Aquele Que Ama {Suigetsu + Karin}

Único

Era uma sexta feira e os colegas de apartamento não tinham aula nenhuma. Karin, que cursava artes cênicas na faculdade, não iria nem se tivesse. Estava cansada de frequentar aquele lugar e aquele curso, tanto que contava os dias para os dois anos que ainda precisava para se graduar. Já Suigetsu, quase formado em música, só precisava entregar algum relatório meia boca sobre o rock, e por isso escutava alguma música do Iron Maiden e balançava a cabeça para frente e para trás.

"Quer sanduíche com ovo dentro? Ei, Suigetsu, ei, tô falando com você!" Karin pegou no ombro do amigo e o sacudiu.

"Não corta a vibe, Karin!", ele tirou o fone, mal humorado. "Preciso entrar no clima."

A atriz correu os olhos pelo texto minúsculo na tela do notebook e riu. "Precisa mesmo, isso tá uma porcaria.", ela deixou o sanduíche encima da mesa e pegou metade dele para si.

"O que você sabe sobre a composição harmônica do rock? As sequências mais utilizadas? Acordes principais?"

"Nada, e por isso está ruim. Não entendi merda nenhuma do que escreveu.", ela mordeu com força o sandíche, erguendo os braços e fazendo com que as mangas largas caíssem e revelassem suas mil e uma tatuagens. A sua favorita, uma na mão que tinha em feito em conjunto com seu primo Naruto, enrugou com o ato.

Suigetsu reclamou alguma coisa que nem ele mesmo estava com vontade de dizer e levantou, jogando a responsabilidade da atividade para o depois. Agora ele só iria comer para não desmaiar de fome ou morrer antes dos 30 de tanta magreza.

Enquanto isso, Karin ligava a televisão e procurava por algum programa menos entediante na televisão. Acabou por largar o controle quando achou um canal de surf, achou muito legal ver homens sarados na água.

"Não sabia que gostava dessas coisas, Karin!"

"Tanto faz o esporte, o bom mesmo são os homens de tanquinho molhados."

"E eu quando saio do banho?"

"Você é... Ugh, pálido."

Karin naquele momento se sentiu hipócrita recebendo o olhar debochado de Suigetsu. Ela mesmo havia amado por anos um cara que parecia nunca ter visto a luz do sol. Foi até zuada por sua família que dizia: "Karin gosta é de vampiros!".

Apesar do garoto não ter dito nada para constrangê-la, se sentiu tola e imprestável como toda vez que pensava no assunto. De repente até terminar aquele sanduíche pareceu um sacrifício com o tanto de sentimentos ruins se acumulando.

"Pervertida.", Suigetsu brincou, querendo aliviar o clima recém instalado no cômodo. Nunca funcionava muito bem.

"Que seja..."

Com nenhuma vontade, a garota de cabelo rosa terminou seu lanche e deitou no sofá, de olhos para cima com nenhum grande ou real interesse na televisão.

Ela estava se remoendo e Suigetsu sabia. Odiava trazer o assunto à tona, mesmo que não tivesse dito nada realmente. Ele comia enquanto pensava em alguma forma de não transformar tudo aquilo em um ciclo de autodestruição para a amiga de novo.

Karin era insuportável, maluca, estúpida e reflexiva, tudo o que Suigetsu odiava em alguém. Porém, desde que morava com a Uzumaki, o que mais o incomodava era a aura depressiva quando o assunto era aquele maldito Sasuke Uchiha. Sim, seu amigo que acabou por quebrar o coração jovem da garota emo. Era intragável para si como por fora Karin colocava toda a culpa no Uchiha e por dentro se remoía de amor por ele.

Se fosse expor seus verdadeiros sentimentos, diria que Karin estava se afundando sozinha, Sasuke não tinha mais nada a ver com isso. Aliás, o garoto já estava namorando outra menina de cabelo rosa, uma dançarina chamada Sakura e que realmente parecia gostar. Mas ele não podia dizer nada, não sem se sentir um merda também depois.

Só que naquele dia, naquele inferno de dia enquanto olhava para seu sanduíche com ovo dentro e escutava apenas a música pop insuportável do programa de surf, Suigetsu não conseguiu ficar calado. Ele terminou de comer e acendeu seu cigarro dentro de casa, enxergando na fumaça seus pensamentos mais gritantes.

