Prólogo.

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Avisos:

• Esse novo projeto é em conjunto com a cherrytude.

• Temos alguns capítulos prontos e pretendemos postar aos poucos, vamos continuar dependendo do feedback.

• Para quem leu "Acaso Prometido", os capítulos já estavam prontos, por isso a atualização era diária. A frequência dessa vez será menor, por favor, paciência.


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Minjeong.

Meus dedos seguraram firmemente a maçaneta da porta de madeira, o ranger ao abri-la denunciava a necessidade de troca das dobradiças, mas aquilo não me incomodava. Deixei a mochila escorrer do meu ombro, ao meu braço e cair ao lado do porta guarda chuvas, em seguida, suspirando pesadamente após mais um dia — e último — no emprego de meio período que havia conseguido durante as férias da escola. A pequena loja de  conveniência não pagava muito bem, mas era melhor do que nada.

Fui recebida por um silêncio ao qual estava habituada, às vezes sentia que morava sozinha e outras vezes eu desejava que não fosse apenas uma sensação.

O assoalho escuro e as luzes em um branco quente deveriam dar um ar de aconchego, mas sabia que aquela palavra não estava presente em minha casa, ao menos não mais.

Meus olhos não demoraram para encontrar garrafas de cervejas vazias sobre a mesa de centro na sala de estar e bitucas de cigarro caídas no tapete. Senti um forte cheiro de nicotina e álcool ao qual eu estava acostumando com o passar dos anos, mas não significava que odiava menos.

— Pai? — Chamei em um tom moderado, quase como se eu não quisesse ser ouvida. E realmente não queria.

Esperei poucos segundos e fiquei aliviada ao não obter resposta.

Caminhei até a sala para recolher as garrafas usadas e não segurei a careta ao sentir o cheiro ainda mais forte naquele cômodo. Por fim, levei as garrafas para a cozinha e as coloquei sobre a pia, não haviam louças sujas e isso me fez lembrar que raramente comia em casa.

Sempre dava um jeito de estar o mais longe possível daquele lugar que, para mim, poderia ser comparado a um inferno particular. Ainda voltei a sala para limpar também as bitucas de cigarro, mas sabia que assim que meu pai chegasse tudo voltaria ao normal. Sujo, bagunçado e muito diferente do que um dia aquela casa já foi.

Terminei brevemente o que fazia e peguei novamente a mochila, subindo as escadas em direção ao meu quarto, o único lugar daquela casa que eu conseguia manter organizado.

A cama perfeitamente arrumada e todas as coisas em seus devidos lugares eram consequências de ter uma chave que, na maioria das vezes, impedia a entrada do meu pai. Ele sabia da existência da mesma, mas nunca a encontrou e eu esperava que continuasse dessa forma.

Abri as longas cortinas e deixei a mochila sobre o assoalho em um lugar qualquer, o dia havia sido cansativo e logo tomaria um banho para tentar descansar. Meu olhar caiu sobre o livro posto em  cima do meu cobertor, tinha lido algumas páginas antes de dormir na noite anterior, mas aquele não era um livro qualquer.

Joguei-me sobre o colchão e estendi o livro ainda fechado a frente do meu corpo. Na capa, o nome "Redenção" em letras garrafais e logo abaixo o nome da autora "Kim Taeyeon", minha falecida mãe.

Eu já havia lido aquele livro incontáveis vezes, assim como todos os outros que possuía em minha estante. Adorava passar noites em meio aos enredos de romance policial aos quais sabia que saíram da mente da pessoa que eu mais admirava.

Ao abrir o mesmo em uma página qualquer, vi uma foto cair sobre o meu peito. Deixei o livro de lado e peguei o pequeno pedaço de papel encarando-o, sequer lembrava de quando coloquei aquela foto ali. Eu era bem mais nova quando aquela foto tinha sido tirada, talvez possuísse, no máximo, uns dez anos. Estava no colo da minha mãe, ela que tinha um sorriso largo desenhado no rosto, e ao lado da gente, meu pai também sorria.

Por um momento, pensei que aquela foto seria perfeita para colocar em um porta-retratos se essa ainda fosse a minha realidade, mas não era e nunca mais seria.

Pressionei os lábios ao sentir um incomodo em minha garganta e encarei o papel por mais um tempo, na foto era fácil notar o quanto eu era parecida fisicamente com a minha mãe e a heterocromia herdada dela não negava esse fato.

Meu olho esquerdo era verde, um forte contraste com o  direito em um tom claro de castanho, exatamente como os dela. Lembrava-me de quando era pequena e de como nunca me incomodei com aquela característica rara, adorava ter os olhos iguais aos da minha mãe.

— Eu sinto a sua falta, todos os dias. — O sussurro escapou dos meus lábios.

Nessas horas eu queria ser ouvida, queria gritar e poder voltar no tempo, mesmo que não fosse capaz de mudar nada.

Meus olhos admiraram a foto por um último momento antes de rasgar lentamente o pedaço de papel, deixando apenas duas figuras presentes. Em minha mão, a imagem faltante de meu pai foi amassada por entre meus dedos e jogada em um canto qualquer do quarto.

Odiava admitir, mas a minha vida era um completo caos e eu estava presa naquele emaranhado de incertezas ao qual fui obrigada a lidar.

Eu era uma incógnita para mim mesma.

𝗘𝗙𝗘𝗜𝗧𝗢 𝗖𝗥𝗢𝗠𝗜𝗔 | 𝗐𝗂𝗇𝗋𝗂𝗇𝖺 [𝗛𝗜𝗔𝗧𝗨𝗦]Onde histórias criam vida. Descubra agora