Fogo no parquinho

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Faço como o prometido e, em cerca de alguns minutos, estou com Cacau em meu colo e procurando por algum lugar seguro para que eu possa prendê-lo para não correr o risco de ele fugir e se queimar. Começo a repensar o que estou prestes a permitir que o demônio faça. Talvez eu seja o monstro em questão.

Você prometeu, doce garotinha, não há como voltar atrás.

O momento de adrenalina enquanto procurava por meu furão me fez esquecer que o demônio era capaz de compreender meus pensamentos e me sobressalto, quase caindo da escada conforme desço a mesma correndo.

-Você me influenciou. Acho que precisamos rever essas regras. –Sussurro, para o ser dentro de mim.

Não há o que ser revisto. As regras são essas e você concordou com elas a partir do momento que bebeu do sangue de meu Senhor.

-Como eu concordaria com o que nem me foi alertado? –Solto, de forma esganiçada por conta de minha indignação.

Espero a resposta do demônio, mas ela simplesmente não vem. Sinto-o expressar indiferença diante da minha acusação e se aquietar novamente. Provavelmente está se preparando para tomar o controle de meu corpo.

Abro devagar a porta do hall de entrada, com toda a prática de anos morando aqui, para não permitir que ela faça barulho, Enquanto isso, olho para todo o ambiente a procura de alguém que possa me descobrir. A área está limpa.

Saio para a escuridão que já tomou conta do céu e paro por um breve momento, depois de ter fechado a porta, para observar as estrelas. A lua é crescente, o que não ajuda muito na iluminação, então me sinto totalmente desorientada conforme caminho entre a grama alta e algumas pedras que um dia formaram uma calçada, indo diretamente até o galpão.

Sabe que eu poderia assumir daqui, você não precisaria correr o risco de cair nessa escuridão. Eu nasci dela, sei andar por ela.

-Ainda não.

Sigo para dentro do galpão e sinto minhas mãos coçarem para acender a luz, temendo aranhas e escorpiões que poderiam estar andando por lá. Escuto cochichos do lado oposto de onde estou e sorrio levemente. Elas encontraram minha carta.

-Meninas? –Falo um pouco mais alto do que antes, com um tom de preocupação na voz, aproveitando o máximo possível da minha capacidade de atuação- Vocês também receberam uma carta?

-Priscila? É você? –Identifico a voz de Camile me chamando, minha única amiga dentre as poucas moradoras do orfanato e dois anos mais nova.

-Cami? Sou eu sim! –Vou em direção da voz e dos cochichos- Estão todas bem? Estão todas aqui? Quem achou a carta? –Eu perguntava conforme Camile afirmava com a cabeça.

-Eu achei e orientei a todas. Como não encontrei você, decidi deixar na sua cama. Que bom que você viu! –Camile se levantou e me deu um abraço, visivelmente aliviada. Sinto meu estômago revirar diante de minha hipocrisia.

-Obrigada, Cami. Quem será que enviou aquela carta? Quem faria alguma coisa contra nossa casa? –O gosto ácido daquela palavra parece queimar minha língua e meu estômago, ou talvez seja apenas a ansiedade. –Já que estão todas aqui e todas bem, acho que vou dar uma olhada lá fora, ver se consigo encontrar ou impedir quem esteja por trás disso. –Falo da forma mais corajosa que consigo, fingindo assumir a liderança.

-Você tem certeza? É muito perigoso. –Uma garotinha, a mais nova, cujo nome não me lembro, sussurra.

-Confie em mim, flor.

Entrego Cacau para Camile e saio sem me despedir, sem medo de seguidoras e ignorando quaisquer protestos. Elas não têm coragem de vir atrás de mim.

-Agora é a sua vez.

Achei que nunca diria isso! Já estava me arrependendo de permitir que ajudasse aquelas crianças.

-Ou isso ou nada, acho que deixei bem claro, não é?

O demônio sequer responde antes de tomar o controle e sinto, mais do que nunca, quando sou jogada para "o banco de trás".

-É hora do show, doce garotinha. 

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⏰ Última atualização: Jul 05, 2023 ⏰

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