capítulo 11

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Nada ajudou. Passei metade da noite andando de um lado para outro em meu bangalô revivendo aquela conversa, pensando em respostas fulminantes, mas as palavras de Suppasit ainda me feriam como lâminas.

O trabalho também não ajudava. Não que eu tivesse conseguido fazer algo para ele.

Eu trabalhei a noite toda, mas nada conseguia impedir o eco das palavras dele em seu cérebro.

Ou o medo profundo dentro de mim de que ele pudesse estar certo.

Gulf parou e pensou.

Ele me acusou de ser covarde logo eu que tive que suportar tanta dor.

Gulf engoliu um soluço que estremeceu seu corpo inteiro.

Eu não gostava de sentir pena de mim mesmo. Não mesmo! Eu havia trabalhado muito para erguer o próprio negócio e garantir seu lugar no mundo.

O ar deixou seu peito como se ele tivesse levado uma facada nos pulmões. Gulf sentiu-se murchando e deixou-se cair sobre a cama.

Doía para respirar.

Então, respirou fundo trazendo o ar para dentro dos pulmões doloridos e a ansiedade mais uma vez se fez presente. Pela janela Gulf viu a luz dourada do amanhecer refletida no mar que vinha até ele.

Suppasit  estava certo.

Gulf estava com medo. Mais do que medo. Gulf estava apavorado.

Estive tão ocupado forçando-me a encarar o mundo, forçando-me a encontrar um emprego a construir uma carreira e ser independente que não percebi quando o cansaço havia gradualmente se transformando em retraimento, a independência em isolamento e o conforto da própria casa em uma cela.

Relutantemente, Gulf virou a cabeça. Sobre a cama estavam os itens que arremessara no auge da raiva. Um funcionário da boutique do resort os trouxe em sacolas cintilantes com laços prateados.

Um chapéu de abas largas. Um short claro de algum tecido macio. Uma camisa rosa, meio transparente, com uma etiqueta de marca. E uma sunga de banho. Havia até um par de sandália.

Tudo do meu tamanho.

Cada peça custava mais do que eu gastava com roupas durante o ano inteiro.

A ideia de Suppasit  comparando-as e o desafiando a usá-las o deixou mais enfurecido.

Como ele sabia tanto sobre mim? Para um mero funcionário ele havia investido tempo e esforço para entendê-lo como pessoa. Como alguém que importava. Ele o forçou a se reconhecer claramente pela primeira vez em anos.

A dor do autoconhecimento o partiu ao meio.

Cinco voltas na praia depois, o peito de Mew estava pegando fogo, seus braços e pernas pareciam gelatina de tanto nadar. Mas a exaustão não trazia nenhum alívio.

Mew passou a noite atormentado pelo rosto de Gulf.

Quem ele achava que era para dizer como Gulf deveria viver? Por que ele achava que sabia como era ser Gulf?

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