Capítulo Único; como desculpas devem ser

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eu sei que errei, destrocei, arrebentei tudo. errei e foi feio. e essa foi a melhor palavra que eu encontrei, então, sim, o que fiz foi péssimo.

foi péssimo pra ti. e me perdoa por só ter percebido agora.

me perdoa não só por essa vez, mas pela que veio antes e antes e bem antes, me perdoa pela primeira, segunda e, se não for pedir demais, pela vigésima quarta também. me perdoa por quando não fiquei mais um pouco, e pelas vezes que não insisti para que ficasse, mas cobrei de ti mais tarde. me perdoa por todas as vezes que não insisti, que não tentei. não estou diminuindo meus sentimentos, porque são profundos, mas sei que demonstro apenas uma poça de todo o oceano.

entretanto são seis e dez da manhã e escrevo isso dentro da van, porque sei que não fui tanto quanto merecia. e talvez você não tenho sido tanto pra mim, mas são meus defeitos que quebram as balanças de tão pesados, não os seus.

meus defeitos são tão incontroláveis que já os demonstro ao invés de tentar esconder. os teus são tão silenciosos que me surpreendo cada vez que mais um aparece. meus defeitos moram em mim e os teus fazem visita vez ou outra.

tu não foi nem metade de uma pessoa maravilhosa comigo, mas foi bem mais do que me permiti ser com nós dois. e você não vai entender nada disso e vou dizer que é lerdo e pedir para que esqueça, mas não é verdade. não entende porque as coisas pra ti são simples e talvez porque tudo isso seja tão patético que esteja me poupando da sua vergonha alheia.

me perdoa por complicar as coisas mais descomplicadas.

estou acostumada a errar com você, mas sei que tem momentos em que acerto. eu estou tentando.

todos os dias dessa pequena relação eu tentei. eu nunca tentei com outra pessoa, sabe? ninguém me deu motivos reais para tentar. ninguém nunca me deu motivos reais para que eu deixasse ela entrar.

eu sei que não vê meus esforços, eu os escondo como você e seus defeitos. eu guardo minhas tentativas diárias pra mim porque seria fraqueza admitir que sempre estou aqui. e que é natural eventualmente lembrar de ti, principalmente por causa do novato com seu nome. eu falaria facilmente que ele é o melhor do próprio nome, mas existe você. é inevitável negar mentalmente quando dizem que ele é o melhor amigo que alguém poderia ter.

talvez eu só seja uma constelação que te dá uma estrela de cada vez por medo de pensar como seria se ficasse sem brilho algum. talvez seja um oceano com ilhas nunca desbravadas onde os meus animais não estão prontos para lidar com humanos e se escondem. talvez tu seja um dos poucos a chegar na ilha e todo esse texto é um pedido para que não vá embora.

egoísta assim mesmo.

direto como segundo você só eu sei ser.

só não vá agora que me acostumei a sua companhia, não vá enquanto outra pessoa não vem. porque por mais importante que tu sejas eu sobreviveria sem ti, mas definharia sem alguém. não aprendi a ser tão auto suficiente assim.

sei que na maior parte do tempo sou tempestades, mas podemos nos segurar a todas as vezes que você escolheu ficar e eu me acalmei? ou arrastei você ao olho do furacão e tentei mostrar como sou boa em machucar, mas você escolheu continuar ali? poderia não tentar escapar de paraquedas dessa loucura que vem comigo? a gente pode só se prender nas vezes em que conseguimos e esquecer todas as outras onde me mostrei o ser mais inacreditavelmente ingrato da face da terra?

o céu está roxo e eu torço para que não seja tão difícil se apegar as vezes em que acertei e lidar com as que eu erro até agora. nunca me importei em ser a primeira dança de alguém, mas eu não quero ser sua última.

gostaria de manter isso até seu último acorde.

Primeiro Céu RoxoOnde histórias criam vida. Descubra agora