Limite

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"Ishimaru esse nome, é sujo, tão sujo, eu preciso limpar, é minha obrigação, minha razão"

Meu corpo inteiro parece que vai desabar a qualquer momento, minha visão completamente turva, toda vez que pisco sinto como se tivesse dormido por alguns minutos, mas se eu parar agora, eu não vou conseguir limpar, eu preciso limpar[...]

Esses pensamentos rodaram por minha cabeça por minutos, eu não tenho certeza, mas aquele barulho quebrou meus pensamentos, meu pai chegou em casa, chegou cedo, eu acho, não me lembro que horas são exatamente que irresponsável, e então minha porta se abre:

- Taka? Por que tá acordado ainda? Tem ideia de que horas são?- sempre preocupado demais, nem é tanta coisa, ele se aproximou de mim passando suas mãos no meu rosto, e logo ele me abraça, é tão quente e confortável, acho que até vale a pena ficar acordado.

- Não muito, eu estudei até tarde eu acho, mas que bom que voltou pai.- Meus braços contornam suas costas, as vezes ficar assim com alguém é tão bom, só meu pai faz isso, não posso dizer que tenho tanta experiência.

- Então meu garoto estudioso, você tá quase com a minha cara, parece um zumbi, então vamo pra cama- Mesmo naquele estado, eu não poderia me dar ao luxo de descansar e me mantive parado, meu pai vendo meu rosto mudou lentamente sua expressão, tão gentil para melancólica, era minha culpa, minhas mãos se levantaram se mexendo como leques, e o desespero subiu sob meu corpo.

- Ca-calma pai, eu já tava indo, é só que eu não terminei de estudar uma parte, eu não entendi direito é isso...- sua expressão voltou a gentileza, não quero preocupar meu pai com essas bobagens, eu sei que eu não tenho culpa dos crimes do meu avô, mas eu quero limpar o nome da nossa família.

Ele se puxou a segunda cadeira e se sentou ao meu lado, e assim juntos estudamos, meu pai também era como eu, completamente louco pelo estudo, e é bem divertido estudar com ele, apesar do pouco tempo que temos juntos, mas meu corpo lentamente chegava ao limite do cansaço, e vendo isso, meu pai conseguiu me arrastar até a cama, apagando a luz do meu abajur. Mesmo com a minha idade, me senti muito bem com meu pai me botando na cama, uma sensação quente no meu peito, e suas palavras soavam como música.

- Eu sei o que você estava fazendo Taka, eu amo você meu filho, e quero que pare de tomar modafinil (medicamento usado para sono excessivo) e tomar meu café, não é barato não hehe.. você é tudo que eu tenho, e você sabe que nada daquilo foi culpa minha ou sua, pare de fazer isso com você, eu quero que viva- sua mão pousava suave no meu rosto, e deu polegar me acariciava, sua voz parecia triste, sempre que tocamos nesse assunto esse silêncio pesado fica, eu sinto como se não tivesse força pra dizer que estou certo, as vezes ir pra escola virado até 3 noites acaba comigo, mas minha boca se abriu lentamente:

- Pai, eu sei disso, sei bem que você não gosta nada de me ver assim, mas como eu posso sair sabendo que todos vão me olhar como se eu fosse um tipo de ditador, eu não sou como ele, e mesmo que eu me esforce, eu dou tudo de mim, acham que eu só sou quem sou pra ser como ele, mas...- senti cada palavra sair como se minha garganta doesse pra cada uma delas, estava entalado como se a qualquer momento fosse me engasgar, segurar sua mão e aperta-lá me fazia me sentir seguro, aquela lágrimas quantos saiam de meus olhos com o pouco que eu piscava, e quanto mais eu falava desse peso no meu peito, eu soluçava, e ele me ouvia, até que eu não conseguisse dizer mais nada audível, só tive força pra chorar como uma criança, e senti seu corpo se deitar ao lado do meu:

- Taka, sabe que você é meu mundo, tudo que eu faço foi sim pra limpar o nome da família, mas ainda mais importante, eu faço por você, e você não é como Toranosuke, você é você, não é um ditador, ou um corrupto, é só uma criança, não perca esse tempo em algo que não é sua culpa, viva, viva por você mesmo- eram raros esses momentos entre nós, e juntos chorávamos baixo, nós reconfortando um ao outro, eu sou tudo pra ele, e ele tudo pra mim, eu queria poder sentir esse conforto pra sempre, então ouvi sua voz: - Já que eu não quero você fazendo nada de estúpido, e nem eu, vou dormir com você tá bom?

Minha prisão e a sua liberdade [Ishimondo]Onde histórias criam vida. Descubra agora