Parte III - 48 horas

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"Uma fotografia é um segredo de um segredo. Quanto mais ela te fala, menos você sabe." - Diana Arbus. 



Achei a atitude do Bob extremamente babaca, mas a reação da Anastasia me intrigou. 
Apesar de ter demonstrado certo incômodo, a morena não teve a reação explosiva que nós todos esperávamos. 
- Eu hein?! Pensei que a Anastasia ia surtar quando visse o ex-marido. - Ethan comentou se escorando na parede - Mas ela ficou praticamente inerte. 
- É como se ela não se importasse com mais nada mesmo. - Kate analisou - E estivesse conformada com seu destino. - Deu de ombros - Isso até faz sentido pois ao contrário dele, ela parece arrependida dos tais crimes. Mas... Sei lá! Sinto que tem algo errado aí. 
- Pois é. Enfim, vamos entrevista-los novamente. - Falei esfregando uma mão na outra. 
[...]
- Como foi para você esse encontro com  Anastasia, Bob? - Ethan iniciou a entrevista.
- Foi legal, divertido. Vocês viram como ela está acabada? Nem parece que ainda está na casa dos trinta anos. E pensar que quando a conheci, era uma bonequinha de uns quinze anos. Olha o que tempo faz com as pessoas, não é mesmo?! - Bob ironizou e Ethan revirou os olhos. 
- E os corpos das garotas? Vai nos revelar de uma vez por todas onde estão? - Katherine questionou apoiando as mãos na mesa. 
- Trouxeram minha bebida como pedi?
- Você sabe que não pode consumir bebida alcóolica aqui, Bob. - Relembrei. 
- Qual é agente Grey?! Daqui a 48 horas, vou estar no inferno. Uma bebidinha seria ótimo para dar uma refrescada, sabe? Já que dizem que estou indo para um lugar bastante quente. - O canalha continuou com as piadinhas infâmes. 
- É, mas quem garante que você vai nos revelar mesmo se trouxermos essa maldita bebida? - Ethan perguntou - No passado  você fazia o mesmo. Quer saber? Vamos deixar você aqui e perguntar tudo para sua ex-mulher. 
- Ela não sabe!
- Como não sabe?! Você não disse que ela era sua cúmplice? - O moreno desviou o olhar. 
- E era, mas há coisas que só eu sei. Só eu sei! - Reforçou abrindo aquele sorriso podre de novo na cara. - É isso, tragam minha bebida e tentem a sorte! 
[...]
Após a entrevista fustrada com Bob, tive uma ideia. 
Preciso cumprir minha promessa a Mia e descobrir se Anastasia matou ou não aquelas garotas. 
Mas só há um jeito de descobrir. 
- Cadê os outros agentes? - Anastasia perguntou assim que entrei na sala de visitas, com uma pasta nas mãos. 
- Estão com Bob. - Menti pois na verdade, Katherine e Ethan estão lá fora, acompanhando o interrogatório através da câmera de segurança que há aqui dentro.  
Optei por entrar sozinho como estratégia do meu novo plano. 
- Quero conversar a sós com você. 
- Diga. - A morena respirou fundo, enquanto eu abria minha pasta - Apesar de que acho que não temos mais o que conversar.
- Ah, temos sim. - Afirmei - Conhece essas mulheres? - Perguntei colocando uma série de fotos sob a mesa - Sabe quem são? As suas vítimas. 
- É, são sim. - Ela olhou rapidamente para as fotos e virou o rosto. 
- E sabe quem são essas daqui? - Coloquei outras fotos em cima - Os corpos delas. Das que foram encontradas, né? Já que não temos o paradeiro de pelo menos cinco vítimas. OLHA! - Bati com a mão na mesa, assustando Anastasia que olhou para as fotos e engoliu em seco.
Em questão de segundos, seus olhos se encheram de lágrimas.
- Não sou obrigada a ver isso. Quero voltar pra minha cela agora. - Virou o rosto para o lado novamente. 
- Por quê? Se você é a merda de uma assassina, qual o problema de ver o resultado das suas atitudes?!
- Por favor, me deixa voltar pra minha cela. - Anastasia insistiu, com a voz trêmula. 
- Não! Você só vai voltar quando eu quiser! E a nossa conversa está tão boa, tão agradável. Não é mesmo?! Olha pra essas malditas fotos! - Mandei em tom ameaçador. 
- Eu não consigo, eu não consigo. - A morena se desesperou e começou a chorar, cobrindo o rosto entre as mãos - Eu não...
- VOCÊ NÃO AS MATOU? RESPONDE! - Bati com a mão na mesa novamente a fim de assusta-la. 
Deu certo pois ela se alterou novamente. 
- NÃO! Era isso que você queria ouvir? Pois bem, a resposta é não! - Repetiu se levantando da cadeira e quando se deu conta do que disse, se sentou novamente,  chocada com sua atitude - Droga! - Resmungou. 
- Por que assumiu a culpa então? - Me sentei na frente dela, agora mais calmo. 
Sabia que ela não tinha matado aquelas mulheres.
Sabia!
- Minha vida acabou há muito tempo, Christian. Quando me casei com Bob, quando descobri anos depois o que ele fazia. E na verdade, eu também sou culpada - Deu de ombros - Afinal, Bob cometia aqueles crimes debaixo do meu nariz e eu nunca... Nunca percebi. Pior, sequer me interessei em perceber alguma coisa. Pra mim, era ótimo quando ele sumia para não ter que aguenta-lo dentro de casa. Nunca tentei descobrir o que ele tanto fazia naquele celeiro. Eu também tenho culpa, Christian. Eu sei que tenho! - Continuou chorando. 
- Você não tem. - Segurei a mão dela que se surpreendeu com meu carinho. 
- Tenho sim. Se eu tivesse procurado saber o que acontecia ali, teria evitado muitas mortes.  
- Sinto muito. - Continuei segurando a mão dela, que era áspera e gélida. 
- E a sua filha? Phoebe. 
- Está em um lugar melhor. 
- Você a matou? 
- Phoebe não podia mais viver naquele ambiente. O que seria do futuro dela?! 
- E você preferiu acabar com o futuro dela antes, sem lhe dar chances?
- Phoebe não tinha mais chance alguma. - Deu de ombros novamente - Filha de um casal de psicopatas? Não tinha, estaria marcada pelo resto da vida. Quero ir pra minha cela. Agora. - Insistiu. 
- Está bem. Pode ir então. - Concordei e o policial ajudou a morena a sair. 
Porém, meu plano ainda não acabou. 
Não mesmo. 
[...]
- O que está fazendo aqui na minha cela? - Ana perguntou surpresa, enquanto o guarda abria a cela dela para eu entrar. 
- Nossa conversa ainda não acabou. - Avisei. 
- O que mais quer de mim? - Ana perguntou irritada, e olhei ao meu redor. 
A cela dela era escura, com alguns livros e fotografias de Phoebe, ainda criança, espalhadas pelas paredes, junto com alguns desenhos infantis. 
Como em todas as fotos de Mia, ambas pareciam muito felizes. 
- Você diz que matar sua filha foi uma espécie de tiro de misericórdia. Não é?
- Como disse antes, Phoebe não tinha chances.
- Uhum - Vi também, algumas folhas de revistas, com dezenas dançarinas de balé, em cima de uma pequena mesinha feita de cimento - Você gosta de balé clássico?

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