Uma carta para M'Lady

Uma carta a M'lady

Chat Noir tinha marcado comigo para encontrá-lo a noite no Jardins du Trocadero. Já tinha renovado a ele que não poderíamos tem nada em comum, precisávamos preservas as identidades, precisávamos derrotar Shadow Moth. Porém ele argumentou que era importante e que nada tinha a ver com seus sentimentos por mim. Já estava esperando ali há alguns minutos e havia chegado no horário combinado, mas não havia sinal de Chat Noir, quando recebi uma ligação de um telefone público.

— Sinto muito M'Lady, não comparecerei, mas se olhar embaixo do terceiro branco a sua direita há algo ali que encontrará facilmente. — Logo depois o clique do telefone sendo desligado, quando olhei o número de origem apontava um número desconhecido, possivelmente de algum cartão novo e não do telefone do Chat. Na hora fiquei com muita raiva! Não era simples me desvencilhar dos meus amigos e atividades para ir a algo combinado apenas para receber uma mensagem destas. Se fosse mais uma das brincadeiras fora de hora do Chat Noir ele iria escutar muito.

Fazer o quê? Procurei pelo banco em questão para encontrar seja lá o que for que ele tivesse deixado ali, fosse uma rosa o faria engolir até com os espinhos! Já estava de saco cheio de receber rosas! Mas quando notei o que havia ali meu sangue gelou nas veias e achei que seria algum tipo de brincadeira de mal gosto muito maior. Uma caixinha de miraculous com um envelope todo branco escrito apenas M'Lady.

Assim que peguei e abri a caixa Plagg surgiu e voou em algumas direções, olhando e procurando. Ele tentava falar, mas saiam apenas bolhas de sua boca, até que depois de um tempo ele se acalmou e sentou na palma de minha mão.

— Eu sinto muito Ladybug! Eu sinto tanto! O ... (bolhas) disse que não poderia continuar nessa situação mesmo que ser Chat Noir fosse uma das coisas que ele mais gostava. Sendo que só se sentia ele mesmo como Chat Noir!

— Mas o que aconteceu, Plagg?! Estávamos tão perto de pegar Shadow Moth...

Não dava para ficar ali conversando com Plagg no meio da passagem pública nem mesmo para ler a carta que Chat Noir havia deixado, pois estava escuro. Acomodei o anel no bugfone avisando para Plagg que falaríamos quando eu estivesse em casa, desta forma também saber o que havia no envelope que fora deixado. Chegando em casa entrei logo pelo alçapão e liguei a iluminação da mesa para ver o que havia no envelope e abrindo tirei de lá de dentro a seguinte carta.

" M'Lady,

Imagino que você esteja brava comigo e se sentindo traída pelo que fiz, ou talvez nossa parceria já fosse algo tão desgastado que já tenha em mente alguém melhor para me substituir... Não faz diferença. Imagino que talvez você pudesse entrar em contado com a Aeon ou buscar descobrir quem sou de alguma forma. Por favor, por todas as lutas que estivemos lado a lado, por cada vitória e cada problema enfrentado, não me procure.

Eu pensei por muitos dias antes de decidir e acredite, desistir de ser Chat Noir é algo que me afeta enormemente. Eu nunca menti para você quando disse que a melhor coisa do meu dia era quando estava como Chat Noir lutando a seu lado.

Então qual o porquê disto? Bem... Estando com você sempre ao meu lado não consigo deixar de gostar de você, não apenas como minha parceira, mas como a garota que eu amo. E depois de muito me machucar com pequenas coisas cheguei a conclusão que você nunca irá me ver da mesma forma. Gostaria de continuar apenas como amigo e parceiro, mas por conta de pequenas coisas que foram acontecendo fui me amargurando a ponto de simplesmente não conseguir mais.

Eu me lembro como se estivesse gravado a fogo em minha memória as duras palavras que você me disse em NY quando um amok destruiu Paris. Você discutiu comigo no meio da luta o quão irresponsável eu havia sido. Admito que fui, mas aquele não era o momento de uma discussão daquela. E pensando em retrospectiva, se eu estivesse em Paris não haveria nada que eu pudesse fazer que poderia resolver a destruição causada... Mas eu havia errado e precisava fazer melhor, então aceitei o anel que pediu que a Aeon me devolvesse.

