As Palavras Que Não Conseguia Dizer - Moshang

Azul

Talvez fosse devido a seu passado. Talvez por ser um demônio do norte, onde não havia demonstrações de afeto, e por não ser bom com palavras. Ou talvez fosse por ser um covarde. Sabia que aquelas três palavras eram importantes para os humanos e queria dizê-las ao seu humano, mas elas eram-lhe impronunciáveis.

Odiava ouvir Shang Qinghua dizê-las com facilidade e sem nenhum pudor, e não conseguir retribuí-las da mesma forma. Seu humano não esperava que ele as dissesse e nunca o cobrou por elas mesmo que merecesse ouvi-las milhares de vezes.

Aquele humano medroso o conhecia melhor do que ninguém. Ele já viu o seu pior lado e continuou consigo. O viu ferido e tentou ajudá-lo da melhor forma que pode. Até arriscou a própria vida para salvá-lo. Ele, definitivamente, merecia ouvi-las e era um grande covarde por não conseguir dizê-las.

Amar alguém era assustador. Confiar seu coração e sua vida a alguém que pode deixá-lo a qualquer momento era, no mínimo, insano para ele. Como poderia simplesmente se entregar inteiramente a alguém sem ter nenhuma garantia de a outra pessoa faria o mesmo? Era algo completamente tolo a se fazer, mas sabia que Shang Qinghua havia confiado sua vida e seu coração em suas mãos. Aquele sentimento era completamente irracional e assustador, mas até mesmo aquele humano medroso conseguia expressá-lo sem dificuldades.

— É claro que eu gostaria de ouvi-las, mas não é importante. Sei que é impossível para você falar isso e não tem problema. — afirmou compreensivo, mas Mobei-Jun preferia que não fosse, que exigisse por uma declaração.

— É importante. — teimou.

— Então, por que não usar uma palavra, tipo um código ou algo assim? — sugeriu a fim de acabar com aquela discussão, ele não entendia o porquê de o demônio teimar tanto naquilo, conhecia a personalidade Mobei-Jun e somente de querer dizê-las já era uma grande declaração.

— Igual à palavra de segurança? — perguntou e Shang corou um pouco concordando.

— T-Tipo isso. Hm... Que tal azul? Diga "Azul" e entenderei como "Eu te amo". — definiu simplista.

— Azul. — disse sério com sua voz soando fria e cruel, fazendo Shang desabar em risos com aquela péssima e assustadora declaração. — Por que está rindo? — Mobei-Jun perguntou irritado e com as bochechas em tons escuros de azul.

— Me desculpe. Não é nada. — respondeu recuperando o ar e sentindo dor de barriga por rir. O demônio de gelo se virou bufando e indo embora. — Meu rei, espere!

— O que foi? — perguntou sem paciência para brincadeiras.

— Eu te amo.

E com isso seu orgulho morreu. Não conseguia dar-lhe as costas e ir embora agora. Era ridículo que aquelas três palavras tivessem tal efeito sobre si, mas ali estava ele voltando para os braços daquele humano medroso.

Talvez, um dia, tivesse a confiança para pronunciá-las da forma correta e entregar seu coração sem questionar o quão irracional aquilo era. Até lá, a palavra azul teria de bastar.