Ver a corte de Khali como ela realmente era não estava nos planos de Jung Hoseok, até porque - entre brownies de café e caças matinais - ele preferia se concentrar em fugir e proteger suas irmãs da ira do rei contra seu reino, Quasar. Mas após uma s...
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O sol irradiava subindo no céu, dando lugar a manhã que se estabelecia na região. As pessoas já passavam pelas barracas com bastante empolgação, mesmo que várias delas, como a minha, ainda não estivessem totalmente erguidas. A estrada do sul havia sido aberta para os mercadores e todos na feira estavam dispostos a vender o que podiam para eles, inclusive eu.
Eles eram homens que migravam de um reino para outro, alguns deles eram muito conhecidos, outros eu nunca tinha ouvido falar. Ninguém sabia de onde eles vinham, apenas que viajavam por toda a região dos sete reinos e que podiam trazer literalmente qualquer coisa para nos vender.
Outra característica que os marcava era que eles não temiam o reinado de nenhuma região. Não temiam ao rei. Mas também nunca havia visto nenhum deles provocar consideravelmente um reino ao ponto em que o rei tivesse que interferir, então hoje, eu classificava isso como um boato quase verdadeiro. Uma característica que eu só acreditaria vendo.
Quando eu era uma criança, achava que podia ser um deles. Poderia conhecer lugares novos e além de tudo não seria constantemente atormentado pelo medo de morrer. O modo como eu os via, me fazia acreditar que talvez eu pudesse ser protegido da maneira certa, sem temer ao reinado de Khali. Mas, em meio aos novos tempos, eu sabia que quem deveria ser o protetor era eu.
Crescer em Khali não havia sido uma das melhores experiências, com certeza não. O medo constante de sermos pegos, fez com que Haneul me prendesse em casa até que eu tivesse idade o suficiente para entender a gravidade da nossa situação. Assim, eu passava a maior parte do tempo praticando o arco e flecha e coisas como brincar com os amigos começaram a se tornar algo inalcançável. Eu ainda tinha fresco na minha mente tudo o que ela me disse na primeira vez que saí de casa:
— O mundo é mais perigoso do que você pode imaginar, confiar nas pessoas pode ser algo fatal para todos nós. Hoseok, se você tirar essa touca estaremos todos mortos, preciso que entenda isso.
Eu tinha quinze anos na época. Mas não era tão difícil de entender, não quando ela repetia isso a cada hora do dia. E então eu cresci, ano após ano, e percebi que nada daquilo poderia se tornar banal um dia e que era extremamente necessário estar em alerta constantemente. Isso sim iria nos proteger da fúria de qualquer pessoa.
Quando olhei para a frente percebi um homem velho, corcunda e de barba por fazer. Ele pareceu se aproximar da barraca e me endireitei. Andava lentamente, mas consegui entender o porquê quando percebi seu tornozelo manco. Sorriu gentilmente antes de parar a minha frente.
— Bom dia, garoto! Como vai o seu dia de vendas? - ele perguntou, estranhamente.
— Ruim, mas acho que posso lidar com isso - o cheiro dele se assemelhava ao de castanhas. Lembrava-me noites frias e lareiras, algo familiar em ambiente.
— Tenho certeza que sim - ele suspirou - Demoramos porque a estrada fechou. Passamos três dias tentando remover um tronco, até ver que havia uma passagem bastante fácil pelo Siccum. - começava a me perguntar se ele iria ficar apenas de conversa banal ou iria dar um jeito de melhorar o meu dia. Minutos depois, ele estranhamente pareceu ler a minha mente - O que você tem aí?