Então estávamos novamente em Paris, e em inúmeros momentos não consegui fazer minha parte por simplesmente chegar tarde demais. Até que e em um momento de um akuma surge uma outra Bug, Escarabella. Eu tinha certeza que algo estava errado, se houvesse algum problema eu seria o primeiro a saber, eu era seu parceiro. Mas durante a luta tive que aceitar que realmente a nova heroína estava ali por que algo muito importante a impediu de vir, acontece, acontecia mais frequentemente comigo. Mas... Mas alguém sabia seu segredo? Depois de ouvir tantas e tantas vezes que ninguém poderia saber? Depois que eu fui deixado no escuro por todo o tempo? Reconsiderei meus pensamentos, se algo ocorresse comigo e eu soubesse sua identidade Shadow Moth poderia conseguir seu miraculous, mas ficou uma dúvida, não aconteceria exatamente a mesma coisa se algum akuma pegasse por acaso a pessoa a quem você confiou seu segredo?

Como eu sempre fui um cara simples achei melhor parar de pensar sobre aquilo e você deveria ter bons motivos para confiar em alguém e não em mim. Então descobri que há outros heróis que sabem as identidades, mas nós dois não poderíamos saber. Fiquei me perguntando o quão mais confiáveis são essas pessoas nas quais você confia que deixaram o segredo escapar com tanta facilidade. Daí cheguei a conclusão óbvia: o problema não são elas, sou eu.

Durante todo esse tempo ao seu lado eu dei o meu melhor, mesmo sendo mantido no escuro em tudo. Mas eu concluí que sempre fui simples demais para ser um bom parceiro. Perguntei-me por alguns momentos se deveria ter respeitado o seu pedido quando não abrir a porta do quarto de vassouras onde você já estava sem seu traje especial, e perguntei se não deveria ter aberto os olhos dentro daquele container quando enfrentamos o coruja negra... Isso fazia de mim confiável ou trouxa?

Machuca-me demais estar ao seu lado sabendo que para você eu sou apenas um trouxa qualquer que vai aceitar qualquer coisa que você ache que é melhor em qualquer situação. De que valem suas palavras dizendo que você "Nunca vai me abandonar." sendo que você nunca esteve realmente do meu lado? Você nunca se perguntou por que uma vez ou outra eu simplesmente não consegui aparecer? Fez alguma diferença para você? Você teve problemas quando assumiu a caixa dos miraculous e eu tentei te apoiar como pude. Eu fiz patrulhas solitárias por que sei que em muitos momentos simplesmente não dá para chegar lá. Comecei a me perguntar com cada vez mais frequência se não era eu que estava no lugar errado.

Eu lutava ao seu lado, mas você confia mais em outros do que em mim. Todas as minhas dificuldades, medos e dúvidas nunca são levados em consideração. Cada um dos meus erros é apontado e criticado prontamente. Mas você "nunca vai me abandonar"... E de que vale isso se nunca terei uma chance com você e se você provavelmente poderá me substituir por alguma outra pessoa em quem confia mais?

A dor de ser Chat Noir se tornou muito maior do que o prazer. Eu preciso dar a mim mesmo a chance de encontrar uma pessoa que goste de mim como eu sou e quando encontrar quero estar livre do sentimento que tenho por você. Eu não posso mais ficar me torturando estando sempre ao seu lado sem qualquer retribuição ou um mínimo reconhecimento.

Por favor, peça desculpas ao Plagg por mim, mas eu preciso fazer algo mais da minha vida do que ficar correndo pelos telhados de Paris. Eu preciso parar de me esconder atrás desta máscara para ser quem eu sou. E quem sabe assim encontrar pessoas que gostem de mim pelo que eu sou e não por quem elas acham que eu devo ser.

Sem mais,

O que um dia foi o Chat Noir."

Aquelas linhas me machucavam de uma forma que nunca achei que fosse possível, as lágrimas escorriam e pingavam no papel sem conseguir tirar o aperto que eu sentia por todo o mal que eu tinha feito ao Chat.

Eu tinha pedido para o Chat fingir que gostava de mim contra o Glaciator, mesmo sabendo que ele gostava e eu nunca planejava corresponder. Eu sempre fiz pouco caso do que ele sentia por mim, mas ao invés disso fazê-lo deixar de gostar apenas o havia machucado a cada vez! E mesmo assim eu realmente tinha contado que ele estaria sempre ali quando eu precisasse. E agora que ele não estava? E agora o que eu ia fazer?