DEPRESSION || shiita

tears

Shisui caiu sobre a cama desarrumada sentindo o peso do mundo esmagar suas costas.

As juntas do corpo doíam, a cabeça queimava e pesava se afundando cada vez mais no travesseiro, os olhos simplesmente não conseguiam manter-se abertos.

Repassou rapidamente os acontecimentos dos últimos meses na própria cabeça e sem que pudesse controlar, sentiu os olhos se umedecerem. Só conseguia sussurrar palavrões a si mesmo como se isso fosse resolver qualquer um de seus problemas. Não estudava o que queria na faculdade, havia perdido o emprego e voltado para a casa dos pais, teve que largar as consultas psiquiátricas por falta de dinheiro e como se não fosse o bastante, havia tido a notícia de que sua ex namorada estava noiva no auge de seus vinte e dois anos após terminar com ele alegando que não estava pronta para um compromisso.

Que merda eu tô fazendo de errado?

Repetia aquela frase cada vez que algo o decepcionava em seu dia, e acredite, era mais recorrente do que Shisui gostaria.

O cansaço mental somado a uma ansiedade forte e não tratada estava gradualmente, desencadeando uma possível depressão. Shisui não percebia, a doença estava chegando devagar e se manifestando de forma sutil quando, por exemplo, esquecia a data de entrega de algum trabalho da faculdade ou tropeçava na guitarra de Sasuke pela casa de sua tia. Nesses momentos, o Uchiha desejava literalmente, morrer. A situação se igualava ao fim do mundo. Os olhos instantaneamente ficavam aquosos, o coração acelerava e uma cortina preta tomava conta de seus pensamentos, o dia acabava ali independentemente do quão cedo fosse.

Estava esgotado.

Tentava encontrar motivação em seus colegas, estes que pareciam estar com a vida feita mesmo estando na faixa etária de dezoito a vinte e três. Alguns namorando, outros estudando excessivamente no curso em que sempre sonharam e os mais precoces ― lê-se: descuidados ― esperando filhos ou os carregando no colo. Shisui os observava de longe, felizes apesar das dificuldades, e sentia-se deslocado. Completamente perdido. Não conseguia pensar em uma coisa sequer que estivesse nos eixos ou ao menos melhorando gradualmente em sua vida. Tudo piorava a cada instante, pesava mais, o destruía. E no dia seguinte, o ciclo se repetia, tão intenso e dolorido quanto anteriormente.

Ao mesmo tempo, tinha conhecimento de seus privilégios comparado a outras pessoas de sua idade. Passar em uma das faculdades mais concorridas do país era o sonho de qualquer vestibulando independente do curso ou situação financeira, e Shisui fizera isso ― completamente bêbado durante a prova e obrigado pelos pais ― sem esforço algum. Já havia decorado o sorriso forçado que deveria abrir quando ouvisse algum elogio sobre seu feito que orgulharia qualquer pai, e cada vez que isso acontecia, era mais constrangedor. Não merecia ter passado e sabia disso. Tentou a todo custo convencer seus pais durante o ensino médio que não queria ter um ensino superior e tentaria ganhar a vida sendo tatuador, sonho este que fora adquirido logo após ter seu primeiro rabisco no corpo aos quinze anos; mas nada funcionou. Os Uchihas eram tradicionais e conservadores demais para isso.

O que diriam no almoço em família sobre si se decidisse seguir com aquele plano maluco?

Seus pais, assim como qualquer um de seus tios, amavam se gabar dos respectivos filhos e faziam isso como ninguém, disputando inconscientemente entre si para ver quem possuía o primogênito com mais conquistas e diplomas pendurados em paredes. Sabendo disso, Shisui não viu opção a não ser se embebedar antes de fazer a prova, respondendo apenas as matérias que possuía mais facilidade e enrolando o tema da redação em letras grandes e adjetivos demais. Afinal, seus pais corrigiriam o caderno de questões assim que chegasse em casa, não poderia se dar ao luxo de não respondê-lo. O QI da família riu de sua tentativa de fracassar, o fez passar em vigésimo oitavo lugar em uma lista de cinquenta vagas. Não era uma posição boa o suficiente para ser esbanjada dentro de qualquer mansão Uchiha, mas para seus pais, já era alguma coisa.