Capítulo 1

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                              Elrond

  
     Meu pai não estava exatamente feliz. E isso, há muito tempo.

     Eldyia sempre havia sido um lugar pacífico e as cortes viviam em paz já há muito tempo. Mas de alguns anos para cá tudo havia mudado da água para o vinho. Aust King, meu pai, era o Grão-Senhor principal do Reino, estando acima de todos os outros. Por qual motivo? Na última guerra que havia dizimado metade do Reino, a família King foi a única que ao invés de se preocupar em acabar com seus inimigos, teve a preocupação de acabar com a guerra e trazer a paz entre todos. Por ter pensado no Reino inteiro e não somente em si, meu pai foi erguido Grão-Senhor acima de todos os outros. E claro que isso não havia sido do agrado de muitos. A maioria dos senhores das outras cortes odiavam nossa família e a raça de feiticeiros de um modo geral, já que praticamente 70% do Reino era composto por feéricos.

     Também, praticamente todas as outras raças haviam sido extintas graças a última guerra.

     Meu pai era o único dentre todos os outros que não estava preocupado em ser maior ou menor; sua preocupação estava concentrada em manter todos em paz e evitar confrontos a todo custo. A família King era uma família de feiticeiros que existia desde os tempos mais antigos e também uma das mais poderosas, pois carregavam em si parte do poder dos deuses. Para resumir a história, os King prestavam serviços ao deus Zeus e por sua fidelidade, foram presenteados com poder dos deuses. Embora isso não passasse de uma lenda (ou não) era óbvio que éramos uma das famílias mais poderosas. E por esse motivo, mesmo que as outras cortes não gostassem de nós, nos respeitavam e queriam sempre estar por perto. Era claro que havia uma espécie de competição para ver quem ficaria no topo, e quem estivesse mais perto de nós, ganharia.

     Nos últimos anos tudo havia virado uma bagunça. Uma corte parecia afrontar a outra todos os dias e sempre recorriam ao meu pai para resolver suas questões. E já estava ficando ridículo. Toda paz que havia sido conquistada estava sendo jogada fora por motivos bobos. Ao que parecia, ninguém queria mais viver em paz. Um queria mesmo estar acima do outro. Meu pai mesmo dizia que estava se sentindo um tutor de crianças mimadas. E parecia mesmo. Naquela manhã havia chegado uma carta da corte Telluris, dizendo que alguém da corte Lumieres estava tentando invadir seu território e que nessa tentativa havia queimado parte de uma floresta onde ficavam feras místicas. De fato, um membro da corte foi apanhado e mandado para o nosso Palácio, para que o interrogássemos. A corte Lumieres negou qualquer coisa sobre ter dado ordem para que algo assim fosse feito.

     Meu pai sempre tentava acalmar os ânimos e resolver tudo, mas sempre havia uma reclamação nova para ser resolvida. Ninguém conseguia se manter em paz, estavam sempre atacando um ao outro e recorriam a nós para resolver tudo. Se meu pai abrisse mão, era muito provável que as outras cortes acabassem se matando em instantes.

     Ninguém ali conseguia mais viver em paz.

     — Althaea, o que conseguiu? — Meu pai entrou na varanda acompanhado de minha mãe, Thia King. Era impressionante ver que os dois tinham uma presença de autoridade e poder, mesmo que não tentassem mostrar isso. Era algo que já estava neles.

     — Nada. — Althaea tomou um gole de seu chá, olhando para o horizonte, onde o sol já estava começando a se pôr. Minha irmã mais nova, doce e meio obcecada por obter conhecimento; seu hobbie preferido era passar horas e horas estudando livros antigos, buscando entender coisas simples de forma complexa. — Eu consegui ver lembranças de quando ele nasceu, até. Mas de alguma forma as lembranças dos últimos dias não estão na mente dele. Não me pergunte como, eu não vou saber responder. Ou até sei: alguém conseguiu uma forma de bloquear meus poderes. — Althaea tinha um poder um incomum, como a maioria dos feiticeiros. Ela conseguia absorver lembranças de qualquer pessoa, e isso desde o dia de seu nascimento; se ela tocasse na pessoa, tinha acesso a todas as lembranças e com isso, era praticamente impossível mentir para ela.

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