Prólogo

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Júlia

Há três anos, quando conheci o mundo do kpop, não imaginava que chegaria esse dia. Nunca imaginei que Bluefive, faria um show no Brasil e muito menos que eu estaria presente, tão pertinho deles.

Também não imaginava que seria burra o suficiente para ficar esperando eles saírem para ir embora depois do show e perderia o ônibus alugado para trazer as fãs ou as Bluebies, como somos chamadas.

Fiquei pertinho do palco e vi os cinco membros de perto, mesmo assim, coloquei na minha cabeça que deveria ficar esperando eles saírem para conseguir um autógrafo ou foto com eles, ou mesmo só tocar em um deles.

Esperei tanto que perdi o ônibus e de quebra, não os vi sair. Vi algumas vans pretas saindo enquanto procurava o ônibus, imagino que eles estavam dentro delas.

Agora estou sentada na guia perto da saída, no estacionamento, passa de duas da manhã e a bateria do meu celular está acabando. Isso sem falar na chuva fina que molhou toda a minha roupa e meu cabelo, que estava lisíssimo depois de duas horas fazendo chapinha. Minhas amigas ainda me disseram para não deixar a blusa no ônibus e para deixar os fios enrolados como são. Primeiro porque faria frio, vimos na previsão do tempo e é São Paulo, poxa, não precisa ser um grande gênio para saber que o clima aqui é muito louco. Segundo, porque iria suar e molhar toda a raiz do cabelo, porém, eu queria estar linda hoje! Minha blusinha branca de renda agora está encharcada, mas eu estava um arraso antes da chuva. Ela e o meu shortinho preto de sarja foram a combinação perfeita, agora são a combinação perfeita para me fazer congelar.

Consegui ligar para a minha mãe para avisar que o motorista me deixou, só não sei se ela conseguiu falar com ele. Ela surtou e me colocou de castigo por três anos, o que é engraçado, já que para ficar de castigo, tenho que sobreviver a isso, estar na rua sozinha de madrugada, sujeita a todo tipo de coisa e ao meu pai, que vai me matar e disso não tenho dúvida.

Ouço uma agitação perto do portão principal e me encolho perto de um arbusto. "tomara que ninguém me veja, tomará que ninguém me veja." Oro.

Espio por trás das folhas úmidas e vejo que são só membros da produção. Volto a me sentar na guia e abraço meu corpo.

Quero ligar para minha mãe, mas tenho medo de o meu celular desligar e não conseguir falar com ela depois.

A equipe da produção está falando em um coreano rápido e mal consigo entender. Estudo o idioma há dois anos, é difícil, porém, sou quase fluente, acho. Consigo entender os dramas sem ler as legendas.

Levanto o rosto e olho na direção deles, no exato momento em que os membros do Bluefive estão olhando para mim. Congelo. Ao mesmo tempo em que meu coração bate acelerado e minhas pernas tremem, me sinto paralisada. Não consigo me levantar, nem dizer nada. Quando Su Ho anda em minha direção, sinto o ar faltar. Ele sorri, pega uma blusa e coloca sobre meus ombros.

— Volte para casa com cuidado — diz ele, com seu coreano perfeito.

Fico apenas olhando, ele sorri, acena e se afasta. Acabo de me apaixonar, perdidamente, por um idol! Incapaz de levantar, fico parada vendo o amor da minha vida ir embora para sempre, enquanto meu coração, tenta deixar meu corpo e ir até ele. Aperto a blusa em mim e sorrio.

É assim que o amor acontece nas novelas. Estou apaixonada.


Tae Joon

Debutamos há três anos e finalmente estamos fazendo shows no Brasil! Ouvi meus sunbaes falarem sobre como os fãs brasileiros são animados e calorosos, mas nada me preparou para o que vivemos hoje, no primeiro show da turnê. Nossas fãs gritando e cantando cada música, mesmo sem saber falar coreano. Foi emocionante, até meus hyungs ficaram surpresos.

Agora, todos cansados e com fome estão espalhados pelos sofás do nosso camarim esperando para ir embora. Sou o único que ainda está cheio de energia e não sei como poderia ser diferente. Acabei de viver um dos momentos mais incríveis da minha vida. Nunca vou me esquecer do dia de hoje.

Nos meus tempos de trainee, nunca sequer sonhei com isso, vivia assombrado pelo medo de nunca poder debutar. Ainda ouço o nosso produtor dizendo que se eu quisesse mesmo ser um idol, só saber dançar, não me levaria a lugar nenhum. O mesmo produtor foi quem me apelidou de Maknae Machine. Depois de passar quase todas as horas dos meus dias de trainee fazendo aulas de canto e dança, negligenciando até a escola, melhorei, me destaquei e consegui meu lugar na indústria. Consegui até superar um pouco a minha timidez. Não tenho o vocal perfeito do Su Ho hyung, mas sou um dos vocalistas e todo meu esforço valeu a pena por esse momento.

— Vamos comer no hotel — diz uma das staffs. — Não tem mais serviço de entrega.

Os hyungs começam a reclamar, sempre ficamos de mau humor quando estamos com fome, ainda mais depois de gastar tanta energia no palco. Os funcionários também devem estar com fome, mas em vez de reclamar, continuam arrumando os equipamentos, no dobro da velocidade. Tantas coisas deram errado antes de começar o show, que acabou atrasando tudo. Terminamos mais tarde do que o esperado.

— Eles não têm serviço de entrega vinte e quatro horas? — pergunta Min Jae hyung, com uma careta.

— Acho que não — diz nosso gerente. — Vamos embora. A equipe vai depois que terminar.

— Vamos logo. — Su Ho hyung se levanta e sai emburrado.

Também estou com fome, mas nada vai acabar com meu bom humor hoje. Guardo o celular e sigo meus hyungs até a saída.

— Vocês vão primeiro, uma das vans está lá na entrada. — Alguém do staff diz.

Ninguém se move, continuam discutindo sobre algo. Vejo uma garota sentada na calçada, ela está encharcada e abraçando o próprio corpo. Tiro a blusa e tento me adiantar na direção dela, porém, Su Ho hyung me impede.

— Aonde vai? — pergunta ele.

— Hyung, olha ali. — Aponto a garota tremendo na chuva. — Vou levar a blusa para ela.

— Não, vamos embora.

— Ei, deixa isso, ela não deve estar sozinha — diz Woo Joo hyung, segurando minha mão.

— Ah, hyung, olha como ela está — digo, ainda olhando para a garota. — Acho que ela estava no show.

— Se ela estava no show, não está sozinha, deve estar esperando alguém — insiste Su Ho hyung.

— Hyung, ela está encharcada e morrendo de frio — digo, sem conseguir tirar os olhos dela. — São quase três da manhã.

Su Ho hyung me olha impaciente e depois olha na direção da garota ao mesmo tempo em que ela nos reconhece, fica nos olhando com a boca aberta, sem se mexer.

— Eu levo isso. — Su Ho hyung pega a blusa da minha mão e anda até a garota.

Ela parece ainda mais chocada enquanto o hyung coloca a blusa sobre ela, diz algo, acena e se afasta. Quando ele se vira o sorriso some do seu rosto. O sorriso de idol. Ele se aproxima mal-humorado e pega minha mão, me puxando para longe.

— Vamos logo.

Ainda sendo puxado, olho para a garota se aninhando sob minha blusa e me sinto aliviado ao vê-la sorrindo em nossa direção.

Como "não" conquistar um idol - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora