DIA 1
— Pode entrar, pode entrar! — minha mãe diz, puxando o Draco pra dentro
de casa enquanto dá uma ajeitada na franja do menino.
Limites, mãe. Limites.
Eu esperava que ele viesse junto com a mãe e uma lista imensa de
recomendações. Mas ele está aqui, sozinho.
— Meus pais pegaram o voo pro Chile de manhã — ele se explica para a
minha mãe.
Acho que os dois já tiveram uns bons dois minutos de conversa enquanto
eu estou aqui parado, observando. Fazendo o possível pra suar menos e
parecer normal.— Ajuda ele com a mala, filho! — minha mãe diz, estalando os dedos na
frente do meu rosto e me trazendo de volta para a realidade.Uma realidade onde eu estou levando para o meu quarto uma mala gigante
de rodinhas com estampa de oncinha e cheia de roupas do meu vizinho gato
que, por sinal, vai passar os próximos quinze dias aqui comigo. Respiro
fundo enquanto deixo a mala no canto, entre o armário e a minha
escrivaninha. E então respiro fundo mais uma vez, só pra garantir.— Desculpa o exagero da mala. Coisa da minha mãe — Draco diz, surgindo
do nada na porta do meu quarto e me dando um susto de leve, que eu tento
disfarçar com um sorriso amarelo.Eu não digo nada, porque não sei o que dizer. Quero mostrar que sou
engraçado, mas das três piadas que eu penso, duas exigem o conhecimento de
episódios específicos de Friends e a outra, tenho quase certeza, ofenderia a
mãe de Draco— Meninos! Almoço! — minha mãe grita, me salvando dessa situação
constrangedora.— Vou tomar um banho e já vou! — grito de volta correndo para o
banheiro e deixando Draco para trás.
Quando entro no chuveiro, consigo finalmente respirar aliviado. O banho
me relaxa e aqui eu sou capaz de pensar na situação com mais calma.Sei conversar com as pessoas, sou gentil, sou agradável (talvez). Ele é só uma
visita.
É como se fosse minha tia-avó Tessie que vem pra cá todo ano no feriado
de Finados. O marido dela foi enterrado aqui na cidade e quando ela vem
visitar o túmulo dele, sempre aproveita pra ficar uma semana inteira aqui em
casa. Tia Tessie coloca pimentão na comida e ajeita minha sobrancelha com saliva.Draco não vai fazer nada disso (espero), então vai ser ainda mais fácil.
Quando saio do chuveiro, estou mais tranquilo e certo de que vai ficar tudo
bem. Foi apenas um dos milhares de momentos da minha vida em que fiz
muito drama por nada. Eu já deveria estar acostumado a essa altura.Consigo quase dar risada de mim mesmo. Mas a risada não vem. E ela não vem
porque me dou conta de que não trouxe roupas limpas pro banheiro. Tudo o
que tenho aqui comigo é uma toalha e uma pilha de roupas suadas.
Preciso pensar rápido porque não quero que o Draco ache que eu estou
demorando no banho. Você sabe a verdade por trás de garotos que demoram
no banho. Pois é.
Encosto o ouvido na porta e consigo escutar barulho de conversa na
cozinha. Minha mãe está lá. Draco está almoçando. Acho que consigo
atravessar o corredor bem rápido e chegar no meu quarto sem ser visto.Me enrolo na toalha, toco a trilha sonora de Missão impossível na minha cabeça e
dou três passos longos até o meu quarto.
E quando abro a porta…
Eu.
Quero.
Morrer.
Draco está lá, sentado com um livro na mão. Ele olha assustado pra mim,
tenta falar alguma coisa, mas eu falo antes. Na verdade eu grito.— SAI DO MEU QUARTO! AGORA!
Assustado, ele sai. Eu bato a porta, giro a chave e imediatamente começo a
chorar. Não é um choro barulhento e dramático, desses pra encostar na
parede e ir escorregando até o chão. É uma lágrima só, que vai escorrendo
pelo meu rosto e me enchendo de vergonha. Vergonha porque eu estou
molhado, sem roupa e enrolado em uma toalha de Star Wars que, por pouco, não consegue dar a volta inteira na minha cintura. Vergonha porque o Draco me viu assim. E eu gritei com ele. E este é só o primeiro dia.
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Quinze dias
Teen FictionEssa história é uma adaptação Harry está esperando por esse momento desde que as aulas começaram: o início das férias de julho. Finalmente ele vai poder passar alguns dias longe da escola e dos colegas que o maltratam. Os planos envolvem se afundar...