Para Yoongi o relógio em seu pulso parecia tão pesado quanto a âncora de um navio, sequer se desafiou a tentar erguê-lo para descobrir a hora em que estava em fim se permitindo descansar. Essa era sua forma de se flagelar. A exaustão era o seu castigo, sua ofensiva contra seu próprio corpo já sofrido de outras batalhas que a vida lhe obrigou a, agora, lutar sozinho. Ele voltava a questionar o universo e recorrer a um ser supremo que sempre renegou.
Porque?
O homem de olheiras e rosto abatido se perguntava porque a vida lhe era tão tortuosa? Porque haviam lhe dado companhia por longos, turbulentos vinte e três anos dos seus vinte e oito de vida, que mesmo tão conturbados nunca, nunca foram tão solitários como eram agora. O silêncio de sua própria mente era devastador. A ligação não era só sua companhia, por muito tempo ele foi a única razão para o fazer se levantar. Imaginar a possibilidade de enfim encontrar a pessoa dona daquele sentimento puro de alegria ao comer algodão doce, aquele que tinha o mais genuíno sentimento de paz ao pisar um gramado molhado ou na areia de uma praia vazia, era o que mantinha a mente do rapper sã. Em sua mente divagava a possibilidade de talvez seu maior erro fosse ter se esforçado para sempre ser o melhor possível em tudo que se dispusera a fazer.
Se eu não tivesse o sentido tão bem.
Se ele fosse só mais um ligado, mais um que não entende a própria ligação, mais um que não consegue distinguir paz de calma, alegria de euforia, tristeza de decepção.
Se eu não tivesse ouvido sua risada, teria doído menos?
Ele se perguntava constantemente isso e naquela madrugada não era diferente. Depois de derramar tudo que podia derramar em forma de música a exaustão o tomou. Bem óbvio que depois de três ou quatro dias – não lembrava ao certo – o seu corpo pediria ou melhor dizendo, clamaria por repouso, já que sequer poderia chamar de descanso. Já não descansava seu corpo ou mente a muitos meses. Em uma semana se completariam oito meses no dia três de setembro, oito meses de uma longa e continua tortura.
Mesmo se afogando em trabalho e se esforçando para engolir o choro, na calada da madrugada ele se pegava tentando senti-lo mais uma vez. Com sua mente o pregando peças dolorosas. Quando os sentimentos começavam a transbordar, chegando à beira de um perigoso precipício a bebida era seu consolo. Alguns – muitos – goles de whisky de estômago vazio e ele poderia jurar ouvir perfeitamente a voz baixinha cantar em sussurros como cantou no ano novo, quando a ouviu claramente pela primeira vez.
Yoongi nunca poderia imaginar que o ouviria com tanta clareza mais uma vez tão rápido, ele desejou tanto ouvi-lo cantar de novo, mas jamais imaginaria que a segunda vez seria a última. Aquela voz abatida, devastada, afogada em dor, invadia sua mente e lhe impedia de dormir.
Por favor, me ajude, por favor!
As súplicas por socorro, os grunhidos de dor somados a respiração falha faziam parte da sua particular sinfonia de terror. Quando o cansaço tomou conta e o corpo começava a desistir ele ouviu em sussurros falhos, ele cantando pela segunda e última vez, sobre a última neve.
Está tudo bem
Porque eu estou ao teu lado
Você e eu, se estivermos juntos
Podemos sorrir
Foram as últimas coisas que escutou sua ligação dizer, talvez por isso ele parou de sorrir, não estavam mais juntos. Cansado de se auto sabotar, se flagelar com esses pensamentos, criar esperanças onde já não existem, ele se arrastou para fora do seu estúdio decidido a ter o devido repouso. Esgueirando rumo ao estacionamento, dentro do elevador repousou as costas na superfície gelada do espelho que cobria as paredes. Naquela situação pegar a direção seria irresponsabilidade, contudo, não havia a quem recorrer naquele horário.
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Physical
FanfictionPara Min Yoongi tudo tinha um significado e mesmo consideravelmente novo ele valorizava muito as pequenas coisas, os mais singelos prazeres da vida. Ele sabia que em algum lugar do globo havia alguém diretamente ligado a mente dele dês do nascimento...