O babá

Com outros olhos

Levei Julie até o carro e seguimos pra minha casa, que não ficava tão longe assim da boate.

Chegando la tirei ela do carro e entrei fazendo menor barulho possível, afinal meus pais não sabem que sou, bem, babá.

- Olha Julie vou te deixar aqui na cama e vou tomar um banho rápido. Não sai dai! - Disse e ela balançou a cabeça em confirmação.

Ela estava quieta e muito pensativa, acho que deve ser aquele arrombado do pai dela. 

Como alguém que pode ter Emma e Julie pra você joga isso fora?! Vai entender. Essas pessoas realmente não dão valor em nada. Porque poha é a EMMA!!!!

 Fui logo pro banheiro tomando uma banho rápido, não queria deixar Julie sozinha, ela pode estar amuada mas continua sendo a chaveirinho pestinha de sempre.

 Sai do banheiro e o quarto estava todo quieto, Julie não estava na cama. Ai meu Deus. Coloquei a mão na cabeça ja me desesperando, mas logo vi uma pequena sombra no canto da escrivaninha. 

Era ela.

Julie estava chorando baixinho no canto.

Meu coração se despedaçou e um nó grande veio a minha garganta.

Vê-la ali tão vulnerável mexeu comigo, afinal ela  é apenas uma criança e apesar dela ser uma pestinha eu gosto dela, mais do que deveria. 

Fui até ela e me abaixei cautelosamente.

-Ei, chaveirinho. O que foi hein?

-Não quero conversar com você. - Ela disse soluçando.

Me aproximei dela cautelosamente e a peguei, aninhando a mesma no meu colo.

-Sabe, acho que nos ja estamos num grau de amizade bem avançado, você pode falar comigo - Disse pra ela.

Ela me olhou, seus olhinhos brilhavam por conta das lagrimas.

-Eu não tenho mais papai. - Disse e escorreu uma lagrima. Meu coração se apertou e eu a abracei.

-Não diga isso, ele gosta de você - Disse isso para confortá-la, mas minha vontade era de sair xingando o mesmo de inúmeros nomes. Ela balançou a cabeça em negação e logo foi caindo no sono. 

Fiquei a olhando e coloquei a mesma na cama, vendo seus pequenos soluços sofridos saírem enquanto dormia.

-Eu poderia ser seu papai se quisesse - Sussurrei bem baixinho, sabendo que a mesma não ouviria. 

Deitei ao seu lado e rapidamente apaguei.

(...)

Acordei com a claridade em meus olhos. Me sentei na cama vendo que Julie não estava mais dormindo. Dei um pulo e fui ao banheiro procurá-la, mas sem sucesso. Sai do quarto e desci rapidamente indo ate a cozinha onde tinha uma Julie comendo toda concentrada e meus pais a olhando como se fosse um E.T.

-Julie! - Disse alto e todos me olharam 

-Justin, me diga que essa menina não é sua filha.. - Disse meu pai e bufei

-Não, é  meu emprego - Ele me olhou confuso e eu peguei chaveirinho no colo a levando de volta pro quarto.

Coloquei-a na cama e a mesma resmungava.

-Poxa, eu tava com fome. - Disse ela

-Não quero saber - Disse e ela ja me olhava feio - Vem, vamos dar um volta, se eu ficar aqui vai ser um inferno. 

Fui ao banheiro e fiz minha higiene, sai do banheiro e encontrei uma Julie toda descabelada.

-Vamos - Peguei na sua mão e saimos.

(...)

Estávamos sentados numa praça, olhando pro grande lago a nossa frente quando Julie se pronunciou.

-Eu ouvi o que disse ontem - A olhei confuso e ela logo continuou - De que poderia ser meu papai 

Engoli a seco.

-E??

-Você é melhor que o Conor - Ela deu um sorrisinho 

-Você acha isso legal?

-Eu não sei, so queria ter um papai igual minhas amigas. - Disse e abaixou a cabeça.

-Sabe Julie, ser pai é uma grande responsabilidade que eu n ão sei se estou pronta pra tê-la - Ela me olhou decepcionada - Mas eu posso tentar, por que você sabe, eu não sei muitas coisas sobre isso. - Disse e ela me deu um abraço apertado

-Eu entendo, mas ja vou ficar feliz se você tentar - Sorriu

Julie me assustava muito com esses pensamentos de uma adulta.

-Sua mãe não irá gostar disso, afinal a gente nem se conhece direito 

-Então está esperando o que para chama-la pra um encontro?

-Quem te fala essas coisas?  - Perguntei rindo 

-Minha mommy conversa comigo, ela me contou que o Conor chamou ela pra um encontro e olha só, hoje são meio que namorados, eca. - Fez uma cara de nojo, eu ri.

-Mas não é assim ne, precisamos ir com calma

-É... Você gosta da mommy? - disse ela

-É muito cedo pra dizer uma coisa dessa. Essas coisas são mais complicadas do que você imagina. Vamos dar tempo ao tempo - Sorri pra ela e a mesma apenas assentiu. 

Um homem com carrinho de sorvete passou e Julie logo me pediu pra comprar. Peguei dois de morango.

Ela me olhou enquanto tomava o seu e logo disse:

-Sabe a gente está em um momento muito fofo, mas isso não combina com a gente.

-Tambem acho. Então, o que você sugere? - Falei a olhando e vendo o sorriso sapeca que a mesma deu.

-Ja sei! Fecha os olhos - Ela disse

-Não - Falei desconfiado 

-Por favor, é rapido!

Fiquei meio cabreiro mas fiz o que ela pediu, logo senti algo gelado no meu rosto. Julie tinha me lambuzado de sorvete e saiu correndo e rindo pelo gramado.

A observei enquanto corria e vi que apesar dos pesares ela era uma menina de ouro.

E pra não perder o costume apenas me levantei e sai correndo atras dela gritando:

-VOLTA AQUI CHAVEIRINHO!!!!!!!