— O quê?! Quem deixou que ele fosse embora?
— Foi o que ele me disse Mama.— Respondi quase que num sussurro. Mama me deixava muito assustada às vezes.— Talvez... Vinsmoke Jugde tenha decidido deixar Sanji ir e colocar outro filho em seu lugar para se casar...
— Jugde é mesmo um irresponsável. Você. Vá agora perguntar sobre isso a ele.— Mama ordenou para um peão sentado ao seu lado, que saiu correndo pela sala e voltou alguns minutos depois.
— M-Mama — Curvou-se — Vinsmoke Jugde disse que o que aconteceu foi um mal-entendido, e será mesmo Vinsmoke Sanji que irá se casar com a senhorita (S/n). Ah, e ele pegou as pulseiras explosivas.
Vi Mama sorrir.
— Ah, entendi então o que ele irá fazer. Então dará tudo certo, e daqui há três dias, irei estar comendo o meu delicioso bolo de casamento! Mamamama!
Sai da sala antes que Mama notasse.Andava pelos corredores com certa pressa, não lembro exatamente o motivo. Talvez ansiedade.
Parei quando meus olhos encontraram os da Vinsmoke.
— Ah. Olha só quem está aqui. Vou deixar os pombinhos a sós.
Vinsmoke Reiju passou diante de mim e seguiu pelo corredor, deixando nós a sós, como havia dito. Ouvi Sanji respirar fundo.
— Como vai, senhorita (S/n)?
— Bem. E o... Senhor...?— Não sabia direito como tratá-lo.
— Ah...— Ele ofereceu o braço e andamos pelo corredor.— Estou tendo um dia meio puxado, apenas.
— Entendo.
— Sobre nós nos casarmos, ainda tenho que pensar sobre o assunto, e discutir com aquele... Meu pai...— Se corrigiu.— sobre tudo também.
Permaneci em silêncio pelo resto do caminho até meu quarto.
— Senhorita (S/n), — Chamou.— eu...
— Não precisa me chamar de senhorita.— respondi, meio na lata de mais.
— Certo. Eu não quero te magoar. Não é que eu não queira me casar com você... É que tenho motivos para ir.
— Tudo bem Sanji, você já me disse isso. Não estou magoada. Eu só... Não sei lidar com isso.— Sentei em minha cama. Queria pelo menos uma resposta concreta.— Poderia me responder qual a probabilidade de ser você, o meu noivo?
Ele se sentou ao meu lado e pensou um pouco antes de responder, e seu olhar foi ganhando peso conforme os minutos passavam. Parecia tão cansado.
— Alta. Quase certeza.
Dei um sorriso reconfortante para ele.
— A esperança é a última que morre, não é?
— N-não (S/n)!
Ri pelo seu nervosismo. Sanji relaxou ao meu lado.
— Vamos mudar de assunto.— Meus olhos percorreram as paredes de meu quarto.— Você não tem uma relação muito boa com seu pai?
— Como descobriu?
— Você fez uma careta quando se referiu a ele.
— Fiz?— assenti.— Caramba.
— Posso perguntar o motivo?
— Claro. Pode me pergunte o que quiser.
Sanji parecia escolher as palavras com precisão em sua mente.
— Com licença, — chamei uma criada.— pode nos trazer um chá, por favor?
A criada assentiu e saiu correndo.
— Meu... Pai... Não me quis.
— Como?
— Ele... É uma longa história. Mas resumindo muito, ele me abandonou treze anos atrás.
— Você tinha...
— Oito anos.— completou ele.
— Nossa... Você era tão novo...
Sanji se manteu em silêncio. Que constrangedor, por que perguntei isso? Resolvi mudar o assunto.
— Você era um pirata, não era?
Quando perguntei isso, Sanji deu um sorriso singelo e nostálgico.
— Sim, era.— Seu sorriso se desfez, mas logo se animou de novo.— Eu era o cozinheiro do navio. Nosso capitão era... Uma praga! Me perturbava o dia todo, comia como um doido, e a noite, tentava assaltar a geladeira. Por sorte comprei uma espécime de ratoeira e um cadeado para pôr na geladeira para tentar prevenir que o capitão acabasse com o estoque da tripulação.
