1. Letícia e Gustavo

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Faltava seis meses para ela completar 30 anos e estava muito bem com sua vida e as perspectivas para o futuro. Letícia Marques de Souza era auxiliar técnica de perícia da Polícia Federal há seis anos e acabara de receber a notícia de que seria realocada para sua cidade natal na qualidade de perita chefe do departamento da PF recém-construído.

Lety morava em Barreiras, Bahia, há nove anos, desde que passara no vestibular, e agora regressava a Feira de Santana, muito feliz. Anunciaram que haveria uma mudança no quadro do pessoal cerca de um ano antes. Coisa normal, haveria uma boa leva de agentes se aposentando naquele ano, então as chances de promoção eram altas. Ela ansiava pela mudança de cargo e era a mais bem cotada para o posto de chefe de departamento. Trabalhara duro desde que passara no concurso e se sentia pronta para alçar novos voos na carreira.

Ao notar que surgiria a oportunidade de retornar para a sua cidade natal, ela não pensou duas vezes para fazer a solicitação. Gostava de Barreiras, mas preferia Feira de Santana. Amava a sua cidade natal e sentia saudades dos passeios noturnos tranquilos, da vizinhança acolhedora e, principalmente da sua família. Então voltar, ainda mais com o cargo que tanto desejava e merecia, era um verdadeiro presente para ela.

— Que bom que você está de volta definitivamente! – exclamou sua mãe com lágrimas nos olhos, assim que ela desembarcou no Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães, na capital baiana.

Feira de Santana não tem aeroporto, então ela teve que pegar um voo para Salvador e, de lá, seguiria de carro com seus pais para a charmosa Princesa do Sertão.

— Também estou feliz, mãe. – respondeu dando um abraço carinhoso em seus pais.

E estava mesmo. Lety sempre retornava a sua cidade nas férias, mas não era a mesma coisa que estar perto da sua família todos os dias e poder conversar amenidades e distrair dos estresses do trabalho com seus pais e amigas. Claro que ela fizera amizades no trabalho e se tornara bem próxima de suas ex-colegas de faculdade, porém ela era muito reservada e não se sentia à vontade para se abrir com as mesmas.

— Vamos. - chamou o pai - Sua avó está ansiosa para lhe ver.

Durante o trajeto entre as duas cidades durou um pouco mais de uma hora e meia e Lety passou todo o caminho cantando suas músicas favoritas, que seus pais carregaram em um pen drive.

Chegando à casa dos pais, onde ficaria temporariamente, ela teve uma bela surpresa.

— Bem-vindaaaaa!!! – gritaram todos assim que ela passou pela porta da sala.

Era sábado, dia internacional da faxina na casa dos seus pais, ela não esperava que toda a sua família e amigos mais próximos estariam reunidos ali, comemorando o seu retorno definitivo.

— Uaaaauuuuuuu!!!! – exclamou ela quando foi engolfada por um abraço coletivo. – Meu Deus! Gente, não sei o que dizer! – estava tão emocionada, ela sabia que era querida pela família, mas não imaginava tamanha demonstração de carinho.

— Não precisa dizer nada, apenas aproveite. Porque, agora que você voltou de vez, não terá outra festa dessa tão cedo. – respondeu Sandra, sua prima mais velha.

Todos riram e, assim que deixou suas malas no quarto, Lety foi arrastada para a sua festa. Logo estava envolvida nas conversas, dançando, rindo das piadas de George, seu tio materno mais velho, e já sendo novamente alvo das brincadeiras do irmão mais novo, Diego.

— Amiga! – Ingrid, sua melhor amiga, lhe chamou a atenção – Amanhã tem show dos Paralamas do Sucesso, você vai, e não tem desculpa, já descansou até lá.

Ingrid era assim, invasiva e espontânea além da conta. As duas eram opostos, apesar de compartilharem muitos pensamentos e ideias. Talvez fosse o contraste entre as duas que mantinha a amizade firme desde os onze anos, quando se conheceram na escola.

Numa noite de domingo...Onde histórias criam vida. Descubra agora