Capítulo único

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Você nunca esteve preparada para perder alguém. A dor se alastrou pelas veias, um fogo hostil que manchou sua alma já quebrada pela vida, destruindo o pouco de seu escudo rachado e a afundando num abismo de inutilidade. O sentimento te corroía, te engolfou mais que Megumi e Nobara juntos, vê-los causou um alvoroço na mente, ver que falhou com seus amigos, falhou com Itadori.

A imagem do corpo de Yuuji caindo sem vida no chão dançava em frenesi diante seus olhos, como se Sukuna estivesse conduzindo a orquestra em batidas fortes o suficiente para sangrar seus ouvidos. E você apenas se encolheu, tentando achar segurança nos próprios braços, afundando o rosto nos joelhos e permanecendo quieta até que as batidas do coração acalmassem, se esforçando além do limite para calar as vozes gritantes dos arredores.

A vida como feiticeira Jujutsu finalmente mandou a conta, e veio com juros altos que não estava preparada para arcar, você não queria arcar. Entretanto, o incômodo que embolou sua garganta não machucava ninguém além de si própria. E a dor apenas aumentava.

O seu desmoronamento, pedaços grandes prontos para desgrudarem, repentinamente se mantiveram no lugar, ameaçando pular do precipício para que você morresse de uma vez, mas a calma instalou-se em seu peito apertado, e você reconheceu o toque familiar da mão grande que despenteou seus cabelos. O bálsamo da presença de Gojou desceu nos passos curtos dele na escada em que você estava sentada, uma sacola dos doces que ele gostava foi colocada perto, e Satoru apenas apreciou o silêncio do começo da tarde ao seu lado.

— Eu poderia ter feito algo. — Sua voz era apenas um engasgo lancinante, dentes trincando para que seu martírio tivesse presença. Você estava sofrendo, e nada esmagaria essa dor por um bom tempo, a dor de perder um amigo e o que carregaria do que sobrou de suas lembranças.

— Você fez o suficiente.

Os dedos dele tocaram seus ombros, um gesto de carinho que ele sempre teve, Gojou era apenas sincero, nada mais que isso. Obrigada.

— Foi o bastante.

A dor estava lá, penetrando sua carne tal qual as facas que você usava para se defender, porém o peso angustiante foi retirado de suas costas, era como se Gojou a protegesse de ser atingida usando uma de suas técnicas, e você agradeceu - erguendo o rosto moído de lágrimas e fortes olheiras – o quão a presença de seu sensei cobrava de sua alma apenas que ficasse bem.

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