No aniversário do Nimbus, Titi estava ao fundo da multidão o seguindo com os olhos e tentando encontrar uma brecha pra se aproximar do garoto, só que infelizmente não surgia de jeito nenhum, outras pessoas se aproximavam dele pra conversar e ele fingia estar escutando, mas sua mente só estava no garoto, ele tinha um presente especial para entrega-lo: um par de pulseiras combinando e ingressos pra um show do profissional do ilusionismo preferido de garoto. Ele estava tão ansioso pela reação dele, imaginar o sorrisão que nasceria em seu rosto fazia as borboletas no seu estômago nascerem antecipadamente.
O observou sorrateiramente mais uma vez
E finalmente... seus olhares se encontraram
Mas diferente do que esperava, havia uma expressão triste no rosto do seu amado
Ele parecia angustiado
Não entendia o que estava acontecendo, então dispensou os colegas e foi se aproximando
Seja o que for, aquela era sua chance de tirar aquela carranca e colocar um sorriso no lugar. Estava caminhando em direção ao garoto com um sorriso bobo, passos largos e velozes, quando de repente foi surpreendido, parando a uma distância considerável no meio do caminho.
"EU SOU GAY E CASO NÃO TENHAM PERCEBIDO, O TITI TAMBÉM É"
Todos ali presente imediatamente se viraram pro garoto que estava assustado, foi imediato, sua mão começou a suar, apertando o embrulho do seu presente e seus olhos se arregalaram, seu rosto perdeu a cor, estava tremendo, sentia como se ele fosse uma vidraça de banco que o garoto acabara de quebrar, em pedaços, não tinha coragem de olhar pra multidão a sua volta. Sua cabeça só vinha xingamentos pesados, falas antigas do seu pai que de alguma forma arranjou morada permanente em suas memórias, as surras de quando era jovem o mandando "virar homem", e de como não podia nem chorar ou gritar de dor sem levar outra surra com um cinto mais fino, afinal... Homem não chora, só sofre em silêncio. lembrou-se do que os outros do seu bando tirados a "machos alfa" diziam, ouviu as risadas no fundo do seu inconsciente.
"Hahaha então quer dizer que você é mulherzinha?"
"Mas que bichinha, conseguiu me enganar esse tempo todo"
A sua frágil masculinidade (autoestima) ruiu, juntamente com o seu chão.
"Quê? Eu não sou gay." As palavras saíram sozinhas da sua boca, não sabia o que estava fazendo, sua cabeça só sabia chiar. Nimbus se aproximou pra abraça-lo, mas ele estava sentindo um formigamento estranho e não pode aceita-lo, a própria fricção do tecido da própria roupa com a pele o fazia querer arranca-la de tamanha que era a sua agonia.
"Claro que é, me levou aquela boate" O olharzinho do garoto pra si ao recusar seu toque lhe partiu o coração, mas ali, naquele momento, seus batimentos cardíacos estavam acelerados demais pra pensar direito.
O silêncio mortal instaurado ali fazia tudo soar ainda mais barulhento em sua cabeça, deixando o ar mais pesado e sufocante.
"Porque tocava música maneira" Começou a planejar uma rota de fuga, sentia que iria cair morto a qualquer momento.
"E o nosso acampamento?"
"Só foi pra ver a chuva de meteoros" Deu alguns passos pra trás, querendo preparar impulso pra correr.
"Mas... Você fez amor comigo..." Okay, aquela foi a gota d'água, como iria andar na rua agora? Com que cara ele iria seguir sua vida? Meu deus, e se chegar aos ouvidos do seu pai? Nimbus tentou pegar na sua mão mas ele não viu, seus olhos estavam fixos na porta, caminhando pra trás, respiração desregulada.
"Não-não-não..." Começou a gaguejar, estava perdendo o controle de suas emoções "Na verdade você deu porque você quis" Seu tom de voz se elevou estranhamente do nada, como se ele fosse um garoto na puberdade, se virando de costas, sua visão estava começando a escurecer.
"Não, espera aí..." Não conseguiu continuar ali, saiu correndo mesmo quase não sentindo as pernas. Correu como se sua vida dependesse disso, e na sua cabeça... Dependia mesmo.
Titi correu tanto e tão desesperadamente que quando parou, nem sabia dizer onde estava, se inclinou pra baixo pra respirar, pensava que aquela falta de ar era só cansaço físico, mas leve engano, na mesma hora sua visão ficou turva, quase completamente escura, só com algumas bolinhas ainda revelando algo, caiu no chão. Puxando a argola da sua camisa com força. Sua respiração estava pesada, fazendo um barulho estranho a cada subir e descer dos seus pulmões.
"Homem que é homem pega muita mulher mesmo, tem isso de viadagem não, frescurite e o caralho." As palavras do seu pai ecoavam em sua cabeça.
"E tu lá viu homem ser de uma só? O lance é ter uma que lave, passe e cozinhe pra você lá na sua casa, que te sirva e te obedeça. Qualquer coisa, tu pode até meter uns catiripapos nela, tanto faz. Macho alfa é bicho bruto, sai traçando todas que vê pela frente. Fazer o quê? Tá nos nossos instintos. Deus disse: "crescei e multiplicai-vos né?" hêhêhêhê" Lembrou-se do dia que o flagrou com outra aos amassos, interrompendo e reclamando, mencionando sua mãe. Aquela havia sido a resposta que obtivera do seu velho bêbado, que agiu tranquilo na frente da prostituta e saiu o arrastando, até chegar em casa e levar tanta surra que dessa vez, por mais que se esforçasse, não conseguia "engolir o choro" de jeito nenhum.
Sua mãe só apareceu pra intervir quando era tarde demais, passando o resto da tarde grudada no garoto, lhe dando carinho, querendo entender o que diabos aconteceu. Ele pensou que ela merecia a verdade depois de ser reconfortado, então lhe disse a verdade.
Mas tudo se desenrolou bem diferente do que desejava: gritos e mais gritos pela madrugada, buraco na parede, móveis quebrados, rosto inchado.
Terminaram se mudando com a desculpa de um recomeço. Indo pra um tal de limoeiro. Claro, não houve nenhuma outra mudança em sua vida além do endereço e da forma como foi... aos poucos, se tornando uma cópia quase perfeita do seu próprio carrasco.
Seus olhos se fecharam, encostado naquele poste ligado fora de hora, um poste de luz... O fazia lembrar daquele dia, o fazia pensar nele, a dor que sentia em seu peito era semelhante a sensação de se estar tendo infarto, ataque cardíaco. Com sua mente se exaurindo, aquela cara triste foi a imagem que surgiu na sua mente enquanto tudo ia desaparecendo, o rosto sublime do seu amor a primeira vista, aquele que ele achava que já tinha esquecido, superado lá na infância.
Ah... Como ele era lindo, perfeito em todos os sentidos.
Uma pequena, doce e solitária lágrima finalmente caiu quando o garoto finalmente apagou
Ali, no meio daquela rua vazia.
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Garotos e Garotos (2 temporada)
Romance"EU SOU GAY E CASO NÃO TENHAM PERCEBIDO, O TITI TAMBÉM É" Todos ali presente imediatamente se viraram pro garoto que estava assustado, foi imediato, sua mão começou a suar, apertando o embrulho do seu presente e seus olhos se arregalaram, seu rosto...