Capítulo 10

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Josh Beauchamp

Enquanto a água quente molhava o meu cabelo, meu ombro seguia apoiado na parede ao lado. A verdade é que eu estava enrolando no banho para não ter que lidar com o que me esperava fora dele. Pra qualquer pessoa normal, o dia do seu aniversário é uma coisa especial e feliz, mas eu não sou uma pessoa normal.

Aos nove anos de idade, foi a primeira vez em que me senti totalmente desamparado e esquecido dentro da minha própria casa. Desde que comecei a demonstrar interesse pela arte, mais especificamente pela dança e pela música, meu pai deu um jeito de me bloquear da vida dele. Naquele dia, eu acordei muito cedo devido a ansiedade para comemorar o meu aniversário. Assim como no ano anterior, Joalin e Nicholas dormiram no meu quarto para que fossem os primeiros a me dar os parabéns quando acordamos, e assim o fizeram. Me lembro como se fosse ontem de todos os pequenos detalhes daquele dia; as plumas do travesseiro voando pelo quarto após uma super batalha que nós três travamos, o cheiro do sabonete após o banho que mamãe nos fez tomar juntos antes de descer para o café, o choro de Joalin para pentear o cabelo, o jogo que mamãe me deu escondido e, até então, eu não entendia o motivo daquilo... Mas, quando descemos, eu entendi. Era um dia normal. Um café da manhã normal. Não teve bolo com cobertura de marshmallow e confetes. Não teve um "parabéns pra você" cantado pela nossa família ao redor da mesa. Tudo o que tive, foi um pai mal humorado lendo o seu jornal, uma mãe aparentemente triste e meus irmãos que não entenderam nada daquilo. E eu também não. Afinal, eu era só uma criança. No fim do dia, meu pai não voltou pra casa depois do trabalho. Mamãe nos acordou tarde da noite para cantarmos parabéns com um cupcake do mercado. E foi a partir dali, que tudo começou a mudar. 

Com os olhos ainda fechados, tateei a parede em busca da torneira e assim finalizei o meu banho. Enrolei a toalha na minha cintura e com muita lentidão, escovei os dentes e me vesti. Quando abri a porta do banheiro, encarei aquelas três pessoas amontoadas na minha cama; Nicholas, Joalin e Any. Desviei o olhar rapidamente para o relógio na parede e respirei fundo, andando na direção deles enquanto passava a mão para "pentear" o cabelo. De certa forma, me sentia aliviado pelo fato dos meus pais não estarem em casa naquela noite.

23h38. Droga, não enrolei tempo o suficiente.

- Eu não imaginei que você viria. - Murmurei para a cacheada, me sentando ao lado da minha irmã na cama que agora parecia pequena demais. 

- E perder o primeiro minuto do seu aniversário? Jamais. - Ela respondeu, me fazendo sorrir fraco. Apanhei o controle da televisão e, mesmo sob protestos, mudei o canal. Meus irmãos sempre dormiam no meu quarto na véspera do meu aniversário pra me dar os parabéns no primeiro minuto, e dessa vez Any decidiu se juntar a eles. Mas espera, ela vai dormir aqui? Senti a minha boca seca e pigarreei, umedecendo os lábios com a língua em seguida.

Os três agora estavam discutindo a respeito de um programa qualquer, quando Any recebeu uma notificação em seu celular e encarou meu irmão. Quando dei por mim, a mesma já havia deixado o meu quarto.

- Ela só foi tomar uma água... - Nico disse de imediato, me fazendo franzir o cenho. Eles estavam aprontando alguma coisa.

23h56.

Eu me sinto uma completa confusão. Não sou uma pessoa digna do amor de ninguém, sou uma decepção pra todo mundo, inclusive pra mim mesmo, mas ainda assim, meus irmão se esforçam pra me fazer sentir amado.

É surreal a forma como nos amamos sem medidas. Eu nunca soube amar ninguém, porque a única pessoa a quem tentei entregar o meu coração, pisou nele. E isso me bloqueou para o amor de uma forma difícil demais de explicar. Mas tudo isso sempre se anulou quando se trata dos gêmeos; Nicholas e Joalin tem tudo de mim sem qualquer esforço. Eles foram a única coisa boa que meu pai foi capaz de nos dar. Eu daria a minha vida por eles. Eu faria qualquer coisa pra que eles fossem felizes, e é por isso que eu sigo respirando.

Black KeysOnde histórias criam vida. Descubra agora