Ready to Run

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Eu não queria estar ali, a balbúrdia, as vozes, eram demais, já não bastava estar fazendo algo que não queria, ainda tinha que aguentar todas as opiniões, pessoas me tocando, alfinetes e costureiras fazendo os últimos ajustes em um vestido que eu certamente detestava usar, e destetaria mais ainda quando tivesse que subir com essa coisa até o altar para casar com um idiota rico, esnobe e sem qualquer noção do que é manter uma conversa agradável.

Ao chegar na casa da minha avó onde seria papagaiada para ser a noiva perfeita, meu coração aperta e é doloroso olhar para a casa esplendorosa ao lado, dentro dela mora o meu amor, minha felicidade e ter que deixá-lo, foi a coisa mais terrível que já precisei fazer. Porque ao que parece, não bastava ser uma família bilionária, ter mais dinheiro nunca era demais, casar com Roger Jones, o herdeiro de um conglomerado de empresas e apenas um pouco mais rico do que eu, faria de nossas famílias o maior império já visto em todo o mundo. Roger era um cabeça-oca, não se importava de precisar se unir em matrimônio comigo e era bem tranquilo com isso, já eu, fiz um escândalo, chorei lágrimas amargas porque sabia o que aquilo significava.

Enquanto as mulheres ao meu redor faziam de tudo para me deixar bonita, o que era impossível com um vestido horrível como esse que minha mãe fez questão de escolher, comecei a pensar em como minha vida seria infeliz, eu me tornaria uma velha ranzinza e resmungona, como vovó era, podre de rica e cheia de bens por fora, mas sem amor nenhum por dentro, minha única alegria seriam meus futuros filhos, outra regra imposta, e a eles eu me dedicaria, mas, mesmo assim, nunca deixaria de pensar naqueles olhos verdes, nos cabelos revoltos, nas tiradas sarcásticas do amor da minha vida, Ian era um homem de classe média, dono de um negócio de bebidas com o melhor amigo, nos conhecemos há dois anos, quando fui até a loja dele comprar o Bourbon preferido do meu pai, claro que tínhamos empregados para fazer isso mas eu queria conhecer mais a cidade.

Quando paguei a bebida e ele estava atrás do balcão, foi amor à primeira vista, nossas aventuras eram perfeitas, Ian sempre me levava até a praia para ver o pôr do sol, ele dizia, que um dia, iria me levar para a maior aventura de nossa vida, em direção ao sol, sendo felizes. Há pouco tempo, Ian conseguiu abrir uma filial da loja na Califórnia, o melhor amigo dele já estava morando lá para ajeitar algumas coisas e meu namorado dava indicações de que faria o mesmo e sempre me perguntava se eu gostaria de ir com ele, em nossas muitas conversas sobre o futuro, eu dizia que ia a qualquer lugar que ele fosse, porque havia uma luz em seus olhos magnética, e onde Ian estivesse era onde eu pertencia. Há algumas semanas, ele estava mais animado que o normal e estava desconfiada do motivo, afinal, tinha visto na casa dele, dentro de uma gaveta, uma caixinha de anel e sabia na hora que ele ia me fazer uma surpresa, mas, não houve tempo.

Pois minha família nunca aprovou nosso relacionamento, pelo simples fato de Ian não ser rico como nós e mesmo que a loja dele fosse promissora e estivesse crescendo, não era o suficiente. Naquele mesmo dia, minha mãe chegou em casa com a notícia do noivado com Roger e foi até a casa de Ian pessoalmente colocar caraminholas na cabeça dele, afirmando que tudo que tivemos não passava de uma brincadeira pra mim, ela destruiu tudo de bom que tínhamos e descobri, por meio do amigo dele, que Ian antecipara a mudança para a Califórnia e pretendia se mudar o mais cedo possível. Quando ouvi aquilo meu coração desabou e quebrou, ele não me perdoaria nunca e não me daria sequer uma chance de me explicar.

Então ali estava eu, me olhando no espelho do quarto, enfim sozinha, meus olhos cinzas com reflexos violetas não tinham mais estrelas para brilhar, Ian dizia que via o céu noturno neles, eu me sentia vazia, sem propósito, apenas uma boneca de pano, fazendo tudo o que os outros queriam, deixando minha história com meu amor desmoronar, meus olhos demonstravam minha tristeza. Estávamos construindo um futuro juntos, eu tinha faculdade de gestão de empresas e administração, tinha investimentos na loja do Ian e do Charlie, e em outros pequenos negócios que estavam me dando retorno, mas minha mãe me impediu de continuar, disse que eu deveria apenas me concentrar apenas em ser a mulher do lar, se dependesse dela nem pra faculdade eu teria ido, fui e me formei por incentivo do meu pai, que na verdade não via nada de errado com meus investimentos e estava até me ajudando, inclusive, ele aprovava Ian, mas minha mãe deu um jeito de dobrá-lo e impor sua vontade.

Em direção ao solOnde histórias criam vida. Descubra agora