Sorri. Era tão fácil conversar com Sanji.
— E os outros?
— Ah, claro. Bem... Tínhamos um... Espadachim vagabundo, que só sabia treinar, encher a cara e dormir. Ainda por cima era um idiota e tinha um cabelo que parecia ser grama.— Ri pelo seu tom de desdém que, porém, trazia um sorriso no rosto.— A navegadora, uma bela ladra fascinada por dinheiro e riquezas... Mas é tão gentil. O atirador fraco e covarde, por mais que já tenha mostrado-se bastante valente. O médico é uma rena falante que ama doces, um pouco ingênuo, porém tem um belo coração. A arqueóloga é misteriosa e até um pouco macabra de vez em quando, mas é um doce. O carpinteiro, um tarado que anda por aí de sunga, fazendo poses esquisitas e bebendo cola, e, apesar de ser enorme, chora por qualquer besteira. E o músico, que é um esqueleto vivo, e tem um afro, é sempre bem-humorado. Ah, e é um tarado também.
Não entendi muito bem a última parte, mas o deixei continuar.
— Nunca tive um segundo de paz dentro daquele navio.— Olhou para o chão, com o olhar repleto de ternura.
Pelo visto, Sanji gostava de ser perturbado.
— E era divertido?— perguntei.— Ser pirata.
— Com certeza.— respondeu, convicto.— Ainda mais a nossa. Sempre faziam brincadeiras e... Era impossível ficar entediado.
Sorri novamente. E antes de responder, procurei coragem para dizer as palavras mais sinceras e certas. Suspirei fundo.
— Entendo a sua decepção. Ser tirado de um lugar tão agradável para ser obrigado a... Se casar com uma completa desconhecida e perder a sua liberdade...
— Você não é uma completa desconhecida.— Falou, como se fosse óbvio.
Corei instantaneamente.
— Ah... Mas é que... Não foi isso que eu quis dizer...
Olhei para os detalhes das paredes e da porta do quarto, e vinha mente vagou, fazendo-me esquecer do que havia ao redor. Esse tipo de coisa sempre acontecia.
— Você já foi para o mar alguma vez?
— Não. Por mais que a Mama seja pirata, ela mal sai agora, apenas manda meus irmãos mais velhos irem fazer o que quer que seja.
— E você tem vontade de ir?
— Bom... Agora, com o que você disse, tenho ainda mais.
Sanji sorriu, e seus olhos vagaram pelo meu quarto. Seu olhar pousou em minha escrivaninha, então, com um pulo, e andou até ela.
— Foi você que fez?— pergunta, com um esboço velho meu entre os dedos.
— Sim. Faz tempo.
— Espere — Ele caminhou até a porta de meu guarda-roupa, e observou a pesa em um cabide no cabideiro.— Você fez?— pergunta, apontando para a blusa.
Assenti.
— Isso é incrível! Como você consegue fazer isso?
— Depois que desenho, traço as medidas aqui, ao lado e em seguida desenho cada parte no tecido, recorto e costuro. Bem resumidamente, é assim.
— Interessante. A única parte que já vi do processo é quando estão nas vitrines das lojas.
Solto uma risada que parecia mais um ruído.
— Que coincidência. A única parte que já vi do processo de culinária é quando o prato já está na mesa.
— Ah, sério? Você está perdendo a melhor parte. Me diga, o que quer comer?
— O que seria um bom acompanhamento para um chá, cozinheiro?
— Talvez bolinhos... Hum...— pôs a mão no queixo — biscoitos. Sanduíches. Você que escolhe.
— Vou perguntar para alguma criada o que os cozinheiros estão preparando para hoje.— disse, já me direcionando para a porta.
— Espere — agarrou meu braço — por que os cozinheiros? Eu que prepararei.
— Por quê? Você é visita Sanji, todos estão tratando de você.
— Mas preparar é a melhor parte! Depois de comer, é claro. Vamos — ofereceu o braço — me mostre onde fica a cozinha.
— Vai ser uma longa caminhada. A cozinha fica na ala leste, do outro lado do palácio.
— Não importa. Você vai ver, vai valer a pena. Sou o melhor cozinheiro que você verá na vida.