"Era unilateral desde o começo."

Silêncio nas costas do garoto, nada mais que isso.

"Quando Sasuke disse que não te amava e que precisava só aliviar a tensão, você aceitou de bom grado como um cachorro. Aceitou que ele pisasse em você e nos seus sentimentos." De novo nenhum movimento no sofá. Talvez estivesse cometendo um grande erro. Mas sempre cometia erros, principalmente quando precisava lidar com seus sentimentos por alguém que também não o enxergava.

"Queria fazer a vida dele ficar mais fácil com seu corpo e afeto. Queria salvar o garoto de uma coisa que não era responsabilidade sua. Queria fazer ele aos poucos se apaixonar por você. Agora que Sasuke encontrou alguém que realmente gosta, se pergunta porquê não foi você."

Um movimento, uma leve mudança no estofado. Era incômodo não conseguir ver o rosto de Karin de onde estava, então ele se inclinou um pouco, observando que um dos braços cobria a face da garota.

"Está vivendo uma vida miserável agora, se escondendo em quantas tatuagens puder ter. Mas não pode fugir de você não importa qual a merda que faça. É burra, Karin, muito burra."

Nesse momento, Karin odiou Suigetsu com todas as suas forças. Não podia mais suportar as barbaridades que ouvia, as facas em forma de palavras que pareciam fazer seus ouvidos sangrarem.

Ela se levantou e foi até a cadeira, pronta para esbofetear o garoto com dentes de tubarão. Porém, Suigetsu era esperto e atento, e segurou os pulsos da Uzumaki.

O cigarro por pouco não queimou a pele dela.

"Me solta!"

"Ia me bater como sempre faz, Karin."

"Você merece!", suas lágrimas escapavam dos olhos e molhavam o rosto enquanto gritava: "Uma vez na vida para de dizer o que acha que as pessoas precisam ouvir! Seus conselhos são de merda, você não é ninguém!". Ela escapou do aperto de Suigetsu e bateu nele com força, transbordando ódio. "Acha que vai me fazer melhorar colocando a culpa em mim? Que porra!"

"Não foi isso que eu quis dizer! Só que..."

"Só que o quê? Caramba, por que tornar isso pior para mim? Eu já me sinto miserável todos os dias, o que mais você quer?"

"Eu..."

"Cala a boca!", Karin parou de bater, chorando demais para isso, colocando o rosto tão próximo de Suigetsu que pôde ver todas as suas imperfeições. "Eu odeio você."

Qualquer pessoa alheia poderia ver e dizer que era efeito de bebidas ou droga, porém era apenas a normal reação de combustão entre Suigetsu e Karin. Aos poucos a chama se apagava, e eles esqueciam por um tempo que um dia não se suportaram.

Mas hoje era um dia diferente. Suigetsu não queria esquecer mais uma vez. Ele disse o que disse, um recado mais para si do que para ela.

O universitário tomou o corpo de Karin com as mãos e a abraçou. Um aperto forte e que resultou no encontro de ambas as bocas, uma mais faminta que a outra.

De início foi estranho, parecia que ninguém queria ceder à impulsividade. Mas então se abriram no mesmo momento, e o toque se estendeu, quente e impetuoso.

Aconteceu ali mesmo na cozinha, e depois na sala e finalmente no quarto. As roupas haviam ficado em cima de algum móvel, ninguém se lembrava qual. A casa foi preenchida durante algum tempo com vozes altas e perdidas em prazer, mas depois se contentou com os murmúrios impacientes e finalmente o silêncio.

"Por quê...?", perguntou Karin deitada quando quase dormia, seu cabelo roçando nos braços desnudos e tatuados.

Suigetsu sorriu com as palavras ao responder:

"Você faz o melhor pão com ovo dentro, Karin! O melhor!"

Karin sorriu um pouco, cansada ao extremo, bêbada de tanto se esforçar, e fechou os olhos. A respiração constante da garota acalmou o coração de Suigetsu, que se deixou levar pelo ambiente e dormiu também.

Ele a amava, assim como ela amava Sasuke, e Sasuke amava Sakura. Apenas não sabia dizer em voz alta, não sabia como explicar.

E nem sabia se um dia conseguiria.