Um Acaso Mora ao Lado - Bruno Rezende

Capítulo 1

Para todos os apaixonados que assim como eu, encontram seu refúgio na leitura.

PRIMEIRO

– Ai tia... Estou tão feliz por estar contigo agora! – digo enquanto a abraço com toda a força que tenho. A loira platinada me aperta também, quase me beliscando com suas unhas de gel.

– Vamos aprontar muito agora que você está longe da sua família imprestável!

– Tia!

Nos olhamos e começamos a rir logo depois. Nunca tive um relacionamento bom com a minha família. E trabalhar em home office foi a melhor coisa que me aconteceu esse ano, me possibilitando ficar com tia Rosinha, que após sua segunda viuvez, já estava próxima aos setenta anos e precisava de companhia.

Sair do interior de São Paulo para morar com minha tia no Rio de Janeiro, em um condomínio luxuoso era o auge para mim. Eu iria abusar da piscina e da praia que ficava próxima do apartamento dela.

– Comprei aquelas coisas que você mandou! Não sei cozinhar não, mas vamos nos ajeitando. – ela diz antes de dar um gole em sua cerveja.

– Ah tia, fique tranquila. Eu vou lembrando o que posso ou não comer.

Eu era alérgica a trigo. Amendoim também. E carne de porco! Uma porcaria... Apesar de ter descoberto a dois anos, vira e mexe eu ainda beliscava algumas coisas que tinha muita vontade e corria tomar antialérgico para não passar mal. Ficava triste pra cacete vendo os outros comendo as coisas enquanto eu precisava levar minhas comidas para alguns lugares que ía.

Esse também foi um dos motivos de ter saído de casa. Meu pai não respeitava minha condição e deixava farelo de pão pela cozinha toda, também reclamava do fato de eu ter que fazer meu pão quase todos os dias. Minha mãe, bom, ela não intervia, ficava na dela pra não ouvir o tanto que eu já ouvia.

Tia Rosinha era a melhor de todas as tias e tios. Festeira e bagunceira que nem eu, ela adorava uma fofoca, fazia amizade com todo mundo, era cem por cento do dia animada... E o fato do segundo marido ser bem rico, foi o que trouxe conforto e distância da vida dela para a nossa.

O salário que eu recebia trabalhando com uma empresa europeia, era suficiente para mim, porém eu guardava mais da metade para poder sair do Brasil, sobrando alguns trocados para poder ter o meu lazer. Titia sabia das brigas em minha casa e, sabia também que eu não abriria mão da chance de ir para a Europa, só para alugar uma casa para mim. Ela foi bem esperta ao criar um plano digno de novela para que eu saísse de casa e viesse para o RJ.

– Clarinha, comprei um vestido lindo pra eu usar. Mas acho que vai ficar melhor em você! Venha aqui ver. – ela diz enquanto caminha para o seu closet, que era o antigo escritório do meu tio.

– Nossa tia, vai aonde com isso? – pergunto ao ver o curto vestido preto.

– Nós vamos! – ela empurra a lata de cerveja para eu segurar e puxa uma gaveta, mostrando uma coleção de sapatos de salto. – Minha amiga abriu um bar e a gente vai hoje lá! Quero te apresentar pros meus amigos.

Bom, titia era casamenteira. Ficava totalmente indignada com o fato de eu ter vinte e um anos e ainda ser solteira, sem nunca ter apresentado se quer um namorado pra ela. Bom, era um tópico que eu não gostava de falar, de qualquer maneira.

– Toma um banho e veste ele. Coloca esse salto vermelho! Passa uma maquiagem nesse seu rosto lindinho. Vamos ficar bem lindas para tirar várias fotos.