I promise you there will come a day butterfly fly away

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Ele tinha pouco mais de um ano quando ela chegou, então não entendia muito bem o que estava acontecendo. Só sabia que a barriga da mamãe havia inflado como um balão e que diziam que ali dentro estava a sua irmãzinha, apesar de não saber o que era isso. Seria um brinquedo ou de comer?

─ Vem, Paulo, vem conhecer a sua irmãzinha. ─ seu pai o pegou no colo, indo para o sofá de casa. Mamãe estava ali, sem a barriga grandona, e tinha uma coisinha no colo dela.

Era pequena, com o rosto rosado e bochechudo, olhinhos fechadinhos enquanto dormia. Quase não tinha cabelos e não conseguia ver se tinha corpo, porque estava enroladinha em uma coberta.

─ Paulo, essa é a Marcelina, sua irmãzinha. ─ contou sua mãe, sorrindo para ele. A tal irmãzinha abriu os olhos, soltando um bocejo, e se encararam por um tempo ─ Fala oi para ela.

─ Oi. ─ disse baixinho, ainda sem saber direito o que era aquilo.

Mas havia gostado da tal irmãzinha, parecia ser algo legal.

~*~

─ Sai daqui, Marcelina! ─ o garotinho no auge de seus cinco anos gritou, nervoso. A menininha ao seu lado, trajada em um vestidinho azul e com duas marias-chiquinhas, começou a chorar alto ─ Mãe!

─ O que está acontecendo agora? ─ Lilian apareceu da cozinha, encarando os filhos no tapete da sala.

─ Ela fica pegando os meus carrinhos. ─ reclamou Paulo, nervoso, empurrando os brinquedos o mais longe possível da irmã.

─ Paulo Guerra, deixe de ser egoísta e trate de dividir os brinquedos com a sua irmã. ─ Roberto apareceu, bronqueando o filho como de costume.

─ Mas eles são meus. Ela tem as bonecas dela. ─ ele reclamou, chateado.

─ Papai, quero brincar. ─ choramingou a menina, e Paulo bufou irritado. O pai sempre a protegia, especialmente quando ela choramingava assim.

─ Se você não dividir os brinquedos com ela agora, eu vou tirar eles de você. ─ decretou o pai, autoritário.

─ Fica com essa porcaria, eu não quero eles. ─ o garotinho jogou os seus brinquedos no chão, saindo marchando. Roberto tentou protestar, mas Lilian o segurou.

No chão, Marcelina encarava os brinquedos, chateada. A única coisa que queria era brincar com o irmãozão, mas ele havia ficado bravo com ela de novo.

~*~

─ Paulo, é verdade que você vai estudar comigo? ─ perguntou Marcelina, parada na porta do quarto do irmão. Normalmente ela entraria, mas havia um desenho de uma menina com um X em cima, então preferiu não arriscar.

─ É, é verdade. ─ Paulo resmungou, com a cara enfiada no travesseiro. Não queria que ela o visse chorando.

─ Por quê?

─ A diretora Olívia acha que eu ainda não estou pronto para o terceiro ano, é melhor eu ficar mais um ano no segundo. Eu nasci depois do meio do ano, sabe como é. ─ Marcelina concordou, sem realmente saber.

─ E por que você colocou esse desenho aqui na porta? ─ ela perguntou, curiosa.

─ Porque eu não quero meninas no meu quarto.

─ Nem eu? ─ ela perguntou de forma inocente, mas aquilo o irritou. Na verdade, ele estava irritado por ser reprovado de ano e afastado dos amigos, mas descontaria na irmã, como sempre.

─ Você é menina? ─ ele perguntou, grosso. Ela concordou, incerta ─ Então você não pode entrar.

─ Mas eu sou a sua irmãzinha.

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