Melancholy

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Entre ficar e ser tratado como um escravo, ou voltar para o seu mundo e ficar enfurnado em seu quarto escrevendo histórias, a melhor opção era óbvia. Então, por que sentia esse vazio tão doloroso? Por que tudo o que conseguia escrever agora era tão triste e sombrio?

Até tentou sair e aproveitar as belas de seu mundo, mas era dezembro e tinha neve por toda parte, como se o mundo insistisse em lembrá-lo de quem jurou seguir por toda a vida — ou talvez fosse somente sua consciência pesada. Mesmo seu adorado macarrão de frango parecia ter perdido o gosto em sua vida acinzentada.

O que era aquela situação lamentável em que estava? Realmente estava com saudades da vida miserável que levava dentro de sua própria história? Estava mesmo com saudades de seu chefe horrível? Não. Não devia ser isso, não podia ser. Aquilo era apenas a tristeza de um pai ao ver seus filhos partirem. Apenas isso. Somente. Tudo o que precisava era escrever uma nova história, uma que superasse Proud Immortal Demon's Way. Apenas isso. Simples, não é mesmo?

Não, não era.

Olhou para a folha em branco do editor de texto. Já devia ser a décima vez que escrevia e apagava tudo logo em seguida. Não conseguia entender o que estava acontecendo com ele. Tudo o que escrevia lembrava-lhe quem tanto queria esquecer. Já havia se passado um mês desde que voltou ao seu mundo e ainda não conseguiu tirá-lo da cabeça. Devia ser um tremendo M mesmo para ficar relembrando todo tempo, ou talvez, estivesse traumatizado depois de tudo. Sim, devia ser isso. Apenas estresse pós-traumático. Tinha certeza que após tanto tempo já deveria ter alguém ocupando o seu lugar ao lado dele, sendo totalmente esquecido.

E aqui estava ele, não conseguindo parar de pensar nele ou escrever sobre ele. Sentia que uma parte importante sua havia ficado em Proud Immortal Demon's Way —, no norte do reino demoníaco com um certo demônio de gelo — e agora estava tentando ignorar o que faltava, mas não era uma tarefa fácil.

Ficou navegando pelos fóruns, olhando os comentários de fãs perguntando o porquê de seu sumiço. Tudo parecia entediante e sem vida. Seu único conforto era o tempo frio que estava fazendo. Estranhamente acolhido pelo frio intenso e a neve que caía aos montes lá fora.

Estava em uma situação tão ruim que ao ver uma fenda estranha se formar do nada em seu quarto não o assustou tanto quanto o que viu dentro dela.

— M-Meu rei?! — exclamou assustado, o chamando assim pelo costume.

O demônio de gelo estreitou os olhos em sua direção e ele tremeu. Ele saiu da fenda, ficando frente a frente com Airplane que engoliu o seco e se encolheu em sua cadeira sob o olhar intenso do rei.

— Shang Qinghua... — sua voz soou fria e cruel, deixando o menor mais nervoso.

Algo dentro dele revirou-se ao ouvir aquela voz. Seu coração acelerou e sua garganta fechou. Lágrimas brotaram e ele se esforçou para não deixá-las cair e disfarçá-las.

— S-Shang? Q-Quem é? — desconversou angustiado e abaixo o olhar, evitando os olhos azuis congelantes que causavam sensações estranhas em seu corpo.

Se remexeu aflito na cadeira quando o maior começou a se aproximar. Era o seu fim, mas por algum motivo não era isso que o deixava nervoso no momento. A parte que lhe faltava havia subitamente voltado e não sabia como lidar com isso.

Seu coração afundou quando Mobei-Jun caiu de joelhos no chão e abraçou sua cintura como uma criança que corre para os braços da mãe após ter se perdido. Sua garganta doeu e lágrimas quentes transbordaram de seus olhos involuntariamente. O abraçou de volta com força, soluçando alto. Sentindo o vazio subitamente ser preenchido por tristeza e saudade. Muita saudade.

— Eu te procurei por toda parte.

— M-Meu rei, me desculpe! — disse entre soluços. — E-Eu não devia ter ido embora! F-Foi um g-grande erro! M-Me desculpa!

— Prometeu me seguir a vida toda.

— S-Sim... E-Eu sei...

Abraçou-o ainda mais forte, sentindo o nó em sua garganta doer. Abraçou-o como se ele fosse desaparecer a qualquer momento e tivesse que voltar a sua vida acinzentada. Murmurou pedidos de desculpas e afagou o cabelo escuro. Não implorava por perdão para não ser morto, pouco importava se ficaria vivo ou não. Apenas queria aliviar seu peito de toda aquela tristeza e solidão. Finalmente havia entendido o porquê daquele vazio.

— E-Eu te amo...

O demônio levantou o rosto para olhá-lo e as lágrimas de Airplane caíram sobre suas bochechas. O menor continuou a murmurar entre soluços enquanto tentava limpar as lágrimas que caíam no rosto pálido e frio.

— E-Eu te amo, m-meu rei. E-Eu te a-amo. S-Senti tanto a sua f-falta. T-Tanto...

O beijou com força e o abraçou, não permitindo que o demônio se afastasse em nenhum momento. Não podia mais negar ou esconder o que estava sentindo, não adiantava mentir para si mesmo.

— Volte comigo e não saia do meu lado nem por um segundo — aquilo soou mais como uma ordem do que como um pedido.

— Não sairei. Jamais.

Continuou agarrado firmemente ao Rei do Norte e se recusou a soltá-lo, não correria o risco de perdê-lo. Mobei-Jun o pegou em seus braços e entrou na fenda, levando-o de volta para casa. Agora entendia porquê se sentia tão acolhido naquele inverno rigoroso. Lembrava sua casa, o único lugar para onde devia retornar. E agora, estava finalmente em casa.

Without You - MoshangOnde histórias criam vida. Descubra agora