Capítulo IV - High School

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            O sol estava em chamas, brilhando e aquecendo aquela manhã. O céu estava límpido, as nuvens se escondiam, deixando o sol irradiar e predominar a atmosfera. Sakura se dirigia pra escola, seguindo mentalmente as coordenadas que sua tia havia lhe dado mais cedo. Volta e meia fechava os olhos para que os raios solares aquecessem seu rosto, sendo tomada pelo calor do dia. A fragrância e o frescor das flores que invadiam suas narinas a extasiavam. A menina segurava com força a alça da mochila, tentando ficar tranquila com a ideia de conhecer seus novos colegas.

Logo avistou a escola de ensino médio que passaria o restante do ano letivo, era enorme, ocupava uma quadra inteira. E como o restante da cidade, seguia um estilo neoclássico. Toda sua estrutura era cinza com pilares brancos, as únicas coisas que davam cor ao local eram as árvores velhas, mas bem cuidadas, com as copas repletas de folhas que balançavam conforme dançava o vento. Havia uma cerca enorme em seu redor, de ferro, pontiaguda como lanças de combate.

Acelerou o passo assim que verificou que vários estudantes adentravam a escola, com suas roupas escuras unânimes, o que faz Sakura se questionar se era alguma norma de vestimenta, pois a mesma vestia uma camiseta branca básica de manga comprida, uma saia plissada xadrez vermelha, meias 7/8 brancas e all star vermelho.

Os corredores lineares estavam lotados de alunos que conversavam e mexiam em seus armários, alheios com a menina nova que andava timidamente, com os passos curtos e demorados. Estava tão absorta tentando analisar cada rosto que ia e vinha, que não reparou que estava com os olhos arregalados, exibindo suas enormes orbes verdes, denunciando que estava completamente assustada e intoxicada pelos perfumes exagerados dos adolescentes.

Ela tinha alguns documentos que faltavam ser entregues na diretoria, retirou eles da mochila e marchou a sua procura. Na vã tentativa de tentar se esquivar dos estudantes que abarrotavam seu caminho, acabou esbarrando em um rapaz, que estava debruçado, rabiscando alguma coisa em seu caderno de bolso, enquanto estava escorado na parede. Os papéis que se encontravam em suas mãos, se espalharam pelo chão devido ao baque.

-Vê se olha por onde anda! – O menino resmungou mal humorado, destilando sua raiva para ela. Os dois agora se encontravam ajoelhados, recolhendo os documentos caídos.

Sakura ergueu seu olhar para ele, que não a fitava, exibindo seu nariz fino e pontudo voltado ao chão. Sua pele era tão clara e lisa, exalava um cheiro de cigarro e hortelã.

-Me desculpe! – Respondeu entre dentes e respirando fundo, o encarando com indiferença após o comentário maldoso. Erguendo-se quando todos os papéis estavam de volta em suas mãos.

O garoto a olhou sem expressão, entregando uma folha que restava à Sakura. Ela, por sua vez, pegou a folha calmamente, com a postura completamente dissimulada, tentando manter a pose, mesmo ele sendo totalmente incomplacente. Os olhos azuis dele eram indecifráveis, seus lábios rosados pareciam que tinham sido desenhados com aquarela, eram milimetricamente projetados para aquele rosto, igual ao seus cabelos negros, com todos os médios fios alinhados em um topete jogado para o lado. Seu maxilar e suas bochechas eram marcados, dando um visual magro, não fosse pelos músculos colados em sua camiseta preta.

Após o silêncio que se instalara entre os dois, Sakura reuniu toda sua coragem para seguir seu caminho, completamente calada. Chegou na diretoria e após entregar os documentos, seguiu a diretora Amélia, uma sujeita baixinha e gordinha, que tagarelava entusiasmada sobre algumas normas da escola e apontava para alguns diplomas e certificados que estavam pendurados nas paredes dos corredores. Foram até a sala dos professores, onde Sakura foi apresentada à um menino chamado Sebastian.

-Sakura, esse é Sebastian! – a diretora apontou para o menino, que as aguardava. –Ele vai acompanhar você até a sala de aula.

-Bom dia Sakura! – Sebastian sorriu quando os olhares dos dois se encontraram, ele a olhava de forma curiosa.

-Bom dia! – respondeu, devolvendo o sorriso enquanto trocava o apoio de uma perna para a outra.

-Você tem um nome...

-Diferente? – ela pediu rapidamente, interrompendo-o.

-Não. – Sebastian balbuciou constrangido. – Você tem um nome muito bonito.

Nesse momento, a diretora já não estava mais presente. E foi inevitável para ela ficar lisonjeada. Na maioria das vezes, o pessoal admitia que o nome dela era estranho, e já havia chegado a repreender seus pais mentalmente diversas vezes por darem para ela um nome tão extravagante, diga-se de passagem. Mas no final das contas, gostava muito dele, e não conseguia imaginar por um segundo sequer, se seu nome não fosse Sakura.

-Obrigada! – respondeu baixinho, enquanto o observava ajeitar a gravata azul listrada, acima da camisa social branca impecavelmente bem passada.

-Vamos, vou te levar para a nossa sala! – ele falou enquanto caminhava, olhando de relance com seus olhos castanhos, para ver se a menina o seguia. –Amélia falou que você é nova na cidade.

-Mais ou menos. –Sakura comentou. –Morava aqui quando era criança, mas me mudei para Geórgia, agora estou voltando!

-Deve ser uma droga se mudar no segundo ano do ensino médio! Ainda mais quando uma semana de aula já se passou. – ele falou enquanto coçava a ponta de seu queixo, parecendo estar pensativo. –Mas pensa pelo lado positivo, nossas turmas são bem pequenas. Você vai acabar conhecendo todos muito rápido, quando você menos esperar, já vai ter feito amizade com todos.

Assim que reparou na pitada de pânico de Sakura, Sebastian tocou seu braço gentilmente, e falou de forma tranquilizadora:

-Qualquer dúvida que você tiver, é só falar comigo! Eu te emprestarei meus cadernos para você copiar as matérias.

-Muito obrigada, vou precisar deles! – Ela respondeu dando um suspiro cúmplice e sorrindo. –Veja bem, a última preocupação que eu preciso no momento é matéria acumulada.

-Bom, aqui é a nossa sala! – Ele a fitou sério, enquanto arrumava uma mechinha loira de seu cabelo que pendia sob sua testa. –Estamos um pouco atrasados, mas hoje não irá ter problema.

Sakura respirou fundo antes de adentrarem na sala, todos os olhares se voltaram em sua direção. Sebastian prontamente sentou-se na primeira cadeira na segunda fileira e a encarava de forma encorajadora. Ela passou os olhos sorrateiramente pela sala e na quarta cadeira ao lado da janela, avistou o menino mal educado que tivera um encontro logo cedo. Ele olhava para fora, como se não se importasse com sua presença ali, diferente dos demais alunos que se calaram ao vê-la, esperando que se apresentasse. 

A Maldição da Flor de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora