Casa de vidro

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Já estamos do lado de fora do lugar aonde estava alguns minutos atrás, observo que há três capangas dele na entrada, estamos em um tipo de bosque, os pinheiros altos denunciam que estamos em uma área mais longe da cidade e do chalé, agora posso ver mais de seus homens ao longe, a espreita vigiando o local.

Tenho que pensar muito antes de fazer qualquer coisa que possa me colocar em risco, calma Gabrielly, respira, você consegue.

- Vamos garota!

O ogro fala me empurrando de leve para que eu caminhe a sua frente. Obedeço contra minha vontade e percebo que estamos adentrando mais na mata.

- Não vamos de carro?

- Não!

Aonde esse maluco está me levando Senhor?

- Vai me matar aqui? Meu cabelo vai ficar todo cheio de arbustos, não gosto disso!

- Você é sempre irritante assim? Por que se for vou ter que te dar uma lição.

Me viro para olhá-lo, depois das chicotadas sei muito bem de que tipo de lição ele está falando, abraço meu corpo e passo a mão no local da chicotada, ainda estava com o vergão, mas só doía se tocasse, talvez seja por conta do gás que ele me fez cheirar, por isso não senti mais dor. No entanto ao tocar no local, solto um gemido de dor baixo.

- Dói?

Sua pergunta me pega de surpresa e eu apenas balanço a cabeça em negativo.

- Não minta, odeio que mintam para mim!

Engulo em seco e fico quieta. Caminho de cabeça baixa, paro quando sinto sua mão repousar sobre meu ombro. Ao levantar meu olhar, minha boca se abre involuntariamente, impressionada com o que vejo a minha frente. A construção que se ergue a alguns metros do chão, toda composta por vidro espelhado, reflete o verde musgo do ambiente, fazendo com que fosse quase impossível de se notar se não prestar muita atenção. Nunca havia visto nada parecido, parece um tanto quanto sombria, mas hipnotizante e muito agradável aos olhos.

- Uau!- finalmente consigo dizer.

Se estica o braço em menção para que eu volte a caminhar em sua frente, e assim o faço. Olho ao meu redor e só o que vejo são árvores e arbustos, juntamente com alguns de seus homens. Escapar daqui vai ser mais difícil do que pensei.

Paro em frente a enorme porta de vidro que agora me reflete e posso ver meu estado decadente. Vejo ele se aproximando atrás de mim e me afasto para o lado.

O dono dos olhos azuis abre a porta e me da passagem para entrar primeiro. Assim que coloco meus pés dentro da casa, meus olhos varrem o local e fico surpresa por notar que seu interior é totalmente transparente dando para ver tudo lá fora. O único diferencial são os revestimentos de madeira, que aliás orna muito bem com tudo.

- Nunca havia entrado em uma casa de vidro antes senhorita Soares?

- Definitivamente, não!

- Bom, bem vinda ao meu lar!

Meu corpo estremece, esse é o covil dele, muito esperta a escolha do lugar e do estilo, assim é quase impossível ser encontrado. O que me faz lembrar de outro detalhe, as chances de eu ser encontrada, automaticamente são baixas também.

- Por aqui senhorita!

O sigo e ele nem parece o mal humorado de alguns minutos atrás.

Entramos na cozinha e ela é maior que minha antiga casa. Um sonho de consumo. Passo a mão pelos eletrodomésticos encantada e quando percebo estou a poucos centímetros do senhor sequestrador.

- É maravilhosa!

- Se você for uma boa garota poderá usar quando quiser.

Uma proposta tentadora, mas prefiro fugir.

- Certo, eu preciso de espaço para trabalhar, e você está no meu caminho.

- Não vá fazer nada estúpido garota!

Coloco a mão no peito fingindo estar ofendida.

- Não confia em mim? Quando comer o que vou preparar, vai morrer de satisfação - espero que morra literalmente - e vai ter que retirar o que disse agora!

- Você entendeu o que eu disse.

- Tá, tá! Agora deixa eu cozinhar.

Ele sai caminhando até a sala ficando fora de visão, imediatamente procuro por algo que eu possa usar contra ele e me defender. Bingo, o faqueiro está logo a minha esquerda, noto um canivete em um de seus suportes, rapidamente alcanço o objeto e mal tenho tempo para respirar quando ele aparece na cozinha novamente, ainda de costas para ele, enfio o pequeno objeto dentro da minha calcinha, o que me deixa um pouco desconfortável, mas isso não se compara ao medo dele ter visto o que fiz.

- Vai ficar aí parada esperando os alimentos se cozinharem sozinhos?

Meu coração quase sai pela boca quando ouço sua voz, tenho que manter a calma, não dar sinal suspeito.

- Olha, alguém tem senso de humor afinal.

Digo me virando encontrando o mascarado sentado com as mãos apoiadas no balcão a alguns metros.

- Vai ficar aí me olhando?

Ele não responde, então vou até a pia e abro a torneira para lavar as mãos.

- Qual a da máscara? Um fetiche bizarro seu?

- Não que seja da sua conta, mas ninguém vê meu rosto.

- Nem seus capangas?

- Dois, no máximo!

- Você faz isso por segurança ou é por que é um daqueles serial kilers que tem o rosto todo deformado?

- Está fazendo perguntas de mais, se concentre no que realmente importa.

- Pessoas normais fazem perguntas quando querem conhecer alguém sabia? Onde ficam as panelas?

Olho para ele novamente e o mesmo parece me fitar atentamente, então ele aponta para um armário e vou até lá para pegar o que desejo.

Abro as portas do móvel e meus olhos brilham ao ver o alumínio da melhor qualidade reluzir.

- Para de me secar, dá pra ver sua baba escorrendo pelo reflexo da louça.

Não sei pra que diabos eu disse isso, mas foi legal ver ele se mexendo desconfortável em seu assento. Pego o que preciso para cozinhar o que tenho em mente e coloco em cima da bancada, infelizmente nenhum veneno de rato. Prendo mais uma vez meu cabelo em um coque no alto e começo a fazer o que sei de melhor, não importa minha situação física ou mental, cozinhar é uma terapia para mim, minha paixão desde que me conheço por gente.

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Casa de vidro:

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Senhor Sequestrador - Adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora