Parte 1

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Aos 13 anos de idade, a família de Marie Andersen se muda do interior da Califórnia para a vultuosa metrópole que é Nova Iorque. O pai de Marie é um respeitável médico cardiologista e sua mãe, herdeira de uma importante vinícola italiana.

Desde pequena, Marie está prometida em casamento para o filho de outro grande produtor de vinho, com a intenção de união das duas notáveis vinícolas. Marie não sabia desse matrimônio, até seus 18 anos.

Em seu primeiro dia de aula ela esbarra em Johnathan Anthony Miller, um garoto bem simples, dois anos mais velho que ela que logo se torna um grande amigo. John e Marie são, financeiramente, muito diferentes, de modo que os pais de Marie acabam proibindo essa nova e crescente amizade. Mas, o que é uma proibição para dois adolescentes?

Conforme o tempo foi passando, uma comum amizade se tornou algo mais significativo, e as fagulhas da paixão começaram a aparecer, transformando os melhores amigos em amantes.

Marie, agora com seus 18 anos, se vê cada dia mais apaixonada por aquele que domina seus pensamentos diários, John, seu primeiro amor – não que ela entenda exatamente esse sentimento.

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15 de agosto de 1960

John estava sentado em um banco - aquele que se tornou especial para ele e Marie – na ponte Brooklyn Bridge esperando por seu amor. Todo dia, 13:00 da tarde, eles se encontram nesse mesmo lugar. John traz sempre consigo um girassol, a flor favorita de Marie, e eles conversam até quase ao entardecer.

Esse dia nublado de outono promete ser o mais especial de todos, John pretende pedir a mão de Marie em casamento. Ele sabe que os pais da amada nunca aceitarão esse noivado, mas o amor deles pode superar qualquer obstáculo, e ele provará que é digno do amor de Marie, sua estonteante e doce Marie.

A ansiedade de John chega junto a uma sensação estranha cravada em seu peito, quase como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. E é quando ela chega que ele percebe que essa sensação, na verdade, é um aviso, um aviso de que seu coração será quebrado, sem chance de concerto.

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Marie, como sempre, estava ansiosa pela tarde, ansiosa para encontrar John, para matar a saudade que sente do amado. Quando estava prestes a sair, sua mãe lhe chama para uma conversa importante e uma bomba cai sobre ela, dilacerando parte de seu coração. Ela descobre tudo: a promessa, o noivado, descobre que seus pais sabem de seu romance proibido e descobre que terá que terminar de destruir o que resta de seu coração e deixar seu grande amor.

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Ver John, seu lindo e amável John, segurando aquele perfeito girassol fez outro pedaço de seu frágil coração se quebrar. Como ela será capaz de viver sem sua alma gêmea? Como ela pode sequer pensar em partir o coração do jovem que lhe ensinou o que é o amor? Então ela caminhou até o rapaz, que tinha um sorriso hesitante no rosto. Ah, ele sabe que há algo de errado, ele sempre sabe.

Quando chegou a seu encontro, John correu para beijá-la, mas ela se esquivou, como nunca havia feito antes.

"Amor, há algo errado?" – perguntou John com um tom preocupado. Nesse momento, os olhos dela já estavam cheios de lágrimas, que ela se esforçou muito para não deixar cair.

"Eu não posso mais" – respondeu ela, sussurrando – "eu queria, mas não posso".

"O que você não pode, amor?".

"Não posso mais ficar com você. Eu não posso mais" – as lágrimas teimosas insistem em cair, mas ela não pode. Tudo ficará muito mais difícil se ela chorar – "meus pais, eles descobriram tudo".

"A gente vai passar por cima disso" – John diz com uma voz angustiante.

"Desculpa, vai ser melhor assim, não fomos feitos um para o outro" – é claro que ela não fala sério. Eles são os mais perfeitos seres, são feitos para ficarem juntos.

"Marie, que besteira você está falando?! Eu te amo" – John não quer acreditar nas palavras que saem da boca da amada e uma lágrima grossa cai em sua bochecha.

"Mas eu não, desculpa" – por fim, Marie diz - agora com a voz embargada pelo choro - e vai embora sem dar mais explicações, deixando um rapaz paralisado e com o coração em pedaços.

Na noite desse fatídico dia, John demorou a dormir, pensando no que pode ter ocorrido para Marie romper com ele.

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16 de agosto de 1960

Existem 5 fases do luto após o fim de um relacionamento, John já passou por duas delas – negação e raiva – e está na terceira: negociação. Por isso, ele decide ir atrás de respostas, ele precisa de respostas, precisa entender o motivo do término. Como é possível que em um dia esteja tudo bem e, do nada, tudo desmorona? – "deve haver alguma coisa" - pensou ele.

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17 de agosto de 1960

"Ela vai se casar"

Ca-sar

CASAR!!

John não acreditou quando descobriu, "COMO ASSIM ELA VAI SE CASAR?" – esse é um pensamento recorrente na cabeça dele. "Ela vai se casar. Quando ela sequer teve tempo para conhecer alguém?" – John falava sozinho enquanto andava pelas ruas. Quem passa, pensa que enlouqueceu – "não, ela me ama, eu tenho certeza disso. Mas, então por que ela está noiva de outro homem?" – John continuou em seu monólogo até que teve uma ideia e decidiu tomar uma atitude. Fugir. É isso, ele vai lhe propor uma fuga.

Sentado em sua mesa, ele começa a escrever a carta – que talvez seja a mais importante de sua vida. Nela, ele expressa suas indignações, expõe seus mais profundos sentimentos e propõe a fuga. "Esperarei por você amanhã, no nosso banco, na grande Brooklyn Bridge, às 13hrs. Se você não for, saberei sua resposta. Pronto, agora basta eu entregá-la." – murmurou para si mesmo.

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Johnathan chegou em frente à casa de Marie, sua ideia era deixar a carta, bater na porta e sair de lá antes que alguém o veja. Quando se preparou para bater, um rapaz saiu pela porta – era bonito, deveria ter uns 25 anos – e logo perguntou ao John: "Posso ajudar?" – John, com medo de ser pego pelos pais da amada, decidiu fazer algo que seria a pior burrada da sua vida e a responsável por terminar de destruir seu coração – ele só não sabia disso naquele momento.

"Sim. Pode entregar isso para a senhorita Andersen, por favor?" – o rapaz somente assentiu e voltou para dentro da casa. John foi embora com esperanças de que, no próximo dia, tudo se resolva.

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18 de agosto de 1960

E lá está ele, esperando há tempos pela sua amada, no banco, localizado na grande Brooklyn Bridge. Dizem que a esperança é a última que morre, John está começando a desacreditar nisso. O rapaz olha as horas, 13:52, o som dos barcos só o deixa mais ansioso, já era para ela estar aqui.

"Será que ela não vem?" – esse é um pensamento recorrente a John.

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Ele olha no relógio, 15:36, então decide voltar para casa. Mas ele não irá desistir. O amor que sente por ela é grande demais para desanimar. Nesse momento John ainda não sabe, mas ele nunca se casará, afinal, como é possível amar alguém sem um coração – já que o seu, há muito tempo, foi dado a uma linda moça de olhos caramelo. E ele voltará - todos os dias, no mesmo horário - nesse mesmo banco com a esperança de, um dia, reencontrar seu primeiro e único amor.

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Além do tempo | Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora