Capítulo 4

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Chanyeol saiu disparado da casa dos mais velhos. Corria, corria, corria... A casa de Baekhyun não parecia tão longe no dia anterior, mas naquele momento o tempo parecia avançar dolorosamente devagar. Sentia o suor escorrer pelas suas têmporas e confundir-se com as lágrimas que escorriam também pelo seu rosto. Não se lembrava da última vez que tinha estado tão nervoso. Sentia um aperto no seu peito e o pior daquela situação é que não sabia o que faria quando visse Baekhyun. Deveria ser egoísta e tentar salvar a vida da única pessoa que alguma vez amou? Ou deveria simplesmente aceitar que aquela tragédia estava destinada a acontecer?

A verdade é que nada daquilo importava. Quando finalmente avistou a casa do mais novo, avistou também alguns guardas reais à frente dela. Baekhyun ainda estava vivo e conversava com um dos guardas, que segurava uma tigela de cerâmica. Chanyeol já conhecia aquela história. Escondeu-se atrás de uma árvore, assim como fez na primeira vez que viu Baekhyun, na floresta. O quão irónico era aquilo? A história deles acabaria da mesma forma como começou. Tapou a boca com uma das mãos, para abafar o choro que não conseguia segurar. Baekhyun ainda estava vivo, mas em apenas alguns minutos deixaria de estar. Mesmo estando longe, conseguia identificar a expressão triste no rosto do Príncipe, ao ser informado sobre qual seria o seu destino. Pegou na tigela que lhe foi entregue e bebeu todo o conteúdo. E Chanyeol chorava, porque sabia que não tinha o direito de impedir que Baekhyun fosse envenenado.

Em pouco tempo, os sintomas começaram. Chanyeol assistia tudo, em choque. Não estava preparado para aquilo. Nada o magoava mais do que saber que não havia nada que pudesse fazer para ajudar. E quando voltou a si, Baekhyun já estava imóvel no chão. Sem vida.

Se antes o tempo parecia passar lentamente, agora parecia demasiado rápido. Os guardas reais levaram o corpo do Príncipe e uma multidão de pessoas da aldeia já se fazia presente no local. Mas Chanyeol não saía do lugar onde estava, ainda atrás da árvore. Sentiu uma mão sobre o seu ombro e o seu olhar encontrou-se com os de Minhee e Heungdo. Era evidente a preocupação dos mais velhos. O adolescente ainda chorava.

- Um dos irmãos do Rei Sejo planeava uma forma de fazer com que o Príncipe Nosan voltasse a ser Rei. – explicou o homem – O Rei descobriu e mandou matar o Príncipe. Segundo ele, as revoltas continuariam enquanto ele estivesse vivo. Lamento imenso.

Chanyeol desabou no chão. Não precisava de explicações. Conhecia aquela história bem o suficiente. Sabia que atirariam o corpo do Príncipe para o rio Geum, o mesmo rio que viram no dia em que se conheceram e que o mais novo dizia ser o seu favorito. Também sabia que, tal como quando o Reino de Baekje caiu, haveria pessoas que se atirariam ao rio por fidelidade a Danjong.

- O Rei disse que quem tocar no corpo do Príncipe será executado, assim como toda a sua família. Mas não te preocupes, não vamos deixar que o corpo do teu amigo fique lá. Vou certificar-me que tem direito a um enterro digno. – certificou Heungdo.

O Park arregalou os olhos e assustou-se com a certeza que via nos olhos do casal.

- Já somos velhinhos e não temos filhos. És o mais próximo que alguma vez tivemos de um, então vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para tornar este momento menos doloroso. – revelou Minhee – Para além disso, somos fiéis ao Príncipe Nosan. Ninguém merece passar pelo que ele passou.

De repente lembrou-se de uma das suas aulas de história. "Temendo a fúria do Rei Sejo, ninguém se atreveu a cuidar do corpo do Rei Danjong. No entanto, um homem corajoso chamado Uhm Heungdo arriscou a sua vida para recuperar o corpo e enterrá-lo devidamente.". Como é que nunca tinha reparado em todos os sinais que agora pareciam tão óbvios?

- Chanyeol, porque não vais para casa? Precisas de descansar um pouco... - a mulher aconselhou – Quando acabarmos de tratar das coisas vamos ter contigo.

O Park assentiu com o rosto e secou as lágrimas que teimavam em cair, com a manga do seu hanbok. Deu um último abraço ao casal e caminhou de volta até a casa deles. Pelo caminho, começou a chover. A chuva fria colava a roupa ao seu corpo e deixava-o completamente arrepiado. Os sapatos de palha estavam com um aspeto lamacento e mal podia esperar por trocar de roupa.

Quando chegou, secou-se e trocou-se. Vestiu a roupa que usava quando chegou a 1457. Como é que só tinham passado 6 dias desde então? Tinha acontecido tanta coisa... Foi tempo suficiente para conhecer pessoas pelas quais nutria um carinho tão grande como o que sentia pela sua própria família, para se apaixonar e para perder o seu primeiro amor.

Ficou horas a olhar para o exterior da habitação. Já tinha anoitecido e a intensidade da chuva só aumentava, parecendo refletir o seu conflito interior. Por muito que lhe doesse o que estava a acontecer, não podia permitir que continuasse a ser um fardo para os outros. Sentia que estava na hora de ir embora e que desta vez iria conseguir.

Colocou a sua mochila nas costas e olhou o interior da casa uma última vez. Entrou na floresta, caminhando sem rumo, e não conseguiu evitar que o choro recomeçasse. O que é que teria feito na sua vida passada, para estar a ser castigado daquela forma? Estava tão estressado com tudo o que estava a acontecer. Não conseguia perceber o porquê de aquilo lhe estar a acontecer a ele e não a outra pessoa. Olhou para cima. Apesar das árvores altas taparem parte do céu, conseguia ver a lua e as estrelas que a acompanhavam. Será que agora, sempre que olhasse para as estrelas, se lembraria de Baekhyun? E gritou, porque parecia a única forma de conseguir expressar o que sentia naquele momento. Assim que o fez, ouviu o som de um trovão. E de seguida:

- QUEM É QUE GRITOU!? ALGUÉM PRECISA DE AJUDA??

Lembrava-se de ter dito aquelas mesmas palavras há 6 dias. Então os gritos desesperados que ouviu nesse dia eram dele próprio? Arrepiou-se com o pensamento, mas voltou a gritar. Uma, duas, três vezes... E continuava a caminhar, sem conseguir identificar onde estava. E então viu uma figura à sua frente. Era ele. Ao aperceber-se da sua presença, a pessoa olhou para trás e começou a correr, assustada. E Chanyeol seguiu-a. E então ela tropeçou. E Chanyeol acabou por tropeçar também. E aos poucos, os seus olhos foram fechando-se.


- - - - - - - n o t a s - - - - - - -


Obrigada por lerem mais um capítulo.

Apesar deste capítulo ser curto, foi sem dúvida aquele que mais me custou a escrever. Chorei um bocadinho, não vou mentir.

Já só falta o epílogo para que a história fique concluída. Por favor, não desistam da fanfic. Espero que estejam a gostar. Beijinhos! <3

564 Anos | CHANBAEKOnde histórias criam vida. Descubra agora