1. Como tudo começou

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versão da Sarah

Logo da primeira vez que eu vi a Juliette, soube que era a garota mais linda que eu já tinha visto na minha vida. Foi só bater os olhos nela de longe, andando pela praia devagar em
direção a nós duas. Não precisou mais. Uma gata. Dessas de deixar a gente meio sem fala.

Não precisava esforço nenhum para ver que ela era demais.
Mas o que não dava para saber assim logo, naquele instante, era que eu já sabia tudo da vida dela. Ou, pelo menos, um monte de coisa.
O nome e o sobrenome.
O colégio onde ela estudava.
A rua onde morava.
Que tinha - ainda tem, e acho melhor falar de tudo isso no presente - um irmāo chamado Gilberto e uma irmā de uns oito anos chamada Camilla. Que o pai dela é italiano e a mãe é da Paraíba.
Que ela tem uma bicicleta.
Que estuda inglês num curso lá perto da casa da minha tia Carmem.
Que joga basquete no clube e treina todo dia no fim da tarde.
Que odeia dançar e nunca vai a nenhuma festa.
Que nunca leva lanche de casa e todo dia come cachorro-quente com refrigerante na cantina do colégio.
Que não tem namorada.
Que tudo quanto é menina vive
apaixonada por ela.

Principalmente a minha prima Pocah.
Mais que minha prima, minha melhor amiga. Aquela amigona pra quem a gente conta tudo.
Aquela pessoa com quem eu sei que posso contar para tudo.
A qualquer momento.

Por causa dela é que eu sabia tudo da Juliette. Menos a cara que ela tinha. Só faltava encontrar em pessoa.
Acho que, desde que ela veio de Livramento para estudar na nossa cidade e foi morar em casa da tia Carmem, a gente se falava ao telefone todo dia e se encontrava sempre que podia. E toda vez ela falava na Juliette. Foi assim que eu fiquei sabendo tanta coisa dela.

No começo, a gente nem sabia muita coisa. Ela só falava nela como "a menina do sorriso único". Porque ela tem sempre um sorriso incrível no rosto. E tem cabelo castanho bem ondulado, comprido, sempre caindo
na cara, e ela tem que jogar para trás com um gesto lindo da cabeça, que ela faz toda hora.
E o nariz? Sabe o que é perfeito? Pois é, o dela é. Retinho, nem grande nem
pequeno, parece desenhado. Nunca vi igual. Os olhos são meio rasgados, mas grandes. E castanhos.
E parecem que chamam mais a atenção porque os ossos são muito marcados, dão destaque - as maçās do rosto saltadas, o queixo muito definido, meio quadrado. Os dentes são certinhos, sem nem precisar de aparelho, e se mostram num sorriso muito branco, por causa da pele. Ah, a pele morena é morena mesmo, bronzeada naturalmente. E ainda fica mais dourada pelo sol, claro.
Parece uma índia.
Daquelas bem lindas, de filme, tipo "último dos moicanos". No meio de todas aquelas surfistas louras
que passam carregando as pranchas, ela é a única morenona.
Está bem, exagerei. A única, não. Está cheio de menina de cabelo preto.
Mas nenhuma lindona como a Juliette.

A tal "menina do sorriso". Um sinal aberto, pedindo para avançar.
Minha prima Pocah tinha toda razão.
Aos poucos, ela foi descobrindo mais coisas sobre ela. E foi contando.
Para mim e para torcida do Corinthians - como diz meu pai. Mais a do Vasco, do Palmeiras, de tudo quanto é time. Todo mundo na família sabia da paixāo dela pela Juliette - tias, tios, primos, avós, madrinhas, amigas da vizinha, acho que até o papagaio da área já devia ter
aprendido a repetir
"Juliette! Juliette!".

Isso ninguém me tira - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora