CAPÍTULO ÚNICO

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Era tarde da noite quando Camila entrou no metrô, tinha voltado de uma leitura de roteiro na casa de um colega de produção, os carros da composição estavam praticamente vazios, no vagão onde ela estava só havia um homem de meia idade roncando de puro cansaço decorrente do dia. Ela tinha inveja daquele cara, mas sabia que ao chegar em casa teria sua cama confortável, a privacidade de seu apartamento e o outro dia de folga para dormir o quanto quisesse.

O metrô parou por alguns segundos e Camila capturou um vislumbre de um tecido branco esvoaçando próximo a porta que se abria e a garota mais linda que ela tinha visto em toda sua vida entrou, vestindo um vestido de noiva esvoaçante e, pra ser sincera, meio cafona, o que não combinava em nada com sua beleza tão clássica. Outra coisa que em nada combinava com aquela beleza toda eram suas lágrimas que desciam negras por seu rosto de porcelana. A mulher a observou por alguns segundos e se sentou em um banco afastado dos dois passageiros já existentes.

Camila não queria ser indiscreta, mas era difícil tirar os olhos daquela visão. Além disso, queria esmurrar quem quer que tenha feito algo para deixar ela tão triste e naquela situação. Naquele momento ela ouviu resmungos vindo da parte de trás do vagão e em seguida viu a porta entre as partes da composição se abrirem e dois homens indubitavelmente embriagados falando alto e balançando junto com o trem, e como sempre é esperado que situações ruins piorem, os dois sussurraram e apontaram para a noiva e ela viu que era observada e tentou restringir seu choro e evitando cruzar olhares, até que ela começou a soluçar sem parar e voltou a chorar. Camila não podia ficar parada apenas observando a cena se desenrolar diante de seus olhos. Sem medo de parecer uma louca, agarrou a bolsa e se levantou, com passos confiantes caminhou até a mulher e sentou ao seu lado.

"Meus pais sempre disseram que eu sou uma boa ouvinte, e me parece que você precisa de alguém que te escute."

A mulher a observou e apenas chorou mais forte, acordando o senhor de meia idade que fingia dormir desde que os dois homens haviam o acordado, se levantou resmungando e passou para o vagão seguinte.

— Ok, meus pais também dizem que eu sou tagarela e consigo distrair as pessoas. Então, meu nome é Camila Cabello e eu sou uma atriz da Broadway. Na verdade, não exatamente, eu acabei de entrar em uma produção, não sei se conhece, é aquela que o Daniel Radcliff fez... não a do cavalo... aquela... Não que eu contracenei com ele, por que ele não está na peça...— Camila não recebia resposta alguma, então se calou. — Acho que não estou ajudando, mas eu não vou te deixar sozinha com dois homens bêbados no mesmo vagão...

—Por favor...— Em meio aos choramingos a voz da mulher se fez clara. — Eu só preciso que alguém fale alguma coisa a não ser me chamar de louca.

—Você não parece louca, na verdade parece alguém que teve uma clareza muito

grande nas últimas horas e está tendo dificuldade de processar o futuro.

— Obrigada...

— Por nada... Uh, qual seu nome? Não precisa dizer se não quiser, posso te chamar

de garota linda e corajosa no último trem.

A mulher riu sonoramente.

— Garanto que a última coisa que devo estar é linda... Meu nome é Lauren.

— Muito prazer Lauren, então, o que lhe traz a este encantador metrô na noite de hoje?

Camila perguntou guardando a bolsa no chão entre os pés.

—Acabei de fazer algo importante ou muito estúpido. Larguei meu noivo no altar e sai correndo das irmãs e da mãe dele que queriam me colocar de volta na igreja e que me forçaram a usar esse vestido horroroso!

Sinceramente, é uma situação estranha [camren] [oneshot] [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora