Naquele início de uma noite quente de domingo, Roberto subiu para o sétimo andar segurando o que deveria ser a última de mil caixas. Ele havia acabado de se mudar de Petrópolis para o Rio de Janeiro para assumir seu novo carro como gerente de vendas em uma multinacional. Aquela era a oportunidade que ele estava esperando. Roberto estudou administração e trabalhou duro para chegar àquela posição, que era um dos cargos mais altos que ele poderia alcançar ainda tão jovem.
Ele tinha trinta e uns anos e passara a morar com os pais após se divorciar de Helena. Aquela louca o traíra e ainda conseguira tomar dele a casa que ele tanto lutara para conquistar. Helena estava grávida à época e jurara que o filho era dele, mas ele tinha certeza de que era mentira. Ela se recusou a fazer o teste de DNA alegando que temia machucar o bebê, ainda assim o juiz decidiu que ela ficaria com a casa e Roberto saiu do casamento com dois carros e um par de chifres.
Ele nunca saberia a verdade sobre a paternidade da criança, entretanto. Helena perdeu o bebê um mês após eles se divorciarem. A gravidez pelo menos era real e ele sentia muito pela perda dela. Roberto decidiu seguir em frente e se dedicar a sua carreira e, um ano depois, ele finalmente chegara onde ele queria.
Ele não viraria celibatário, é claro, mas ele não queria compromisso com ninguém. Pelo contrário, Roberto estava curtindo muito sua vida de solteiro. Estava curtindo mais agora do que quando era mais jovem.
Enquanto a porta do elevador fechava, ele viu uma mulher correndo em sua direção.
— Segura a porta, por favor! – ela pediu.
Mas Roberto não podia fazer nada por ela segurando aquela caixa pesada com ambas as mãos.
— Desculpa, não tenho como. – ele respondeu enquanto a porta fechava.
Ele entrou no seu apartamento, no sétimo andar, com a sensação de que tava se esquecendo de algo, mas não se importou muito com isso. Partiu para o banheiro para tomar um banho antes de descansar um pouco e começar a organizar o apartamento. Roberto suspirou quando a água gelada caiu sobre sua pele, o refrescando e levando o suor embora. Quando ergueu a mão para pegar o sabonete, se lembrou do que deixara para trás. Roberto estava tão concentrado nas caixas que esquecera completamente das malas no carro.
— Merda!
Ele saiu do box do banheiro, vestiu rapidamente as mesmas roupas que usava antes e desceu até o estacionamento para pegar a mala grande e a mochila. Ao retornar para seu apartamento, ele viu novamente a mesma mulher que o pedira para segurar a porta do elevador. Desta vez ela estava encostada ao lado da sua porta e estava chorando.
— Moça, você precisa de ajuda? – ele perguntou.
Roberto não recebeu uma resposta apropriada, no entanto. Em vez de palavras, a mulher o beijou repentinamente, ao mesmo tempo em que a porta do outro lado do corredor se abria.
— Sofia? – outro homem gritou.
Sofia parou de beijar Roberto e sorriu serenamente para o homem. Roberto viu uma mulher se esconder atrás dele, como se não quisesse ser vista. Para ele, estava muito claro que o outro homem era o namorado da Sofia, ou algo do tipo, e a estava traindo.
— Que merda é essa? - o homen perguntou dando alguns passos para frente – Você tá me traindo!
Parece que você tava fazendo a mesma coisa, cara.
— Oh, meu amor. Eu pensei que eu podia beijar qualquer pessoa, já que você tá transando com essa vadia aí atrás de você. – Sofia respondeu tão calma que Roberto teve medo do que ela poderia fazer com o cara ali.
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Numa noite de domingo...
Short StoryO amor acontece quando não se espera. Esta é uma coleção de contos sobre pessoas que encontram os amores das suas vidas em uma noite de domingo qualquer. . . . . Amores, esta coletânea eu vou escrever sem pressa, ok? Serão sempre contos curtos que...