Seria muito mais fácil continuar os beijos e ignorar a própria mente, as mãos de Hoseok iam ao encontro dos botões da camisa de Taehyung em desespero, ele tinha pressa para ignorar a vida, os olhos fechados preferiam o nada, seria assim, simples demais.
Já Taehyung permitia que o caos se instalasse, flutuando de um lado até outro e se deixando levar pelas sensações, os toques de Hoseok quase o fizeram levitar, os olhos fechados viam a luz, complexo em excesso.
De um lado para o outro.
Eles eram o oposto.
A contradição era um assunto que Taehyung resolvia no ato, numa imaturidade disfarçada em intensidade, amar demais pra fugir, fugir da vida adulta, fugir da realidade. Agora fugir pra onde? Nenhum dos dois sabia.
Jung Hoseok queria uma vida que fosse fácil, mas a dele estava um completo caos. O espírito questionador se perguntava o porquê de todas as coisas, mas ele nunca obtinha respostas e isso era extremamente angustiante, tirava seu sono e o pouquinho de paz que restara. Ele precisava tomar uma atitude, mas e se errasse? Precisava tomar decisões, mas e se falhasse?
Quando Taehyung sussurra que o ama o mundo para.
Num estalo de dedos e ele finalmente aceita que precisa tomar uma decisão: desistir de tudo ou assumir responsabilidades e aceitar possíveis erros. Ou ele tentava amar Taehyung, ou o abandonava, era oito ou oitenta.
"Não posso mais fingir que nada tá acontecendo" Hoseok vai direto ao ponto e Taehyung continua enchendo seu rosto de beijos. "Por favor, para"
Kim Taehyung se afasta e o encara com o cenho franzido, completamente perdido e sem entender nada.
"Sobre o que você tá falando?" Ele indaga com a voz suave.
A chuva começa a cair em cima do telhado. A mãe de Hoseok começa a xingar no andar inferior, como sempre impaciente, totalmente o contrário do filho.
Hoseok encara o nada por minutos e Taehyung chama sua atenção quando toca em sua mão, mas o menor não sente nada, mais uma vez ele não sente o que deveria sentir, sem frio na barriga, sem coração palpitando, sem sentimento algum, só a confusão batendo na porta e consumindo tudo de si. Mas dessa vez ele não pode empurrar as coisas com a barriga, porque quando encara os olhos de Kim Taehyung ele percebe a intensidade, no calor daquele olhar ele pode ver a sinceridade e todo o amor que lhe é direcionado.
E por Deus, ele sabe que ninguém mais do que aquele garoto merece a mais pura verdade.
"Hoseok, fala comigo" Taehyung diz acariciando o rosto do outro.
"Desculpe. Bom, eu não tenho sido sincero com você, não tenho sido claro como você me fez prometer e sinto que tem algo de errado entre nós. Não me sinto digno de receber tudo o que você me proporciona"
"Querido, não..." Taehyung sorri e antes que possa falar que não há problema, recebe palavras que são como um soco no meio do estômago.
"Eu não sei o que sinto por você, Tae, essa é a real. Eu juro que tentei retribuir, mas eu não consigo, eu tô uma bagunça e nós dois sabemos que você não merece isso, não, não tente me fazer pensar o contrário, essa é a verdade" Jung fala cautelosamente. "Nós precisamos aceitar"
Os olhos de Taehyung se enchem de lágrimas e ele pela primeira vez não tem o que dizer. Sabe que não pode implorar, também sabe que não pode se revoltar, porque no fundo sempre soube que havia algo de errado na relação.
Naquela tarde chuvosa Kim Taehyung sabe que não precisa de palavras pra entender que o amor de sua vida tinha lhe dado um bonito fora, ele sai correndo na chuva e não olha pra trás, quer se esconder, quer sumir por ser tão idiota a ponto de se entregar por completo pra alguém que sabia que era impossível amar. E Hoseok enfia a cara no travesseiro e grita, porque se sente culpado por não ter sido claro desde o início, por ter mentido pra si mesmo que tudo sempre iria ficar bem, mesmo sabendo que tudo é muita coisa e sempre é muito tempo.
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Kim Taehyung decide se afastar por completo, esquecer o misto de sensações que Hoseok desencadeava, esquecer os beijos e os momentos juntos e tentar entender que seguir com sua vida e ignorar seus sentimentos sem profundidade alguma é escolha certa.
Não há facilidade, todos os dias ele tem vontade de voltar atrás, mas sabe que não pode. Sabe que precisa crescer e aprender que alguns tipos de paixões servem justamente pra não dar certo. Acreditava, porque era um fato, o amor nunca havia existido. Amor é um sentimento de mão dupla, uma troca, é dar e receber mutualmente.
E entre os dois nunca houvera equilíbrio, ele sabia.
Sempre soubera.
Ele apreciava todas as características de Hoseok e por isso era nobre o suficiente para não insistir, para fazer a coisa certa. Não era questão de ressignificar a relação, mas de colocar um ponto final. Por Hoseok e por si mesmo.
Soa confuso, mas a sinceridade só se fizera presente quando Hoseok deu o empurrão pra que Taehyung escrevesse o ponto final, porque aquele tempo todo que estiveram juntos eles não eram sinceros um com o outro eles próprios. Negavam o que eram por medo de descobrir, negavam aquilo que lhes era único e fechavam os olhos, e se enfurnavam numa mentira que chamavam de romance.
Jung Hoseok conseguiu seguir sua vida com mais facilidade, ele era composto de liberdade, não fora feito pra pousar num clichê que Taehyung lhe prendia. Era feito pra levitar graciosamente. Não tinha como prolongar o que lhe matava a cada segundo, pois ele não havia sido feito pra prisões.
No término eles demonstraram o primeiro e único ato de amor. Havia reciprocidade na sinceridade de Hoseok e havia liberdade no ponto final de Taehyung.
Mesmo distantes eles levariam o relacionamento pro resto da vida, essa era a única certeza. Ambos arquivariam o relacionamento coberto de complexidade numa pasta chamada experiência.
Ás vezes escolhas são difíceis e dolorosas, mas os dois sabiam que era melhor assim.
Sim, eles sabiam.
