2| Parte 2

88 16 40
                                    

Chico Romão ao olhar a cena franziu os cenhos, mas sorriu. Ele havia conseguido, de certo que não como esperava, mas a magia se fez vir e lá estava em sua frente literalmente em forma de gente. Princesa Verinha já não mais escondia o rosto, fitava o caboclo que se aproximava do moribundo ainda no chão.

— O que esse homem faz no chão? — pergunta Verón próximo das moças.

— O rei espera a morte, preciso de magia pra não deixar morrer. Pedi pra chamar Primavera pra ajudar — disse Verinha antes de mirar Romão —, mas o que tu fez, Chiquinho? Que raio de calor é esse que sucede?

Romão nada poderia dizer, fizera o que a mãe havia ensinado, mas nunca praticado. Ele deixou claro dos riscos e o risco aconteceu. Tuninha ainda tampava os olhos acocorada no chão, Véron se aproxima da bela cabocla e toca-lhe a mão, afastando-a para olhar o rosto belo da moça que se escondia. Os olhos ainda fechados de Tuninha mostrava a resistência da menina moça de não olhar.

— Suncê pode se vestir, por um favor... — pediu Tuninha com a face suada pelo calor.

Véron, encantado com tanta beleza, reergueu o corpo nu e virou-se para Romão. Fez um estalo com os dedos e pediu:

— Arrume o que me tampar!

Chico Romão, sem esperar autorização, tomou a liberdade de abrir o baú de vestimentas do rei e arrancou de dentro algumas roupas. Vestimentas que, apesar de chiques , eram puídas pelo tempo. As roupas em Véron ficaram demasiadamente pequenas: as calças com os botões abertos iam até o meio das canelas e a camisa não pode ser fechada em seu peito forte e chamuscado, mas ao menos estava tampado.

— Pode olhar, Tuninha — disse Romão e logo a cabocla abriu os olhos.

Fitou Véron de cima abaixo, sua carne pegando fogo por baixo das saias. Estava desconcertada com tanta beleza e tanto calor. Véron, ainda encantado, calou-se de seu jeito falador e cruzou os olhos de fogo com a menina ainda acocorada.

— Que gerigonça é essa? — perguntou Véron, desviando o foco de Tuninha para aproximar-se das acomodações do rei.

Agarrou a espada de cabo dourado e levantou a frente de seu rosto, fitando a lâmina afiada reluzindo seu reflexo.

— Solte isso! — ordenou a Princesa, sendo ignorada pelo encanto de Véron ao objeto. — É de meu pai — Verinha amansou a voz.

Véron desviou os olhos curiosos e deixou a espada onde estava, voltou a atenção para o rei moribundo agonizando no chão de tosse.

— Suncê pode salvar nosso rei? Dá a ele o livramento dessa morte — pediu Tuninha, tomando toda a atenção de Véron para si.

Como um caboclo apaixonado acatando o desejo de mulher amada, Verón abaixou-se e agarrou nos braços o rei moribundo. Repousou-o sobre o leito e tocou o peito com a mão chamuscada e quente enquanto recitava:

"Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
E a morte, o destino, tudo
Estava fora do lugar
E eu vivo pra consertar"

Véron afasta a mão aberta do peito do rei que adormecera. Olha para princesa Verinha e acena com a cabeça.

— Pois tá feito, precisa de espera — disse Véron, afastando-se do leito e indo de encontro a Tuninha, que agora já se encontrava de pé.

— Como tá feito!? — indaga Verinha aos berros, certamente incomodada com a atenção que o caboclo entregava a criada.

— Feito de feito, acabado, terminado. Tem de esperar a magia que acontece, aguarde e verá, Vera herdeira de Primavera.

Terra de Vera CruzOnde histórias criam vida. Descubra agora