele cozinhar sua macarronada.

- Luke? - O chamei fazendo o mesmo se virar. - Cadê a tia Jenna?

- Tá curtindo a vida em uma casa que comprou lá na França, falo com ela todo final de semana, vou te levar lá nas férias, ela vivia dizendo que morria de saudades de você. - Respondeu com carinho enquanto fechava as panelas, que estavam com um cheiro muito bom.

- Sinto falta das nossas conversas. - Sorri me lembrando. Ela é como a mãe que eu nunca tive.

- Nós três sentimos muito sua falta, não vejo a hora quando eles souberem que te encontrei! - Disse animado.

- Falando nisso... Cadê ele? - Perguntei.

Antes que ele pudesse responder, ouvimos um barulho forte vindo da sala.

- Você vai ver ago...

- Manoo, tô com a Mar...Barba...Kate lá no meu apê, não me espere pro almoço. - Uma voz grossa gritou do outro lado da porta.

Senti meu coração e minha garganta darem um nó na mesma hora, era o...

- Era ele sim. - Respondeu minha pergunta que estava com medo da resposta.

[...]

- Jupiter chamando Mandy. - Luke passou sua mão na minha frente me tirando dos pensamentos. - Você não está bem né? - Ele segurou minha mão com carinho.

- Não é isso Luke é que... - Eu dei uma pausa na hora de terminar a frase. - Faz tanto tempo, meio que é estranho, sei lá.

Ele ficou alguns minutos em silêncio.

- Ele mudou muito Mandy. - Falou depois de um tempo. - Ele não é mas aquela pessoa carinhosa de antes, isso mudou desde que nos mudamos pra cá. Eu acho que vocês precisam conversar.

Me levantei do sofá. - Acho melhor eu ir, tá tarde e eu tenho um golfinho para alimentar. - Menti com as palavras emboladas, assim que girei a maçaneta, Luke segurou meu braço gentilmente me virando para encará-lo.

- Você cresceu mas ainda não sabe mentir. - Ele disse abrindo um sorriso.

- Na verdade, eu tenho uma loba para alimentar, até mais lindo. - Falei girando a maçaneta e andei até a porta do elevador que ficava em um canto afastado do sua casa.

Depois de uns 5 minutos parada esperando, finalmente o elevador abriu.

Assim que entrei e cliquei no botão de fechar, ouvir passos correndo super rápido.

- Segura! - Gritou uma voz fininha muito irritante. Entrou uma mulher com um vestido roxo todo amassado e saltos da mesma cor em suas mãos, seus cabelos de cor de água de salsicha estavam todos engrenhados. - Obrigadinha linda. - Me dei o trabalho de apenas acenar com a cabeça e apertar o botão. Só depois de uns 40 segundos o elevador começou fechar.

- Mandy! - Assim que as portas se fecharam, ouvi a mesma voz grossa arrastada me chamando.

Continua...

Nada é Real.Onde histórias criam vida. Descubra agora