Capitulo 8

52 9 52
                                    

Althaea

Voltei para o salão principal logo que saí da cozinha, carregando uma bandeja com algumas bebidas. Todas, geladas. Era a preferência da realeza de Glacies. Eles haviam chegado há algum tempo e depois de se acomodarem em seus aposentos, os convidei para um chá no salão principal. Meu pai estava com a corte Helion e minha mãe estava com a corte Telluris, então os convidei para uma tarde comigo enquanto meus pais não os chamavam para conversar. Eu mesma fui para cozinha preparar alguns aperitivos enquanto pedi que Tris conversasse com eles, os distraísse até que eu voltasse.

Poderia ter pedido que ela preparasse tudo, mas fui ensinada que os gestos que mais ganhavam admiração eram os que demandavam esforço próprio. Eu queria que todos se sentissem bem-vindos em minha casa e que vissem que não tínhamos preferência por nenhuma corte, que todas nos eram igualmente importantes.

Glacies era uma corte que tinha uma linda história. Embora fossem fechados e não se soubesse muito o que acontecia dentro de seu país, eles tentavam manter a paz com todos. Algumas cortes os rejeitavam, justamente por suas escolhas e decisões, mas eles não se importavam com isso. Simplesmente mantinham seus ideais bem firmes e inabaláveis.

Com a região mais fria de Eldyia, a corte possuía as mais belas montanhas cobertas de gelo; no país, as temperaturas eram baixíssimas, mas todas as casas possuíam um toque aconchegante e caloroso. Cada rua, bosque, lago, cada pedaço daquele país parecia uma obra de arte pintada à mão. Lá, a principal paixão corte estava na gastronomia. Os melhores pratos e os melhores cozinheiros saíam de Glacies... lembro-me quando meus irmãos e eu éramos pequenos e íamos visitar o país, mal saímos da cozinha do Palácio.

Os grãos-senhores eram os mais doces que eu conhecia. Eram compreensivos e pacientes, sendo os que mais davam ouvidos as opiniões dos outros - claro que tinham seus momentos de teimosia e as vezes, era difícil lidar com eles. Também gostavam do poder, mas realmente prezavam por ter uma boa relação com todos, mesmo que algumas cortes não quisessem nem um tipo de aproximação com eles. Eles eram calmos, tranquilos... mas quando irritados, a situação chegava a ficar assustadora. Até eles pareciam exaustos com tudo que estava acontecendo em nosso Reino, e chegaram aparentemente anciosos para resolver tudo.

Os príncipes eram igualmente tranquilos. Benget Leonhart era sério e pacífico, evitando conflitos ao máximo possível. Tudo nele inspirava tranquilidade e aconchego, sua presença trazia segurança e confiança. Ele tinha um jeito calmo de resolver as coisas e, apesar de não conseguir fazer amizades facilmente, era alguém maravilhoso para se ter como amigo. Greta era calma e delicada. Era mais comunicativa que o irmão e muito sonhadora, criando novos sonhos em todos os momentos e em qualquer situação. Tinha um jeito otimista e perseverante, cuidando sempre de quem estava por perto.

Aquela corte era definição de aconchego.

Quando me aproximei da porta, Garriet a abriu de imediato sem que eu nem falasse nada. Sorri para ele, que imediatamente pegou a bandeja de minhas mãos, levando-a até a mesa e servindo os grãos-senhores. Ele era um rapaz muito doce e trabalhava para nossa família até pouco tempo, mas nosso pai o havia mandado para corte Glacies colher informações. O pai de Garriet era um feiticeiro poderoso, amigo de meu pai, e sua mãe uma feérica de sangue puro de outra corte; na guerra, sua família acabou morta e meus pais o criaram como parte da família. Ou seja, outro irmão que a vida havia me dado.

Garriet tinha uma habilidade interessante de manipulação de mente. Algo que havia herdado de seu pai, mas que não usava de forma descuidada. Chamávamos de persuasão... só pelo poder da mente, ele conseguia convencer qualquer pessoa sobre qualquer assunto. Para entrar na corte Glacies, ele usou esse poder nos grãos-senhores e eles acreditavam, veemente, que quem os havia criado desde sempre eram eles. Era um poder realmente interessante... mas Garriet não gostava de usá-lo. Só em casos extremos ou a pedido de meu pai.

O começo da história Onde histórias criam vida. Descubra agora