"Não tem como dar errado"

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  Foi um longo dia fora de casa, mas Dom Pedro II, ou melhor, Pedro de Alcântara, como prefere ser chamado, retorna caminhando com as mãos para trás do corpo e um sorriso bem armado rodeado por aquela grandiosa barba branca.

Parando na frente da porta de entrada da casa atual, que era bem mais simples do que os luxos imperiais, Pedro libera a sua mão direita, a trazendo de punho fechado até a superfície de madeira que delimitava o lado de dentro e o de fora da residência, bate três vezes e recolhe a mão. Espera poucos segundos e a porta se abre lhe dando visão para aquela senhora de cabelos finos e brancos, as bochechas um pouco caídas e toda a pele enrugada e sensível. Ela usava um longo vestido escuro com uma renda branca próxima à gola. A senhora abre espaço dando um passo para trás, mas ao contrário de Pedro... ela não parecia tão feliz.

— Passou tanto tempo fora! Te esperei para o jantar... — reclamou a senhora.

O ex-Imperador sorriu por matar a saudade de escutar aquela voz dura de sua tão querida esposa, adentrou a casa, retirou a cartola da cabeça e beijou a mulher de sua vida ainda com aquele sorriso extenso que não foi capaz de mudar a seriedade instaurada na mulher. Pedro dá passos para trás, andando de costas, mantendo as mãos atrás do corpo se certificando de que conseguia impedir qualquer espiada dela.

— Já sei... já sei... Me desculpe a demora, meu amor... — o sorriso resultava na voz de Pedro sair bem humorada.

O sorriso e a felicidade de Pedro de Alcântara era algo contagiante! Assim como quase tudo vindo deste homem. Não demorou para que os lábios da senhora, até então séria, se esticarem e formarem um pequeno sorriso.

— Eu sabia que conseguia passar por essa casca grossa...! — o homem comemora vendo a mulher virando o rosto e fechando a porta da casa, provavelmente tentando esconder que ele estava certo. Esconder que sorria. — Eu sei que está sorrindo, Teresa! E que está tentando esconder de mim até conseguir ficar séria de novo e fingir que esse lindo sorriso não aconteceu!

Teresa ri e solta a porta já fechada e trancada, voltando a olhar para o seu marido. Ela une as mãos delicadas em frente ao corpo balançando a cabeça negativamente já sem esconder seu rosto. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Pedro se adianta orgulhoso:

— Eu conheço a mulher com quem casei.

Os dois se olham, trocam sorrisos singelos e um carinho mútuo apenas com aquele doce olhar.

— O que tem aí atrás? — perguntou Teresa quebrando o silêncio com a voz mais suave e um semblante curioso e contente, demonstrando então que aquela "velha rabugenta" já estava de saída.

Pedro coloca a cartola que segurava em sua mão direita sobre a mesa bem ao seu lado, retorna a mão agora livre para trás, cola os braços ao corpo, escondendo mais ainda o que tinha ali consigo.

— Nada! — a voz fina do senhor acaba se afinando mais ao falar rápido pelo nervosismo.

Pedro sempre foi um péssimo mentiroso. Seu sorriso entregava tudo. Mas Teresa resolve entrar na brincadeira e fingir acreditar no marido.

— Está bene! Está bene! Vai tomar un banho e vestir uma roupa limpa. Vou preparar seu jantar, si? — Teresa falava entre gargalhadas.

Era inacreditável como Pedro conseguia ser tão alegre ao lhe fazer surpresas. E ela sempre fingia não desconfiar de nada! Os dois nunca sabiam quando um estava fazendo vista grossa ou quando não sabia de fato o que se passava... e Teresa era boa nisso.

Pedro saiu andando de costas, se mantendo de frente para Teresa, ao deixar o cômodo ele se virou e foi às pressas para seus aposentos. Fechou a porta para ter certeza de que Teresa não entrasse. Retirou suas usais roupas sociais: camiseta branca, calça, meias, sapatos e colete da pretos e sua famosa casaca que já estava mais puída do que o "aceitável" para Teresa naquela casa. Tomou seu banho, se vestiu com roupas mais confortáveis mas não menos requintadas e com a escova de cabelo na mão, se aproximou da cama, local onde havia deixado o presente. Ficou um tempo apenas olhando-o enquanto penteava seus cabelos brancos no penteado de sempre. Arrumou a barba e após guardar a escova pôde finalmente se dedicar ao presente.

Depois do ImperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora