Capítulo 1: Crisis.

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[Scars - Michael Malarkey]

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[Scars - Michael Malarkey]

Meu pai costumava dizer que os Maledicite Terrae eram como pragas, do tipo que vai muito além da destruição. Um simples toque de um espírito desse feitio poderia dizimar grandes territórios tão facilmente quanto algo vira cinza em meio as chamas. Nada no mundo matava como eles.

Mas isso era o que o meu pai dizia. A vivência que eu fora forçado a experimentar me fazia acreditar que nada matava tanto como não poder ser livre em minha própria pele. Era esse sentimento que Khali me trazia quando nos forçava a usar uma touca o tempo todo.

Era difícil pisar na neve por tanto tempo, apesar de meus pés estarem revestidos por calçados, eu sentia a temperatura do meu corpo diminuir cada vez mais. Não tinha flores, não tinha terra, apenas a neve fria. Eu havia acordado antes mesmo de o sol aparecer, fraco, entre as nuvens. Não se conseguia nada depois do meio dia, isso era fato. Siccum, a floresta que ficava atrás da aldeia onde eu morava, não possuía muitos animais. Mas era certo que nas primeiras horas do dia eles sairiam de seus esconderijos para comer ou beber algo, e assim caçá-los não se tornaria uma tarefa tão difícil.

A floresta recebia esse nome simplesmente porque era seca. Não havia folhas nas árvores e os troncos das mesmas eram extremamente escuros e finos. O chão era todo coberto de neve, então nenhum vestígio de grama pudera sobreviver. Além disso, uma camada fina de névoa cobria o ar. Era um cubo de gelo em forma de reino.

Mesmo assim, dois intrigantes coelhos insistiam em achar alguma coisa no chão.

Quando eu era criança, acompanhava meu pai em todas as suas viagens de caça. Deixá-lo ir nunca havia sido parte do plano, por isso sempre estava agarrado a ele da forma mais apertada possível. Mesmo que durante algum tempo ele achasse meu comportamento um pouco obsessivo demais, vê-lo manusear o arco e flecha era quase como ser arrebatado. Quando ele mirava, tudo e qualquer coisa poderia se tornar um alvo a ser atingido. No passado, era o momento mais eufórico que presenciava pelo menos uma vez por mês.

De todos os arqueiros que já conheci - mesmo que a quantidade nunca tenha chegado a ser chamada de "muitos" - meu pai se tornara o mais singular, não apenas pela maneira firme, delicada e ao mesmo tempo avassaladora que ele podia segurar um arco, mas também pelo amor que era capaz de transmitir através do ato de caçar. Outrora, Haneul dizia que não havia um caçador que não tivesse inveja de mim, pois, segundo ela, eu era tão incrível quanto ele. Pensamento esse que eu fazia questão de contrariar. Ninguém, jamais, seria incrível como um dia ele já fora.

Apesar de não admitir isso á ninguém, eu sabia o quanto era bom. Confiança transbordando pelos meus poros enquanto duas flechas estavam apontadas ao mesmo tempo para os dois coelhos, eu os acertaria de uma só vez. Prendi a respiração por um momento, a floresta silenciosa havia se tornado um misto de sons suspeitos porém naturais, e sentia tudo ao redor. Então as soltei, segundos depois ouvindo o zunido que a lâmina fez contra a pele de ambos. Teríamos um jantar adequado afinal.

The Wolf's Kingdom · Myg+JhsOnde histórias criam vida. Descubra agora