CAPÍTULO 1 - O Lago

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Acordei com os raios do sol entrando por entre o espaço que aminha cortina branca deixava na janela. Com os olhos entreabertos, olhei para o pequeno relógio que ficava em cima do criado-mudo, indicando que já passava das oito horas da manhã.

Levantei da cama, sentindo todos os músculos se esticando. Como de costume, espreguicei e levantei os braços para ouvi-los estralando. Fui até o banheiro, enxaguei meu rosto e olhei para a garota alta e de cabelos castanhos diante de mim no espelho. Meu cabelo estava tão grande, devia cortá-lo. Resolvi fazer um rabo de cavalo.

Guardei meu pijama, peguei um short e uma regata, para enfrentar o calor que parecia estar fazendo.

Abri as grandes cortinas para que deixassem a luz da manhã penetrar pelas janelas. Do lado de fora, meu pai – John Court – estava arrumando o barco que ficava preso no ancoradouro. Sorri quando vi aquela cena, pois há muito tempo ele não mexia com aquele barco. Ele estava passando pelo deque tranquilamente, levando a vara de pescar e os utensílios necessários para uma boa pescaria.

Moramos nos Estados Unidos da América, em uma cidade pequena perto de Washington, D.C, chamada Casperwood, em uma casa que fica de frente para um imenso lago, que se encontra na Bacia do Leroy. É perfeito para nadar e principalmente para pescar. Todos os fins de semana, praticamente, meu pai e eu saímos para pescar, enquanto minha mãe – Susan Court – assiste seu programa de culinária.

Minha mãe era hippie quando jovem, mas eu ainda vejo algumas das características deste movimento em seu comportamento. Como por exemplo a utilização de incensos pela casa e a meditação matinal que ela diz que purifica sua alma. Eu a defino como detalhista, não gosta de nada fora do lugar e ela sempre encontra algo para fazer, enquanto espera o peixe ser pescado. Em outras vezes ela vai até a feira vender seus quadros, que ela pinta no curral que temos ao lado da nossa casa.

Um curral que é de longe o mais limpo que já vi. Não temos animais, então o utilizamos apenas para guardar um carro velho que era do meu vô e outras máquinas do meu pai, que servem para consertar móveis de madeira. E, claro, para o ateliê da minha mãe.

Quando voltávamos da pesca, trazendo uma rede de peixes, ela já havia preparado o molho para o tempero, limpava os peixes, e os que sobravam, ela guardava no congelador. Depois de temperados, ela colocava com cuidado os peixes no forno alto e me pedia ajuda para arrumar a mesa, enquanto meu pai assistia algum jogo de futebol na televisão, ou pelo menos fingia assistir, apenas para dar a desculpa deque não poderia ajudar no almoço. 

Meus pais falam que eu fui o cupido deles. Aliás, quando eu era criança, adorava escutar como eles se conheceram e não entendia como fui um cupido na época. Mas, em poucas palavras, é muito simples: eles se conheceram jovens, meu pai, filho de um veterinário e minha mãe, uma sexy balconista. Ele a engravidou, eles se casaram e vivem felizes até hoje. Sei que não é a história de amor mais bonita por aqui, mas eles se amam, e para mim o amor é que importa.

Depois de colocar uma botina velha que eu sempre uso, desci as escadas e encontrei minha mãe arrumando uns pratos no armário da cozinha.

— Que bom que acordou minha filha. – Ela disse, fechando o armário e abrindo a geladeira.

— Bom dia, mãe. – Eu disse, sentando no banco de frente para o balcão. – O que temos para hoje?

— Ah, Annie. – Ela suspirou e fechou a geladeira com as mãos cheias de coisas. – O mesmo de sempre. – Ela colocou as coisas no balcão e separou um prato para mim. – Que tal algumas panquecas e um ovo mexido?

— Só as panquecas já é o suficiente. Tenho que comer depressa, antes que meu pai vá sem mim. – Eu dei um pequeno sorriso esperançoso. Há muito tempo não pescava.

O Enigma do Lago (Romance - DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora