Prólogo - Noah

107 6 1
                                    

Alguns anos atrás...

A vida de um lobo alfa não poderia ser tão vazia quanto a minha. Fui separado da minha melhor metade no parto, por um feitiço poderoso. Os machos, como eu, costumavam ser sacrificados, por conta do instinto predador incontrolável.

Numa tentativa de me manter vivo, Leslie Baron fez um acordo com os anciões para trancar meu lobo e eu poder viver. Minha mãe, aquela que deveria me proteger a todo custo, me sacrificou mesmo assim. Eu não conseguia viver feliz sem meu animal e a minha incansável busca por ter de volta o que me pertencia me fez ser o mais poderoso e temido empresário.

Poderia não estar vivendo como um sobrenatural, mas eu tinha todos os pré-requisitos. Só precisava me transformar e, finalmente, curtir minha eternidade, antes que os malditos cabelos brancos enchessem minha cabeça.

Em meu carro esportivo, sozinho e exausto de uma noite de cobrança de dívida, conferia meus punhos esfolados e o sangue que espalhei pelo automóvel. Tony foi contra a minha ação, mas o meu futuro beta e segundo no comando das minhas empresas sabia que eu faria de qualquer jeito.

Ninguém saía impune da minha ira.

"Eu sinto isso em meus ossos, e em tudo que conheço

Está debaixo da minha pele, e isso não vai passar

Eles me conhecem tão bem, mas só o tempo irá dizer

Se esse sou eu, eu me conheço?

Não esqueça que sua vida é sua

Nunca desista"

I Prevail – Scars

Eu morreria, mas lutaria para reencontrar meu lobo e o libertar. Enquanto isso, seguia a vida pelas minhas regras. Odioso, insensível e diabólico eram alguns dos adjetivos atribuídos a minha pessoa. Poderiam tirar tudo de mim, menos o instinto predador.

Entrei no estacionamento do meu prédio e, na minha vaga de garagem, estava ela. Leslie Baron, a mulher por quem eu deveria ser grato por estar vivo, nada mais era que parte do meu rancor. Ela me matou ao excluir o meu lobo.

Minha mãe precisou sair da frente, senão a esmagaria contra a parede. Sabia que nada faria a ela, apesar de todo o ódio que eu nutria, aquela era minha mãe. Nunca admitiria em voz alta, mas eu mataria e morreria por aquela alfa. Todavia, era mais fácil a manter longe, com minha postura distante.

— Noah — cumprimentou, suave, assim que abri a porta do carro. — Precisamos conversar.

— Poderia ter ligado, Leslie.

— Odeio quando me chama assim.

— E qual outra forma eu deveria te chamar? — cuspi, batendo a porta do carro e indo para o elevador.

— Isso precisa parar, filho. — Ignorei todas as palavras subtendidas naquele pedido. — Noah Baron!

O eco da sua voz fez meus ossos tremerem. Estaquei no lugar, fechei os olhos e deixei que ela se aproximasse, com sua ferocidade e discrição. Senti-a se aproximar e, mesmo não tendo os sentidos aguçados iguais aos de minha espécie, com ela, era tudo mais intenso.

Tocou meu rosto e abri os olhos, encarando os amarelados que deveriam ser parecidos com os meus. Enquanto ela bancava a maternal e preocupada, eu só tinha raiva por ter me colocado na vida de forma incompleta.

— Precisa parar com a matança descontrolada. — Ela era tão doce, mas eu sabia do seu poder e o quanto também faria o mesmo, no meu lugar.

— Não estou fazendo nada fora do normal para um alfa.

— Mas você não tem o lobo.

— Graças a você, mamãe. — Desvencilhei-me dela e apertei o botão na parede, para subir até a cobertura. — Não se cansou de usar sempre os mesmos argumentos para me impedir de ser quem eu sou?

— E você, filho? Não se cansou de me culpar por algo que estava fora do meu controle?

Entrei no elevador e ela foi comigo, se sentindo convidada para ficar, mesmo que eu a encarasse com desdém. Tentei ignorá-la, mas seu toque e carinho me desarmavam e eu lutava contra o sentimento de amor que surgia em mim.

— Você está dando motivos para ser caçado pelos anciões que prezam pela paz na nossa espécie. Para eles, eu deveria ter parado a gestação assim que eu descobri que era um menino.

— Por que não fez?

— Porque sou sua mãe e eu te amo — rosnou, mostrando os dentes e me intimidando. Mas, como ela mesmo sabia, eu não a temia. — Por favor, só pare de ser cruel e dar argumentos para que te cacem como um inimigo.

— No fim, era melhor ter me deixado com o lobo. Pelo menos, eu teria uma desculpa sobrenatural para os meus feitos. Mas é apenas eu, humano, cobrando uma dívida do caralho.

Chegamos ao meu andar, digitei a senha na porta do meu apartamento e entrei, com minha mãe atrás de mim.

— Noah, nem o pior dos mafiosos é tão cruel como está sendo.

— Porque eu não sou um deles. Sabe que o medo gera respeito, aprendi com você.

— Se seu pai estivesse vivo, daria uma lição sobre o poder do amor, que calaria essa sua boca suja e perversa. — Ficou em minha frente e me impediu de entrar no meu quarto. — Pare, Noah. Ou eu o farei.

— Devolva meu lobo, então, conversaremos sobre essa baboseira sentimental. — Dei um passo para o lado, ela me acompanhou, altiva. Apesar de ter muito mais anos do que eu, sua imortalidade lhe dava um ar jovial. — Estou cansado, quero tomar um banho e dormir.

— Há uma forma.

— Licença. — Pisei para o lado e ela me acompanhou novamente, como uma criança birrenta. Bufei e rosnei, mas não chegava ao sonoro animalesco dela. A saudade do que nunca tive me corroía com inveja e raiva.

— Uma Gemini.

— O que uma lenda tem a ver com nossa conversa?

— Há um ritual, na lua azul. Ela surge de dois em dois anos e... tendo o sangue da Gemini e os ingredientes certos, talvez o feitiço que o aprisionou possa ser revertido.

— Talvez.

— Nunca foi feito antes e as Alfas Gemini são raras.

— Você quer dizer, lenda.

— Conheço um bruxo de sangue, que é vinculado a uma loba especial, que poderá me ajudar na poção. Bastiaan pode...

— O que você quer de mim? Esperança? — Meu peito se apertou e se eu não fosse tão duro, poderia estar chorando por frustração. — É tudo uma baboseira, apenas para que eu freie meus instintos animais, que VOCÊ matou. Parte de tudo o que faço, é culpa sua.

— Noah...

Passei por ela, arranquei minha roupa no caminho e segui para o banheiro. Estava irritado, muito mais do que antes. As Gêmeas Gemini, bruxo de sangue... minha mãe estava desesperada, mas não eu.

Abri o chuveiro e deixei que a água me lavasse com sua força.

— Se você prometer, eu também prometo, meu filho. Executaremos esse ritual, irei me redimir e seu lobo será liberto. Você voltará a ser completo.

— Primeiro, transforme a lenda em realidade. Depois, transforme o talvez em certeza. Saia!

Quando terminei o banho, não havia mais nada dela além do cheiro. Odiava aquele sentimento, mas era inevitável me sentir esperançoso com aquela promessa.

E se fosse verdade, se a lenda se transformasse na minha realidade, eu estava disposto a mudar, na mesma proporção em que o lobo faria com o meu corpo, mente e alma.


Completo na Amazon: https://amzn.to/2YAtxZl

Prometida para Noah (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora