Capítulo 1

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Há dias em que você não quer sair da cama, parece que tudo vai ser ruim e que levantar se torna mais que desnecessário, bom, posso dizer que tive muitos dias assim, depois de tudo o que houve e a data se aproximando, os meus dias se tornam difíceis, mas ao contrario do que alguns psiquiatras indicam, que devemos falar sobre o problema, eu prefiro não falar.

Onde eu estou? Em uma boate em plena sexta-feira, eu sei que sexta-feira pode parecer um dia comum para sair e curtir a "night", porém, não para uma pessoa que trabalha cedo em quase todos os finais de semana.

Estou aqui por minha amiga linda, querida e, sem exageros, pessoa com a pior sorte para relacionamentos.

-  Você não pode afogar toda a sua mágoa em uma garrafa de tequila. - eu disse ela.

Chloe estava a uma hora chorando no meu ombro porque o namorado dela, opa, ex namorado, havia terminado tudo.

Eu já suspeitava disso, ele ficou uma semana sem ligar, simplesmente desapareceu do mapa, mas só hoje ele realmente terminou tudo, com aquela desculpa esfarrapada de que "Ele não estava pronto para um compromisso sério e que ela merecia alguém melhor do que ele. Que não tinha nada a ver com ela."

E a clássica frase "Não é você, sou eu."

Ridículo.

Ela até aceitou bem, se não fosse pelo fato de ele sair por aí com outra pendurada no pescoço.

- Tem razão. - respondeu ela, é acho que coloquei um juízo nessa cabeça - Preciso de pelo menos três garrafas para esquecer até meu próprio nome. - pensei rápido demais.

-  Chloe, eu sei que você está sofrendo e tudo mais, mas você tem que seguir em frente. Olha ao redor, a boate está cheia de homens gatos e sensuais. - olhamos ao redor e realmente havia homens deliciosos na boate - Muitos, é sério, muitos, passaram por aqui babando por você. - ela olhou para mim.

Segurei seu rosto cabisbaixo.

- Levanta a cabeça e vai dançar até não aguentar mais e por favor arranja alguém melhor do que aquele babaca. - ela me olhou ainda triste, imagino que pensando se iria dançar - Ou você prefere matar ele e enterrar no quintal? Sério, eu não me importaria de te ajudar com isso.

Ela sorriu.

- Você realmente faria isso? - ela segura minha mão.

- Claro, você quer uma morte rápida ou lenta? Pode escolher, meu kit de tortura está a postos. - falei com um sorriso digno de serial killer no rosto.

- Não temos quintal. - respondeu ela rindo.

- Damos um jeito nisso. - ri também.

Chloe é muito bonita, alta, magra, cabelos longos quem caem em cascatas de um ruivo lindo e com belos olhos azuis. Os homens babam por ela e eu não exagerei quando disse muitos, ela poderia ter qualquer homem aos seus pés, mas quem disse que ela me escutou, apenas encarou sua taça e deu mais um gole.

- Pra você é fácil falar. - disse ela.

- Falar o quê? - me ajeitei no banco que estava sentada, era difícil manter as pernas fechadas, sem pagar calcinha, num banco alto daqueles.

- Você sabe "seguir em frente". - ela faz aspas no ar com os dedos - Você é linda, Deyse!

Posso dizer que esse elogio levantou um pouco minha autoestima, mas eu não me sinto tão confiante assim.

Eu não sou tão alta e nem tão magra, na verdade acho que a palavra normal é a que me define. Pode ser que para os quesitos de beleza eu esteja aceitável, mas o jeito que ela falou parece que eu sou uma Angelina Jolie.

- Por favor, Chloe... 

- Você é linda Deyse e não se dá conta disso, você é bem sucedida, inteligente, engraçada... - ela começa a falar arrastado por conta da bebida. - Você é perfeita. E eu sou esse fiasco total que arruma namorado atrás de namorado e é deixada por todos, com as desculpas mais esfarrapadas de todos os tempos, acho que vou até escrever um livro. - interrompeu ela.

Me deu vontade de rir, mas rir com a minha amiga em um estado de sofrência, não ajudaria muito.

Eu não sou deixada por namorados pelo simples fato de não tê-los, eu queria dizer isso, mas acho que só pioraria. Um fato sobre mim: eu não namoro, não que eu seja anti-namoros, mas desde de meu último namorado, tento manter meu coração bem longe de encrenca, também não estou virando uma freira, mas prefiro ficar solteira, antes solteira do que sofrendo por qualquer filho da puta que aparece.

Acho que tenho um dedo sobrenaturalmente ruim para homem, as vezes até eu mesma me surpreendo. 

Saí do meu devaneio, agora não é hora de pensar em mim e sim de ajudar essa minha pobre amiga de coração partido à juntar seus cacos.

- Chloe, você é linda e a culpa não é sua. Você ainda vai achar o seu príncipe encantado e blá, blá, blá... Torça para ele vir de carro e não à cavalo. - ela sorriu - Não tem como você chegar no cara certo sem tropeçar em alguns errados. Uma pena na minha opinião.

- Eu quero algo sério, Deyse, eu quero o "FELIZES PARA SEMPRE", você sabe o quanto isso é importante para uma mulher, você é dona de uma loja de vestidos de noiva. - ela levanta o dedo no ar como em acusação. - E organizadora de casamentos, quem melhor do que você para entender?

Eu entendo a Chloe porque o grande medo dela é ficar pra titia e nunca achar o seu verdadeiro amor, filha de pais divorciados ela tem medo de terminar como a mãe que apesar de feliz, vive só. Então, ela se cobra encontrar o cara perfeito para dividir a vida e tomar café da manhã todos os dias com aquele ritual de se sujar com requeijão, só de pensar me da ânsia de vômito.

- Bom, Chloe, apesar de não concordar muito com "felizes para sempre" tenho noventa e nove vírgula nove por cento de certeza que você não vai encontrá-lo nessa garrafa de tequila e muito menos eu outra. E eu sei como é difícil olhar todo mundo com seu "felizes para sempre" enquanto o seu parece estar vindo num bicho preguiça, mas, mulher, levanta daí e vai atrás.

E graças a Deus foi o que ela fez, bebeu o último gole, levantou, ajeitou seu vestido verde, curto e colado e sai para o meio da pista.

Ela estava dançando como uma louca por causa do álcool, mas quem não estava?!

A boate estava realmente cheia e a música muito alta.

Pensei em me juntar a ela na pista de dança, mas não estava no clima de balada e alguém nessa joça de boate precisava ficar sóbria. Afinal, a minha amiga precisava de alguém para levá-la para casa.

Saio de casa em uma noite se semana, ofereço meu ombro amigo, dou concelho, escuto tudo e ainda passo por tudo isso sóbria, eu realmente mereço um prêmio.

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