— Ah, é?— sorri, olhando para os lados para ver se ninguém vinha — Então, por que não pegamos um atalho?
Sanji olhou para mim e percebeu meu olhar travesso.
— Claro, por que não?
O guiei até a esquina do corredor, onde, em uma parede havia um vazo enorme de flores.
— Vem — sussurrei — aqui atrás!
Sanji excitou, mas veio.
— Os empregados usam as passagens secretas para se locomover pelo palácio sem que ninguém os veja.— pressionei um botão invisível atrás do vaso, e o vão se abriu pela parede, revelando um grande corredor.— Vamos?
— Tem aranhas aí?
— Ahhh...— forcei as vistas pelo túnel — provavelmente.
— Ah.
Esse "ah" foi, ao mesmo tempo, um claro sinal de pavor e uma tentativa de parecer pleno, a meu ver.
— Elas não querem nada com você, Sanji. Agora, vamos.
Segui pelo corredor com Sanji atrás de mim, que andava com certa pressa.
— Posso segurar a sua mão?— pediu, com a voz trêmula.
— Pode.
Senti meu rosto esquentar. Terá de se acostumar com isso, (S/n). Na verdade, não. Lembrei a mim mesma. Continuei andando, mesmo com a respiração dele batendo na minha cabeça e me distraindo.
— Os empregados limpam aqui com frequência? E tem luzes? Podemos acende-las?
— Não faço a mínima ideia Sanji. Mas já estamos chegando. Só descer aquelas escadas.
Sanji apenas assentiu em silêncio.
Continuamos até que o aroma de pães assando nos fiz salivar. Abri a porta e demos com uma cozinha lotada, onde cozinheiros iam de um lado para o outro com pratos gourmet ou simples sobras para lavar.
— Agora é comigo.— Sanji sussurrou, puxando as mangas e indo até um dos cozinheiros, que, mesmo relutante, o deixou usar a cozinha.
Assim que pegou os ingredientes e os utensílios, seus ombros pareceram relaxar. Me sentei em uma das mesas que os funcionários almoçavam e esperei pelo meu lanchinho da tarde. Reparei no sorriso sincero de Sanji. Parecia gostar muito do que fazia.
Esperei uns trinta minutos, e quando notei, já havia uma bandeja com bolinhos a minha frente na mesa.
— Prontinho.— se sentou — Pode comer.
Peguei um dos bolinhos, que exalavam fumaça, soprei e mordi. A massa era fofa, docinha e incrivelmente perfeita.
— Isso tá muito bom!— Exclamei, e o sorriso de Sanji aumentou.
— Obrigado.— Seu olhar vagou pela cozinha, indo das pias aos cozinheiros. Reparei na nostalgia em seus olhos.
— Que foi?— Perguntei, com as bochechas cheias.
— Nada. Só a barulheira me fez lembrar de um restaurante que trabalhei.
— Ah.— Resolvi não perguntar o porquê de um príncipe precisasse trabalhar em um restaurante.
— Desculpe atrapalhar, mas o senhor e a senhorita não podem ficar aqui.
— Ah, certo. Tudo bem.— Sanji se levantou e pegou os bolinhos restantes.— Vamos, eu te levo até o seu quarto.
A caminhada de volta ao quarto foi silenciosa — apenas a parte que andamos pela passagem — e quando estávamos quase chegando em meu quarto, perguntei a ele o que mais gostava de cozinhar. Sanji respondeu várias coisas, como: carne assada, onigiris, hambúrgueres, peixe frito, algodão-doce, suco de tangerina e outros que não me lembro agora. Mas, quando paramos de frente a minha porta Sanji me entregou os bolinhos, demos um abraço respeitoso e fizemos uma reverência. Apenas fechei a porta quando o vi virar a esquina do corredor.
Encostei na porta e levei outro daqueles doces até a boca.
Me sinto um pouco confusa. Acho que vou ler um livro.
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Tempestades Tem Nome De Gente • Imagine Sanji • One Piece
FanfictionCharlotte (S/n) é uma grande fã de finais felizes, embora saiba que nunca irá acontecer consigo. Desde o nascimento, sabia que um dia se casaria, porém, não por amor, e sim por meios políticos que sua mãe, Charlotte Linlin adere. Mas nada a impedir...