um pouco sobre mim

1 0 0
                                    



Já não acreditava no efeito das palavras "fé" e "esperança", outrora já haviam sido as principais palavras existentes na minha vida. Tudo girava à volta de Deus, Deus o centro de tudo, e acreditava que se tivesse fé talvez pudesse consertar-me, quando na verdade não havia conserto para quem já tinha nascido avariada.

Rezava para tentar me livrar de todos os pecados que envolviam a minha cabeça, de tudo o que via, sentia e ouvia, de tudo o que tinha vida para mim e não para todos os outros a meu redor.

Quando somos pequenos e vemos algo que não nos parece normal, contamos a quem achamos que talvez nos possa arranjar uma explicação razoável para aquilo que nós não conseguimos achar uma resposta, mas a resposta é sempre a mesma, "É tudo fruto da tua imaginação". No meu caso não era e à medida que crescia mais sentia que esse pensamento era certo e claro como a água que passava no ribeiro junto à minha pequena casa no campo.

Meditava junto a uma árvore que era chamada de La mère (A mãe), um carvalho de estrutura redonda, textura áspera, com folhas de cor verde esmeralda que me fazem lembrar os olhos da minha avó. Rezava ali, e ficava deitada junto ao carvalho, que me servia de apoio para conseguir ver o lindo céu azul, com as suas grandes nuvens que tinham aspecto de algodão doce. Uma vida perfeita, estão vocês a pensar, não era. Depois da morte da minha avó as coisas entre os meus pais complicaram-se, e posso afirmar sem qualquer dúvida que a minha avó era quem sustentava a nossa família, tal como aquela árvore sustentava as suas folhas e ninhos que eram feitos nos seus ramos. Tinha 14 anos, e naquela noite, lembro me perfeitamente dos meus cabelos dourados estarem amarrados numa trança que me percorria até metade das costas, e estar a usar o meu pijama azul de calções e manga curta que a minha avó me tinha dado no meu aniversário no ano anterior à morte dela, já tinha passado 1 ano desde que ela se tinha ido, às vezes sentia a presença dela como se me aconchegasse e acompanhasse cada pequeno momento que vivia mesmo já não estando lá fisicamente.

Perdida no passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora