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André

— Se meus avós estiverem envolvidos nisso, eu nunca vou perdoá-los. — João Paulo lamentou enquanto subíamos o elevador do prédio dos pais de Milena. Os olhos do garoto estavam avermelhados e doía muito vê-lo daquela maneira.

Olhando para ele eu enxergava muito de mim no passado.

Ele realmente estava fora de si, o elevador parou e ele faltou pouco para arrancar as portas. Segundos depois ele já estava em frente ao apartamento, batendo com tanta força contra a porta de madeira que me vi obrigado a segurá-lo para impedi-lo de machucar os dedos.

— Calma garoto, não é assim que se resolve as coisas. Você precisa ficar calmo pra gente conseguir conversar, arrancar alguma informação. — Dei dois tapas nas suas costas, deixando o garoto mais contido.

Foram longos minutos até a senhora de cabelos loiros curtos, e rosto visivelmente cansado abrir as portas. A mãe da Milena parecia ter envelhecido 20 anos em apenas dez. O tempo definitivamente não fez bem para ela, mas não a ponto de me esquecer. A primeira pessoa que seus olhos encontraram foi eu, ela com certeza devia se lembrar daquele menino bobo e ingênuo que ficou se humilhando no dia do casamento da sua única filha.

— Olá... — Não havia ânimo na sua voz, por isso nem criei a expectativa de que ele fosse nos convidar para tomar um cafezinho.

— Marina, a senhora sabe muito bem o motivo da gente está aqui. A Milena sumiu e até agora não apareceu. Por favor, caso a senhora saiba de alguma coisa, não deixe de nos contar. — Letícia foi super educada, diferente de João Paulo que de cara perdeu a paciência.

— Minha mãe sumiu depois de ter sido agredida pelo desgraçado do meu pai. Durante toda nossa vida vó, ela foi tratada como saco de pancadas e pelo jeito vocês sabiam disso já que a situação se repetiu na frente de vocês e ninguém fez porra nenhuma!

A senhora engoliu o bolo na garganta e abaixou a cabeça.

— Ela não apareceu até agora. Ao menos ligou para vocês?

— Não. A Mile simplesmente sumiu do mapa, o que é muito estranho já que ninguém tem notícias do Vicente também. — Letícia reclamou.

— Entrem, vou ligar para o Otávio, talvez ele saiba de alguma coisa.

Entrei, mas com receio. O apartamento deles era lindo, aconchegante, com um toque bem Bossa Nova na década de 90. Se fosse há alguns anos eu estaria encantado por estar ali dentro, mas hoje vivo numa cobertura pelo menos 3x superior a essa. Prova de como o mundo dá voltas e que nada nessa vida é permanente.

Fomos convidados a sentar e logo a empregada da casa nos serviu café.

— O Otávio não atende. — A senhora surgiu na sala com a feição um tanto entristecida. — Meu marido não costuma me atender e raramente vem em casa.

— Estão se separando Marina? — Letícia perguntou.

— Não. Ou melhor, já estamos. Há anos não vivemos mais como um casal, ele me abandonou para morar com uma mulher mais nova, mas no papel nossa união segue firme e forte.

— Eu sinto muito pela senhora.

— Essa é a consequência de um casamento por conveniência, nenhum relacionamento sem amor se sustenta. Perder o meu companheiro não foi pior do que ter deixado de viver para me resumir a ele e seus desejos. Agora já de idade me arrependo, vejo que perdi minhas melhores fases.

— Não diga isso, nunca é tarde para recomeçar.

— No meu caso é sim. Descobri na semana passada que estou com um tumor avançado no seio...

O CEO Rancoroso e a Secretária Proibida - Dejá Vù (Completo Na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora