O último ato é sangrento, por mais suave que seja a peça!
Nos reinados antigos as pessoas lutavam até a morte pelo poder, a soberania sangrenta acontecia a cada década de geração em geração. Pais criavam seus filhos como soldados, e as crianças conheciam desde berço a maldade e a ambição. Coisas como amizade não existia, confiança e laços muito menos, era cada um por si e os espíritos que os abençoassem. Até que a força suprema resolveu intervir, exterminou toda raça do mundo e criou uma nova. Agora o poder estava nas mãos daqueles cujos olhos raros refletiam um oceano inteiro dentro deles, uma família em cada geração, a sua volta estariam as esmeraldas aconselhando e mantendo a ordem da nação, e abaixo o sangue, os soldados que dariam suas vidas em prol de um bem maior.
- A merda com isso! —Murmuro enquanto ouço o senhor da casa contar a história da linhagem para seu neto, ao mesmo tempo que ganho um beliscão doloroso da minha omma.
— Comporte-se Taehyung, precisamos desse dinheiro para viver.
- Você quer dizer "sobreviver", já que temos que escolher entre comer ou estudar e ter um futuro digno.
Eu não entendia como ela consegue sentar a mesa a noite e agradecer aos espíritos por viver uma vida de merda, ela apenas estava grata por esfregar o chão do banheiro alheio porque a cor vermelha de seus olhos lhe diziam ser incapaz de pintar quadros, mesmo que suas pinturas sejam a coisa mais linda e realista que já vi. Meu pai passou a vida servindo a realeza e tudo que conseguiu no final foi uma morte lenta e dois filhos fadados ao mesmo fracasso. O lema da nação é: '' Você acredita, você consegue!", mas estamos sempre tendo que escolher no dia seguinte. Eu poderia limpar mil banheiros consecutivamente, ainda assim não seria suficiente para fazer uma faculdade de fotografia, nem custear o balé da minha irmã. Mas os azuis e verdes ganhavam esse direito de mão beijada e de graça.
— Só tenha um pouco de paciência Tae, a sorte irá sorrir para nós.
- Do mesmo jeito que sorriu ao nos dar dois pares de sangue no meio da cara?
Não esperei que me respondesse, era sempre assim, discutíamos todas as vezes que passávamos mais de meia hora no mesmo cômodo, eu me culpava por descontar nela o que estava fora do seu alcance, entretanto, era algo além de mim, quando dava conta já estava dizendo tudo que tinha no meu coração. Guardei os materiais de limpeza e sai para fora me sentando na calçada afim de fumar um pouco, a raiva era tão palpável que eu poderia acendê-lo só com os pensamentos. Ouço um burburinho ao redor e as pessoas se aglomerando e se debatendo tentando desesperadamente ver a comitiva que se aproxima. Os carros pretos e luxuosos estampam o brasão da linhagem Oceania, as janelas estão abertas para todos verem o mar em seus rostos. No último carro há um garoto de cabelos pretos caindo em seus olhos tão claros que podia jurar ter visto peixinhos nadarem, ele observa curioso a multidão sem denotar qualquer expressão. Suas roupas gritavam: dinheiro. A pele branca e imaculada: riqueza, e eu posso jurar de pés juntos que suas mãos são tão lisas como a seda. Levo meus olhos para as minhas repletas de calos secos, a pele ao redor castigada do sol, me sinto tão injustiçado e puto que levanto de sobressalto atraindo sua atenção para mim. E mais uma vez sem sequer pensar no meu ato eu lhe mando o dedo do meio. De início seus olhos apenas se abrem surpresos, em seguida seus lábios se esticam em um sorriso sapeca. E não para por aí, eu ainda tive a audácia de balbuciar um : " eu te odeio". O que não esperava foi receber de volta: " eu também". Continuando o jogo infantil acrescentei um " babaca" para criar um efeito, em contrapartida, fui chamado de idiota antes que o vidro do carro se fechasse.
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Sangrento (Taekook-Vkook) Hiatus
FanfictionEm um mundo cuja cor dos olhos determina a capacidade, Taehyung luta para manter toda uma linhagem. Azul era a realeza, verde os os nobres de castas, vermelhos os exilados e condenados a uma vida cruel e impura, mas o Kim era o branco, a ausência to...