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○ A i s h a ○

O sol penetrava minhas cortinas e aquecia metade do meu rosto esparramado em meu travesseiro fofinho. Resmunguei mentalmente por não querer estar tão cedo na empresa hoje, então automaticamente lembrei do senhor perfeitinho cagando regras idiotas.

Calcei minhas pantufas felpudas e mirei o relógio, eram exatamente seis horas, eu precisava entrar oito, mas estaria lá às sete. Tomei um banho frio e corajoso, apesar de odiar banhos frios, eu precisava durante a manhã, caso contrário, cairia no box de tanto sono e seria um zumbi com olheiras profundas no trabalho. 

Me arrumei e percebi que já eram seis e quarenta e cinco, o fusquinha apitou quando destravei e coloquei minha bolsa no banco do carona. Hoje estava frio, não acredito que o sol permaneça no céu assim o resto do dia.

Exatamente sete horas, fiquei ali estacionada durante uns quinze minutos aguardando o zelador abrir o prédio, e quando fez, se assustou ao me ver tão cedo ali. 

Cumprimentei o homem com pancinha de cerveja e adentrei o lugar, esperei na recepção pelo rapaz da lanchonete, minha barriga roncou exatamente no momento em que ele chegou com vasos grandes e repletos de porcarias. 

Adentrei o elevador com meu café quentinho, hoje não derramei, estava me acostumando com a faixa na mão e ela não doía tanto.  Eu tinha a percepção de conhecer o senhor nojentinho de algum lugar, seus olhos eram familiares mas eu não me recordava de onde os conhecia.

Abri minha sala e antes mesmo de sentar liguei o computador, se o senhor nojentinho quiser ser organizado como tanto diz, terá que lidar com a minha eficiência e as doze reuniões que marcarei hoje com investidores e produtores de uvas.

Enviei para o e-mail do dito cujo uma planilha com os valores, nomes e horários, datas disponíveis se fosse preciso remarcar, e finalmente ouvi a porta de sua sala abrir. Mirei o relógio que marcava exatamente oito horas e o amaldiçoei mentalmente.

Levantei-me com minha prancheta e o barulho de meus saltos ecoou pela sala quase vazia. Não era possível, sua porta aberta me fez contemplar o stronzo debruçado sobre sua mesa ligando o computador, ele mordia o lábio inferior concentrado e não percebeu minha presença.

Que sexy.

— Bom dia, Senhor Antinori. — cumprimentei recebendo seu olhar surpreso. Ele achava que só ele era pontual? 

— Bom dia Senhorita... — clicou no mouse.

— Bianchi. Aisha Bianchi. — não me recordo de termos um diálogo decente e com apresentações ontem — Acho que começamos com o pé esquerdo Senhor Antinori. — comecei séria e ele ergueu o olhar para mim.

— Não me importo se começamos ou não com qualquer pé, o que é do meu interesse é começar. — caminhou até as janelas enormes, com vista para toda a cidade sob nós — Sabe, Senhorita Bianchi — saboreou o sobrenome —, não quero ser seu amigo ou estabelecer qualquer relação parecida com a que você e meu avô tinham... Eu quero que esta vinícola decole, e não quero nada além de puro profissionalismo.

Soltei uma risada baixa e amarga.

— Não me lembro de ter me oferecido para ser sua amiga, mas, lembro-me de ter sido educada Senhor Antinori. Não confunda as coisas. O senhor não é o seu avô. — esclareci — Agora, se me permite, anunciarei seus compromissos de hoje. 

— Envie todos para o meu email. — ordenou.

— Já enviei. Há uma planilha detalhada com valores, nomes e datas disponíveis de cada um caso precise remarcar alguma reunião. — mordeu o lábio inferior.

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